b) A
comunidade eclesial
A primeira
função vital que brota da liturgia é a
manifestação da comunhão que se vive dentro da Igreja,
como povo reunido em Cristo através da sua cruz, como comunidade em que
toda divisão foi superada para sempre, no Espírito de Deus que
é espírito de unidade (Ef 2,11-22; Gal 3,26; Jo
17, 9-26)
A Igreja se
propõe como o espaço humano de fraternidade em que todo crente
pode e deve fazer experiência daquela união entre os homens e com
Deus que é dom do Alto. Dessa dimensão eclesial são um
esplêndido exemplo os Atos dos Apóstolos, onde é descrita
uma comunidade de crentes profundamente marcada pela união fraterna,
pela partilha dos bens materiais e espirituais, dos afetos e dos sentimentos (At
4,32), a ponto de ser « um só coração e uma só alma
» (At 4,32).
Se toda
vocação na Igreja é um dom a ser vivido para os
outros, como serviço de caridade na liberdade, então é
também um dom a ser vivido com os outros. Por isso, só se
descobre quando se vive em fraternidade.
A fraternidade
eclesial não é apenas virtude comportamental, mas
itinerário vocacional. Só vivendo é possível
escolhê-la como componente fundamental de um projeto vocacional, ou
só saboreando-a é possível abrir-se a uma
vocação que, em qualquer caso, será sempre
vocação à fraternidade.(79)
Pelo
contrário, não pode sentir nenhum atrativo vocacional quem
não experimenta alguma fraternidade e se fecha ao relacionamento com os
outros, ou interpreta a vocação apenas como
perfeição privada e pessoal.
Vocação
é relação; é manifestação do homem
que Deus criou aberto à relação; e mesmo no caso de uma
vocação à intimidade com Deus, na vocação claustral,
implica uma capacidade de abertura e de partilha que só pode ser
adquirida com a experiência de uma fraternidade real. « A
superação de uma visão individualista do ministério
e da consagração, da vida nas comunidades cristãs
isoladas, é uma decisiva contribuição histórica ».
(80)
A
vocação é diálogo, é sentir-se chamado por
um Outro, e ter a coragem de responder-Lhe. Como essa capacidade de
diálogo pode amadurecer em quem não aprendeu, na vida de todos os
dias e nas relações quotidianas, a deixar-se chamar, a responder,
a reconhecer o eu no tu? Como pode se fazer chamar pelo Pai quem não se
preocupa de responder ao irmão?
A partilha com
o irmão e com a comunidade dos crentes se torna, então, estrada
ao longo da qual se aprende a tornar os outros participantes dos
próprios projetos, para acolher em si o plano traçado por Deus.
Plano que será, sempre e de qualquer forma, projeto de fraternidade.
Uma
experiência de partilha da Palavra, apontada por algumas Igrejas
européias, é constituída por centros de escuta,
isto é, grupos de crentes que se encontram periodicamente em suas casas,
para redescobrir a mensagem cristã e trocar as próprias
experiências e os dons de interpretação da mesma Palavra.
Para os jovens,
esses centros têm uma conotação vocacional na escuta da
Palavra que chama, na catequese e na oração vividas de modo mais
pessoal e envolvente, mais livre e criativo. Assim, o centro de escuta se torna
estímulo à corresponsabilidade eclesial, porque ali se podem
descobrir os diversos modos de servir à comunidade e, muitas vezes,
maturar vocações específicas.
Outra
experiência positiva de itinerário vocacional nas Igrejas
particulares e nos vários Institutos de vida consagrada é a comunidade
de acolhimento que realiza o convite de Jesus: « Vinde e vereis ». O Sumo
Pontífice a definiu como « a regra de ouro da pastoral vocacional ». (81)
Nessas
comunidades ou centros de orientação vocacional, graças a
uma experiência muito específica e imediata, os jovens podem fazer
um verdadeiro e gradual caminho de discernimento. São acompanhados, para
que, no momento certo, tenham condição não só de
identificar o projeto de Deus sobre eles, mas de decidir a escolhê-lo
como própria identidade.
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