19. Afirmar a
relação inseparável entre Igreja e Reino não significa porém esquecer que o
Reino de Deus — mesmo considerado na sua fase histórica — não se identifica com
a Igreja na sua realidade visível e social. Não se deve, de facto, excluir « a
obra de Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja ».(74)
Daí que se deva também considerar que « o Reino diz respeito a todos: às
pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer
e favorecer o dinamismo divino, que está presente na história humana e a
transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob
todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a actuação
do seu desígnio de salvação, em toda a sua plenitude ».(75)
Ao considerar as relações entre Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja hão-de evitar-se sempre as acentuações unilaterais, como são as « concepções que
propositadamente colocam o acento no Reino, auto-denominando-se de “reino-cêntricas”, pretendendo com isso fazer
ressaltar a imagem de uma Igreja que não pensa em si, mas dedica-se totalmente a testemunhar e servir o
Reino. É uma “Igreja para os outros” — dizem — como Cristo é o “homem para os
outros” [...]. Ao lado de aspectos positivos, essas concepções revelam
frequentemente outros negativos. Antes demais, silenciam o que se refere a
Cristo: o Reino, de que falam, baseia-se
num “teo-centrismo”, porque — como
dizem — Cristo não pode ser entendido por quem não possui a fé n'Ele, enquanto
que povos, culturas e religiões se podem encontrar na mesma e única realidade
divina, qualquer que seja o seu nome. Pela mesma razão, privilegiam o mistério
da criação, que se reflecte na variedade de culturas e crenças, mas omitem o
mistério da redenção. Mais ainda, o Reino, tal como o entendem eles, acaba por
marginalizar ou desvalorizar a Igreja, como reacção a um suposto «
eclesiocentrismo » do passado, por considerarem a Igreja apenas um sinal, aliás
passível de ambiguidade ».(76) Tais teses são contrárias à fé católica,
por negarem a unicidade da relação de Cristo e da Igreja com o Reino de Deus.
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