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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • SEGUNDA PARTE   A A. C. e a vida interior
    • CAPÍTULO II   Semelhança com o "modernismo"
      • Dando uma formação litúrgica errônea
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Dando uma formação litúrgica errônea

 

É vão, e destoa dos ensinamentos da Igreja, o propósito de ver na Sagrada Liturgia uma fonte de santificação automática, que dispensa o homem de qualquer mortificação, do esforço da vida interior, da luta contra o demônio e as paixões. Com efeito, por mais eficaz que seja a oração oficial da Santa Igreja e por mais superabundantes que sejam os méritos infinitos da Santa Missa, é necessário que os homens completem, cada qual em sua própria carne, a Paixão de Jesus Cristo, já que, tendo embora o Senhor Jesus sofrido por nós, nem por isto estamos isentos de chorar e expiar nossas faltas, nem autorizados a expiá-las com negligência" – (Pio XI, Enc. citada). Seria interessante ler ainda, a este respeito a citação da obra do Padre De La Taille, que fazemos na pag. 185.

É óbvio que, pondo em circulação semelhantes idéias, com que ousamreformar”, servidos por seus métodos de propaganda eficacíssimos, o conceito da piedade cristã e uma de suas mais salientes caraterísticas, que é o amor ao sofrimento, tais elementos da A. C. causam, ainda que sem o saber, um mal muito maior à Igreja do que inimigos declarados; e precisamente por isto, a eles se aplica o que dos modernistas disse Pio X: "Falamos, veneráveis irmãos, de um grande número de católicos leigos... que, sob pretexto de amor à Igreja, absolutamente faltos de filosofia e teologia sérias, impregnados, pelo contrário, até à medula dos ossos, de erro... se colocam, violando, assim, toda a modéstia, como renovadores da Igreja" (Pio X, Enc. citada).

Com efeito, que haverá mais típico de um reformador do que, pela pretensão de escoimar da Igreja germes de liberalismo que nela se teriam esgueirado, destruir métodos consagrados, instituições cumuladas de bênçãos da Igreja, práticas de piedade aprovadas pelos mais augustos atos da Autoridade, e sobre tantas ruínas assentar as bases de nova vida espiritual fundada em uma concepção inteiramente diversa e "reformada" das relações entre a graça e o livre arbítrio humano? No fundo, como dissemos, todo o objetivo destes esforços consiste em um afrouxamento da vida interior.

Ora, Leão XIII disse que "o cristão deve adaptar-se a uma grande paciência, não só de vontade, mas ainda de espírito. Quereríamos que disto se lembrassem as pessoas que imaginam e abertamente preferem, na profissão do oristianismo, uma regra de pensamento e de ação cujas leis fossem muito mais dóceis, muito mais indulgentes para a natureza humana, impondo-lhe pouco ou nenhum sofrimento. Eles não compreendem suficientemente o espirito da e das instituições cristãs; eles não vêem que de todos os lados, se nos apresenta a cruz, como modelo de vida e estandarte dos que quiserem seguir Jesus Cristo, não apenas de nome, mas ainda por meio de atos reais" (Leão XIII, Encl. "Tametsi Futura Prospiscientibus", de 1 de Novembro de 1900). Completando este pensamento, disse ainda o mesmo Pontífice: “A perfeição da virtude cristã é a generosa disposição da alma que procura as coisas árduas e difíceis”. (Leão XIII, Encl. "Auspicato Concessum", de 17 de Setembro de 1882).

E Pio XI escreveu: – "A este respeito não ignoramos que certos educadores da juventude, assustados com depravação atual dos costumes, pensaram que seria indispensável inventar novos sistemas de instrução e de educação. Mas a estes homens quereríamos fazer compreender que não seria possível obter com isto vantagem para a sociedade se deixassem de lado os métodos e a disciplina hauridos nas fontes da sabedoria cristã, consagrados pela longa experiência dos séculos e de que Luiz Gonzaga experimentou sobre si mesmo a perfeita eficácia, isto é, a viva, a fuga das seduções, a moderação e a luta contra os apetites, uma piedade ativa para com Deus e a Santa Virgem, uma vida enfim freqüentemente entretida e fortificada pelo alimento celeste" (Pio XI, Carta Apostólica "Singulare Illud", de 13 de Junho de 1926. – Os grifos são nossos).

A luta interior ativa e diligente, contra as paixões, é sempre “condição de santificação e até da salvação”. Di-lo o Espírito Santo: – Não te deixes ir atrás das tuas paixões, e refreia os teus apetites. Se condescenderes com tua alma no que ela deseja, ela fará de ti a alegria de teus inimigos". – (Eclesiástico, XVIII, 30-31).

Não podemos, pois, consentir que essa condescendência se apodere da A. C.. Bem sabemos que nossas afirmações espantarão. Com efeito, muitos destes elementos, como os modernistas, causam impressão por um teor de vida em que até suas virtudes privadas servem à difusão de seus erros. "Levam uma vida toda de atividade, e um ardor singular em toda a espécie de estudos, costumes recomendáveis ordinariamente por sua severidade." (Pio X, Enc. citada). Entretanto, as idéias que propagam, os conselhos que dão, não são bons.

Não quereríamos terminar este capítulo sem uma observação que nos parece importante. Uma outra manifestação curiosa do espírito frívolo e sensual de nossa época, e do modo por que ele se amalgama, em muitas mentalidades, com os princípios e convicções religiosas, tendendo a produzir uma piedade toda eivada de laxismo e comodismo, está na preocupação de suscitar, a toda hora, devoções novas ou antigas, a este ou aquele santo, a esta ou aquela perfeição de Deus, a este ou aquele episódio da vida do Redentor, atribuindo sempre a esta devoção o efeito mágico, e por assim dizer mecânico de resolver todos os problemas religiosos contemporâneos. No século passado, Monsenhor Isoard, Prelado francês, publicou sobre este assunto palavras de ardente e profunda análise, em que mostrava que a Deus agrada sobretudo "um coração contrito e humilhado", e que a penitência do pecador é indispensável para conciliar as graças de Deus.

Também Pio XI, em forte alocução, se queixou das imposições tirânicas de muitas pessoas, que escreviam ao Papa sugerindo-lhe, pedindo-lhe e quase ameaçando-o que acedesse em salvar a Igreja por esta ou aquela devoção nova. Foi este sentimento profundo de horror à mortificação que acabou por gerar a doutrina da ação mecânica e mágica da Liturgia.

 

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