4. O perene
anúncio missionário da Igreja é hoje posto em causa por teorias de índole
relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não apenas de facto, mas também de iure (ou de principio). Daí que se considerem superadas, por exemplo,
verdades como o carácter definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo, a
natureza da fé cristã em relação com a crença nas outras religiões, o carácter
inspirado dos livros da Sagrada Escritura, a unidade pessoal entre o Verbo
eterno e Jesus de Nazaré, a unidade da economia do Verbo Encarnado e do
Espírito Santo, a unicidade e universalidade salvífica do mistério de Jesus
Cristo, a mediação salvífica universal da Igreja, a não separação, embora com
distinção, do Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja, a subsistência na Igreja
Católica da única Igreja de Cristo.
Na raiz destas afirmações encontram-se certos pressupostos, de natureza
tanto filosófica como teológica, que dificultam a compreensão e a aceitação da verdade
revelada. Podem indicar-se alguns: a convicção de não se poder alcançar nem
exprimir a verdade divina, nem mesmo através da revelação cristã; uma atitude
relativista perante a verdade, segundo a qual, o que é verdadeiro para alguns
não o é para outros; a contraposição radical que se põe entre a mentalidade
lógica ocidental e a mentalidade simbólica oriental; o subjectivismo de quem,
considerando a razão como única fonte de conhecimento, se sente « incapaz de
levantar o olhar para o alto e de ousar atingir a verdade do ser »;(8)
a dificuldade de ver e aceitar na história a presença de acontecimentos
definitivos e escatológicos; o vazio metafísico do evento da encarnação
histórica do Logos eterno, reduzido a um simples aparecer de Deus na história;
o eclectismo de quem, na investigação teológica, toma ideias provenientes de
diferentes contextos filosóficos e religiosos, sem se importar da sua coerência
e conexão sistemática, nem da sua compatibilidade com a verdade cristã; a
tendência, enfim, a ler e interpretar a Sagrada Escritura à margem da Tradição
e do Magistério da Igreja.
Na base destes pressupostos, que se apresentam com matizes diferentes, por
vezes como afirmações e outras vezes como hipóteses, elaboram-se propostas
teológicas, em que a revelação cristã e o mistério de Jesus Cristo e da Igreja
perdem o seu carácter de verdade absoluta e de universalidade salvífica, ou ao
menos se projecta sobre elas uma sombra de dúvida e de insegurança.
|