c) – quanto a
promover íntimo convívio entre seus membros e possuir sede recreativa.
Também não é verdade
ser censurável que uma associação católica possua sede com finalidade
recreativa, na qual congregue seus membros em horas de lazer. O princípio que
justifica esta prática é, em última análise, fundado na natural sociabilidade
humana. Afirma-nos a filosofia que a natureza do homem tende a fazê-lo viver na
companhia de seus semelhantes. É inerente à sociabilidade, ao menos para a
imensa maioria dos homens, a tendência de freqüentar um ambiente que esteja de
acordo com seus gostos, inclinações e idéias. Qualquer sociologia elementar
contém esta regra, e basta observar o móvel que inspira a constituição da
generalidade das associações profanas de qualquer natureza para que isto fique
demonstrado. Reciprocamente, se o homem não freqüenta um ambiente conforme às
suas convicções, a sociabilidade o leva a se adaptar ao meio em que se
encontra, assimilando-lhe, tanto quanto possível, o modo de pensar e de sentir,
ou, quando nada, estabelecendo interiormente certos “arranjos”, que terão como
conseqüência final uma adaptação completa. Assim, parafraseando Pascal,
poder-se-ia dizer que constitui para a imensa maioria uma inclinação imperiosa
"conformar as idéias com o ambiente quando o ambiente não se conforma com as
idéias". Obrigados pelas múltiplas necessidades domésticas, econômicas,
etc., a freqüentar os mais variados ambientes, e a viver a maior parte de seu
dia em atmosferas cada vez mais profundamente empestadas de paganismo, os
católicos contemporâneos não se devem limitar a uma atitude meramente
defensiva, mas, pelo contrário, devem desfraldar por toda parte, e com ufania,
o estandarte de Cristo. É este o "apostolado no meio", tão insistente
e energicamente apregoado por Pio XI. Só uma pessoa absolutamente ingênua, por
jamais ter freqüentado certos ambientes profissionais ou domésticos de nossos
dias, ou por jamais ter desfraldado em tais ambientes, com sincera e valorosa
intrepidez, o estandarte de Cristo, pode ignorar a energia sobre-humana que uma
tal linha de conduta impõe. Conhecemos o caso concreto de um jovem que teve de
chegar ao emprego da força física para conservar sua pureza em um ambiente que,
em si mesmo, seria inofensivo. Ora, é humano, é natural, é imperioso que os
entusiasmos desgastados pela luta, as energias depauperadas no combate sejam
reparadas pela freqüência de um ambiente bom, onde as almas se podem expandir e
refazer à sombra da Igreja, e onde a recíproca edificação possa restaurar as
forças de todos.
Seria falso supor que,
assim, os católicos se afastam do mundo e deixam de cumprir seu dever de
apostolado. É precisamente para que eles cumpram melhor tal dever, que se
organizam para eles esses centros de distensão e restauração de forças:
"Certamente, deve
o sal ser misturado à massa, que ele deve preservar da corrupção. Mas, ao mesmo
tempo, deve defender-se contra ela, sob pena de perder seu sabor e de não
servir senão para ser atirado fora e calcado aos pés". (Leão XIII, Encl. "Depuis le
jour", de 8 de Setembro de 1899). Tão importante é esta verdade, que a
Igreja, sempre sábia, não se contentou em dar sua melhor aprovação a
iniciativas como estas, mas de certa maneira levou ao máximo sua confiança na
ação dos ambientes bons e seu temor dos ambientes maus, ao excluir inteiramente
do convívio do século aqueles que destina à milícia sacerdotal. O Direito
Canônico chega a recomendar ao Bispo que empenhe o melhor de seus esforços para
que os próprios Sacerdotes seculares residam em comum sempre que possível. Qual
a razão desta providência, senão evitar para os próprios Sacerdotes os
inconvenientes de ambientes maus, ou ao menos tíbios? E, se esta precaução
existe para almas tão fervorosas, dotadas de tão especial graça de estado, que
dizer-se de simples leigos?
Isto posto, não só entendemos que a A. C. pode mas até que ela deve lançar
mão deste esplêndido processo de formação, que ninguém pode atacar sem
temeridade.
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