Cada fase da existência nos oferece seus prazeres.
Em meus tempos de estudante, sentia um particular interesse em fazer a pescaria
de livros raros, nas numerosas casas – então prosaicamente chamadas “sebo” –
que os vendiam em segunda mão.
Ao longo dessas pesquisas não raro me caíam nas mãos
volumes dedicados pelo autor, a este ou àquele amigo, com expressões que
traduziam, ora uma amizade terna ou bombástica, ora um sentimento de mal
disfarçada superioridade, ora por fim o desejo de obter para a obra recém-nascida
as boas graças de algum intelectual ilustre ou de algum crítico perigoso. Nunca
fui propenso a colecionar autógrafos. Por isto, repunha na estante o volume,
quando não me interessava. Mas me perguntava a mim mesmo: o que dirá o autor,
se cá vier comprar livros, e vir que seu amigo vendeu assim por uns magros
cruzeiros (mil-réis, dizia-se então) não só a obra como a dedicatória, não só a
dedicatória como, em última análise, também a amizade?
E daí me vinha, com um sobressalto, outra idéia. Se eu
algum dia escrever um livro, e encontrar dele algum exemplar com dedicatória, à
venda em algum “sebo”, o que farei? Parecia-me que a melhor solução para evitar
tão humilhante eventualidade, era a que vim a adotar: não publicar livro algum…
Recordava-me destas apreensões da juventude, ao
coordenar idéias para o presente artigo. E dizia de mim para mim que este é um
dissabor de que o autor de “Em Defesa da Ação Católica” está bem livre.
Com efeito, esgotada de há muito a edição de sua obra,
grande para aqueles tempos (2.500 exemplares), e não tendo como atender à
contínua solicitação de pessoas interessadas, chegou o Dr. Plinio Corrêa de
Oliveira a organizar por meio de alguns amigos, entre os quais eu, uma pesquisa
em regra nos “sebos” de São Paulo e de outras cidades, na esperança de
readquirir alguns volumes. A pesquisa se revelou inteiramente infrutífera. O
Autor foi então ao extremo de pedir através de anúncio na imprensa que alguém
lhe fizesse a gentileza de vender de segunda mão um exemplar de “Em Defesa da Ação
Católica”, e não foi atendido.
De sorte que nada é mais
improvável do que deparar ele em algum “sebo” com um volume de sua obra.
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