22. Com a vinda
de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o
instrumento de salvação para toda a
humanidade (cf. Act 17,30-31). (90) Esta verdade de fé
nada tira ao facto de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero
respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade
indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que
“tanto vale uma religião como outra” ».(91) Se é verdade que os adeptos
das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se encontram numa
situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm
a plenitude dos meios de salvação. (92) Há que lembrar, todavia, « a
todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir
aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem
a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem,
incorrerão num juízo mais severo ».(93) Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja «
anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a
verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual
os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou
todas as coisas consigo ».(94)
A missão ad gentes, também no
diálogo inter-religioso, « mantém
hoje, como sempre, a sua validade e necessidade ».(95) Com efeito, « Deus
“quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4): quer a salvação de todos
através do conhecimento da verdade. A salvação encontra-se na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito de verdade já
se encontram no caminho da salvação; mas a Igreja, a quem foi confiada essa
verdade, deve ir ao encontro do seu desejo e oferecer-lha. Precisamente porque acredita no plano universal de salvação,
a Igreja deve ser missionária ».(96) O diálogo, portanto, embora faça parte
da missão evangelizadora, é apenas uma das acções da Igreja na sua missão ad gentes.(97) A paridade, que é um pressuposto do
diálogo, refere-se à igual dignidade
pessoal das partes, não aos conteúdos doutrinais e muito menos a Jesus Cristo —
que é o próprio Deus feito Homem — em relação com os fundadores das outras
religiões. A Igreja, com efeito, movida pela caridade e pelo respeito da
liberdade,(98) deve empenhar-se,
antes de mais, em anunciar a todos os homens a verdade, definitivamente
revelada pelo Senhor, e em proclamar a necessidade da conversão a Jesus Cristo
e da adesão à Igreja através do Baptismo e dos outros sacramentos, para
participar de modo pleno na comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Aliás, a certeza da vontade salvífica universal de Deus não diminui, antes
aumenta, o dever e a urgência do anúncio da salvação e da conversão ao Senhor
Jesus Cristo.
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