IV.
PATERNIDADE DO BISPO
Bispo e sacerdotes
91. Os nossos
caríssimos sacerdotes têm o direito e o dever de encontrar em vós, veneráveis
irmãos no Episcopado, auxílio valiosíssimo e insubstituível para a observância
mais fácil e mais feliz dos deveres assumidos. Fostes vós que os aceitastes e
destinastes ao sacerdócio, vós quem lhes impusestes as mãos sobre as cabeças,
convosco estão aparentados pela honra do sacerdócio e pela virtude do
Sacramento da Ordem, representam-vos na comunidade dos fiéis, estão unidos a vós,
com magnanimidade e confiança, tomando sobre si, na medida do seu grau, os
vossos encargos e a vossa solicitude. 44 Escolhendo o celibato, eles
seguiram o exemplo dos Prelados do Oriente e do Ocidente, em vigor desde a
antiguidade. E este é novo motivo de comunhão entre o Bispo e o sacerdote, e
deve ser fator propício para essa comunhão ser vivida mais intimamente.
Responsabilidade e
caridade pastoral
92. A ternura
de Jesus pelos seus apóstolos manifestou-se toda, com plena evidência, ao
fazê-los ministros do seu Corpo real e místico (cf. Jo cc. 13-17). Também vós,
em quem "está presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo, Pontífice
Máximo", 45 conheceis o dever de dar o melhor do vosso coração e
da vossa solicitude pastoral aos sacerdotes e aos que se preparam para sê-lo.
46 De nenhum outro modo podereis manifestar melhor esta vossa convicção
do que por meio da responsabilidade consciente e da caridade sincera e
insuperável com que haveis de orientar a educação dos futuros ministros do
altar e ajudar com todos os meios os sacerdotes a manterem-se fiéis à vocação e
ao cumprimento dos próprios deveres.
O coração do Bispo
93. A solidão
humana do sacerdote, lacuna que é a origem não última de tentações e desânimos,
há de ser preenchida sobretudo pela vossa presença ativa, fraterna e amiga.
47 Antes de serdes superiores e juízes dos vossos sacerdotes, haveis de
ser mestres, pais, amigos, e irmãos bons e misericordiosos, prontos para os compreender,
para os desculpar, para os ajudar. Procurai de todos os modos que os sacerdotes
vos dediquem amizade pessoal e levai-os a abrirem-se confiadamente convosco,
sem que esta amizade e confiança suprimam a relação de obediência jurídica;
devem, pelo contrário superá-la dentro da caridade pastoral, para que essa
obediência seja mais voluntária, mais leal e mais segura. A amizade dedicada e
a confiança filial convosco, levarão os sacerdotes a abrir-vos, a tempo, as
suas almas, a confiar-vos as dificuldades, na certeza de poderem contar sempre
com o vosso coração, para nele depositarem mesmo as possíveis derrotas, sem o
temor servil do castigo, mas esperando como filhos, correção, socorro e perdão,
o que os irá estimular a retomarem confiadamente o árduo caminho da vida.
Autoridade e paternidade
94. Todos Vós,
Veneráveis Irmãos, estais certamente persuadidos de que o restituir à alma
sacerdotal a alegria e o entusiasmo pela própria vocação, a paz interior e a
salvação, é ministério urgente e glorioso que tem influxo incalculável numa
multidão de almas. Se em determinado momento fordes obrigados a recorrer à
vossa autoridade e à justa severidade para com os poucos que, contra a vossa
vontade, causam escândalo ao Povo de Deus com a sua conduta, procurai ter em
vista, antes de tudo, a sua recuperação ao tomardes as providências
necessárias. À imitação do Senhor Jesus Cristo, Pastor e Bispo das nossas almas
(1Pd 2,25), não quebreis a cana fendida e não apagueis a mecha que fumega (Mt
12,20). Curai, como Jesus, as chagas (cf. Mt 9,12), salvai o que se tenha
perdido (cf. Mt 18,11), buscai com ânsia e amor a ovelha desgarrada e trazei-a
ao calor do redil (cf. Lc 15,4ss.), procurai, como Ele, até ao fim, chamar uma
vez mais o amigo infiel (cf. Lc 22,48).
Magistério e vigilância
95. Temos a
certeza, Veneráveis Irmãos, que não deixareis de experimentar todos os meios
para cultivar assiduamente no vosso clero, com doutrina e zelo de pastores, o
ideal do celibato, e que não perdereis nunca de vista os sacerdotes que
abandonaram a casa de Deus, que é a sua própria casa, pois eles serão para
sempre vossos filhos, seja qual for o desfecho da sua dolorosa aventura.
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