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Ioannes Paulus PP. II Evangelium vitae IntraText CT - Texto |
« Quem crê em Mim, ainda que esteja morto viverá » (Jo 11, 26): o dom da vida eterna
Umas vezes, Jesus designa esta vida, que Ele veio dar, simplesmente como « a vida »; e apresenta o ser gerado por Deus como condição necessária para poder alcançar o fim para o qual o homem foi criado: « Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus » (Jo 3, 3). O dom desta vida constitui o objecto próprio da missão de Jesus; Ele « é Aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo » (Jo 6, 33), de tal modo que pode afirmar com toda a verdade: « Quem Me segue (...) terá a luz da vida » (Jo 8, 12).
Outras vezes, Jesus fala de « vida eterna », sem querer com o adjectivo aludir apenas a uma perspectiva supratemporal. « Eterna » é a vida que Jesus promete e dá, porque é plenitude de participação na vida do « Eterno ». Todo aquele que crê em Jesus e vive em comunhão com Ele tem a vida eterna (cf. Jo 3, 15; 6, 40), porque d'Ele escuta as únicas palavras que revelam e infundem plenitude de vida à sua existência; são as « palavras de vida eterna », que Pedro reconhece na sua confissão de fé: « Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna; e nós acreditamos e sabemos que és o Santo de Deus » (Jo 6, 68-69). O que seja essa vida eterna, declara-o Jesus quando se dirigiu ao Pai na grande oração sacerdotal: « A vida eterna consiste nisto: que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste » (Jo 17, 3). Conhecer a Deus e ao seu Filho é acolher o mistério da comunhão de amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, na própria vida que se abre, já desde agora, à vida eterna pela participação na vida divina.
Assim, chega ao seu auge a verdade cristã acerca da vida. A dignidade desta não está ligada apenas às suas origens, à sua proveniência de Deus, mas também ao seu fim, ao seu destino de comunhão com Deus no conhecimento e no amor d'Ele. É à luz desta verdade que Santo Ireneu especifica e completa a sua exaltação do homem: « glória de Deus » é, sim, « o homem vivo », mas « a vida do homem consiste na visão de Deus ».
Daqui resultam consequências imediatas para a vida humana em sua própria condição terrena, na qual já germinou e está a crescer a vida eterna. Se o homem ama instintivamente a vida porque é um bem, tal amor encontra ulterior motivação e força, nova amplitude e profundidade nas dimensões divinas desse bem. Em semelhante perspectiva, o amor que cada ser humano tem pela vida não se reduz à simples busca de um espaço onde poder exprimir-se a si mesmo e entrar em relação com os outros, mas evolui até à certeza feliz de poder fazer da própria existência o « lugar » da manifestação de Deus, do encontro e comunhão com Ele. A vida que Jesus nos dá, não desvaloriza a nossa existência no tempo, mas assume-a e condu-la ao seu último destino: « Eu sou a ressurreição e a vida; (...) todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá jamais » (Jo 11, 25.26).