Ressalvas
importantes
a)- quanto às intenções com que muitas pessoas defendem estes erros.
Desobrigamo-nos de um grave dever de
justiça ao afirmar que, se muitas vezes é o velho espírito de revolta que
desponta através das afirmações mprudentes sobre a A. C., não é raro notar-se
que, em certos espíritos, é um generoso desejo de santificação e de conquista,
que as dita. Por muito tempo, a infiltração dos princípios liberais, em certos
círculos do laicato católico, produziu devastações tão profundas, que todas as
almas zelosas conservaram um explicável horror a essa época. A defesa e
expansão dos princípios católicos era tida como tarefa exclusiva do Clero,
julgando muitos leigos que agiam de modo admiravelmente correto limitando-se a
dar um cumprimento estritamente literal às obrigações mais essenciais impostas
pelas Leis de Deus e da Igreja. Daí, o se ressentirem, muitas vezes, as
associações religiosas de uma atonia crônica, que as imergia na mais lamentável
rotina; e todo este quadro oferecia um desconcertante contraste com a audácia
conquistadora dos filhos das trevas, sob cujos esforços empreendedores cada vez
mais vergavam, se diluíam, se amalgamavam com mil erros as tradições cristãs,
cedendo o passo a uma ordem de coisas inteiramente pagã.
Foi, pois, muito explicável a
total desprevenção de espírito, com que certas almas, zelosas da glória de
Deus, acolheram a perspectiva de uma participação dos leigos nos cargos ou
funções hierárquicas, reforma estrutural que parecia destinada a fazer ruir por
terra toda a herança do laxismo religioso, interessando diretamente os leigos
na obra da Hierarquia, e comunicando, com isto, louvável incremento ao
apostolado leigo.
O grande erro de nossa época
consistiu precisamente em atribuir demais eficácia às reformas estruturais e
jurídicas, supondo que elas poderiam operar, por si sós, o reerguimento de uma
civilização que desaba. Na esfera
politica, pretendeu-se corrigir o liberalismo por meio da ditadura. Na esfera
econômica, pretendeu-se corrigi-lo pelo corporativismo de Estado. Na esfera
social, pretendeu-se coibi-lo com regulamentos policiais. E a despeito disto,
ninguém ousará pretender que as condições contemporâneas sejam mais prósperas,
mais tranqüilas e mais felizes, do que as da era vitoriana, em que o
liberalismo atingiu seu apogeu.
Pretendendo corrigir o mal, a ineficácia radical dos remédios
conduziu-nos a males ainda maiores. Precisava-se de uma reforma de
mentalidades; e a reforma das leis, mostrando-se vã, tornou ainda mais patente
a ação perigosíssima dos remédios errados, sobre doentes ameaçados de morte. O
liberalismo era um mal: o totalitarismo é uma catástrofe.
O remédio dos males que, com mais generosidade do que clarividência,
muitos elementos procuram combater por meio da doutrina do mandato, é muito
mais fácil de se encontrar em uma instrução religiosa metódica e segura, uma
formação espiritual generosa e sedenta de sacrifício. Para dizer tudo em uma palavra,
não é em reformas estruturais que devemos depositar nossas mais ardentes
esperanças de santificação e de conquista. Se
em cada diocese ou em cada paróquia houvesse um grupo, pequeno embora, de
leigos capazes de compreender e de viver o livro de D. Chautard, "A alma
de todo apostolado", seria outra a face da terra.
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