Meio termo
impossível
Mas, não poderia a A.
C. ser ao mesmo tempo um movimento de massa e de elite, no sentido de conter em
seu grêmio, indistintamente, valores espirituais de primeira categoria e uma
grande multidão de outros, medíocres ou tíbios?
Consideramos tão
infundada a opinião dos que entendem que a A. C. deve ser franqueada até aos
elementos que vivem habitualmente em estado declarado de pecado mortal, que é
supérfluo discutí-la.
Sustentamos, porém,
ainda, que da A. C. não devem fazer parte todos os católicos, que cumpram as
mais elementares exigências da lei de Deus e da Igreja, mas somente aqueles
que, por sua assídua freqüentação dos Sacramentos, vida modelar e atitudes
edificantes, realmente constituem um escol.
Assuntos como estes
não devem ser resolvidos de modo puramente teórico, mas com os olhos postos na
realidade concreta. E a primeira lição que esta realidade nos oferece consiste
em que ninguém, ou quase ninguém, em nossos dias, consegue manter-se na
prática, ainda mesmo mínima, dos mandamentos da Lei de Deus, se não se
aproximar assiduamente dos Santos Sacramentos. Esta verdade vale para quase
todas as idades e condições. Tome-se um jovem, um estudante por exemplo,
meça-se a violência da luta que ele deve desenvolver para vencer o tumulto das
paixões, as mil e uma solicitações para o mal que a todo o momento lhe vêm dos fatores
de corrupção modernos, e pergunte-se se, sem uma vida eucarística real, ele
pode vencer o combate. O chefe de família, que tão freqüentemente deve optar
entre transações desonestas ou a miséria para o lar, a mãe de família que
tantas vezes cumpre com o risco da vida o dever da maternidade, podem dizer
melhor do que ninguém se, com uma simples comunhão anual, cumpririam seus
deveres.
Assim, é simplesmente
temerário afirmar que a mera prática anual dos deveres impostos pela Igreja é
critério para diferenciar o católico, que pode ser apóstolo por estar na posse
habitual do estado de graça, do que não o é.
Conclui-se daí que,
tomando a A. C. por critério de seleção a simples prática da Comunhão e
confissão anuais, não poderá preservar-se de ser transformada em uma dessas
multidões inexpressivas que, por vezes, são muito mais difíceis de fazer
fermentar, do que se possa imaginar.
A isto acresce que,
como já dissemos em capítulo anterior, um dos mais importantes deveres que
tocam a A. C. é, sem dúvida, o de proporcionar aos seus membros, e, muito
particularmente, aos jovens, uma sede social para as horas de lazer. Se a A. C.
não quiser fracassar, deverá lançar mão necessariamente deste meio de ação, do
qual, com o nome de "Dopolavoro" e "Kraft durch Freude" tanto
proveito tiraram o Fascismo e o Nazismo. É esta a grande alavanca de que se
serve a mística totalitária. Ora, imagine-se que ambiente de tintas diluídas,
que ambiente perigoso por vezes, seria a sede da A. C,. em uma paróquia em que
todos os católicos de Comunhão e Confissão anuais fossem admitidos em seus
quadros. Consciências laxas, eivadas de naturalismo e da infiltração de tantos
erros do século, espíritos minimalistas e acomodatícios, tais elementos só
serviriam para constituir um ambiente irrespirável, que tornaria nociva ou
estéril qualquer iniciativa para o soerguimento das almas.
Como conseqüência, é
bem patente que só podem fazer parte da A. C. elementos de escol, assim
considerados segundo o melhor critério, que é sempre a vida modelar, ligada à
prática assídua – e quanto mais assídua melhor – dos Sacramentos.
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