Brandura e
persuasão, antes de tudo
É evidente que,
consistindo o apostolado da Igreja, essencialmente, em uma ação que visa ao
mesmo tempo pregar uma doutrina e educar as vontades na prática desta doutrina,
todo o apóstolo, seja ele Bispo, Sacerdote ou leigo, deve preferir acima de
tudo os processos que obtenham uma plena elucidação das inteligências, e a
adesão espontânea e profunda da vontade. É para este fim, que devem concorrer os melhores
esforços de qualquer pessoa que se dedique ao apostolado. Para chegar à maior
perfeição no emprego de todos os métodos capazes de conduzir a uma finalidade
tão desejável, o zelo dos apóstolos deve saber multiplicar indefinidamente os
expedientes de sua indústria, e sua paciência deve estender com imensa
amplitude a ação da caridade e da benignidade a todos aqueles junto a quem o
apostolado se faz.
Por isto, julgamos altamente censurável que certos apóstolos leigos façam,
dos meios exclusivamente penais ou coercitivos, seu processo educativo a bem
dizer único. Jamais se nota neles um esforço sério e persistente, no sentido de
explicar, esclarecer, ou definir certas verdades, com o objetivo de firmar
convicções profundas e estruturar princípios vigorosos. Jamais se nota neles
qualquer esforço para resolver por uma ação pessoal toda ela feita de doçura e
de caridade, os problemas morais que se mostram de modo às vezes dramático, em
almas rebeldes à ação do apóstolo. Uma punição,
e está tudo acabado: é nisso que se cifra a pedagogia simplista de muito
apóstolo, de muito educador. Não é preciso qualquer argumento para provar aos
espíritos de bom senso como estão distantes estas práticas do pensamento da
Igreja e do regime moral instaurado com a lei da graça, no ambiente dulcíssimo
da Nova Aliança. Jamais seríamos nós que haveríamos de cerrar fileiras em torno
desses processos educativos sombrios, mais próprios do jansenismo, do que do
Catolicismo.
Esse erro taciturno
nada tem de comum com as doutrinas que aqui refutamos, as quais pecam
precisamente pelo extremo oposto. No entanto, quisemos declarar explicitamente
nossa condenação formal, categórica e decidida a certo pedagogismo ou a certos
processos de apostolado exclusivamente consistentes na truculência, afim de que
jamais se suponha que, condenando o extremo oposto, queremos de qualquer
maneira, direta ou indiretamente, explicita ou implicitamente, advogar a causa
dessa pedagogia sombria, que deixou ainda sequazes entre nós, mas cuja época,
indiscutivelmente, já passou.
Na realidade, porém, e
precisamente porque a época desse pedagogismo sombrio já passou, o mal mais
atual, mais premente, mais ruinoso, em todos os ambientes em que se faz
apostolado leigo, consiste no extremo oposto. As novas doutrinas concernentes à
Ação Católica vieram reforçar ainda mais os acentuadíssimos exageros que se
notavam neste sentido.
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