Uma solução
simplista
Também não nos parece
que estejam com a verdade os espíritos que, levados por um louvável desejo de
conciliação, procuram delimitar os campos entre a A. C. e as associações
auxiliares, atribuindo àquela o monopólio do apostolado, e a estas a única
tarefa da formação interior e cultivo da piedade. São inúmeros os textos
pontifícios que facultam expressamente à A. C. o direito, e, mais ainda, lhe
impõem o dever de formar os seus membros. Ora, este dever implica na de formar
e estimular a piedade, sem o que nenhuma formação pode ser considerada
completa. Por outro lado, não é verdade que os estatutos das associações
religiosas lhes atribuem, por objetivo, exclusivamente a piedade. Pelo
contrário, a grande maioria deles encaminha, incita e algumas chegam até a
impor o apostolado a seus membros; e muitas associações mantêm suas próprias
obras de apostolado, aliás em geral florescentes. Em sua carta, acima citada,
ao Em. Cardeal Leme, o Santo Padre Pio XII tem expressões que tiram à
semelhante opinião, não só seu fundamento, mas ainda toda e qualquer espécie de
aparência de verdade, pois o Santo Padre afirma taxativamente que deseja ver as
Congregações Marianas entregues ao apostolado exterior e social, e não apenas
ao campo da piedade e da formação.
Diz o Santo Padre que
apreciou muito o ramalhete espiritual dos congregados, mas que por maior que
tivesse sido esse júbilo, "maior ainda foi a sua satisfação ao saber que
as valorosas Falanges Marianas são cooperadoras eficazes na propagação do Reino
de Jesus Cristo e que exercem fecundo apostolado, por meio de múltiplas obras
de zelo". Assim, pois, as obras de apostolado exterior a que presentemente
as Congregações Marianas se entregam não são consideradas pelo Santo Padre um
terreno em que elas sejam intrusas, em que se possam quando muito tolerar em
falta de melhor: o Vigário de Cristo sobre a terra se rejubila com o fato, e
implicitamente afirma que elas têm a isto pleno, amplo e total direito.
Comprova-o o período seguinte: "isto vem confirmar-Nos ainda mais uma vez,
que estas Falanges Marianas ocupam, segundo suas gloriosas tradições, sob as
ordens da Hierarquia, um conspícuo lugar no trabalho e na luta pela Maior
Glória de Deus e bem das almas. Em outros termos, fazendo tudo quanto fazem
presentemente, estão apenas na situação “conspícua” que a tradição lhes
indicou, e essa situação "conspícua" nenhuma alteração sofreu com fatos
supervenientes como, por exemplo, a constituição da Ação Católica.
Houve quem sustentasse
que as Congregações Marianas têm uma estrutura jurídica que as torna radical e
visceralmente incapazes de apostolado em nossos dias. Supérfluo acentuar até
que ponto a Carta Apostólica desautoriza esta gratuita e infundada afirmação.
Outros têm pretendido que as Congregações ocupam no Brasil um lugar por demais
grande, roubam à A. C. o lugar que lhe é devido. De nenhum modo, se dá tal
coisa, já que o Pontífice se rejubila com a magnitude desse papel e acrescenta
a expressão de seu grande contentamento pelo fato que elas "ocupam um
lugar conspícuo", segundo está informado, no trabalho e na luta para a
Maior Glória de Deus e bem das almas, e que são, como força espiritual, de grande
importância para a causa católica no Brasil. Que informação teve o Sumo
Pontífice para chegar a tal afirmação? Foram as mais autorizadas e imparciais,
e é Ele mesmo que no-lo diz: “com tanto entusiasmo publicamente o tens
manifestado em repetidas ocasiões, dileto Filho Nosso bem como também o têm
feito outros Veneráveis Irmãos no Episcopado”. Em outros termos, é toda a
Hierarquia Católica que o afirma, que o aplaude, que o sanciona. Quem quererá
discrepar?
Mais adiante, o Santo
Padre insiste: “uma sólida formação espiritual e uma intensa e fecunda
atividade apostólica são elementos ambos essenciais a toda Congregação
Mariana”. Como pretender, então, que as próprias Regras das Congregações
confinam esses sodalícios no mero terreno da piedade? Mas, dir-se-á, o Santo
Padre, apreciando a situação atual gostaria talvez que as Congregações Marianas
não aumentassem seu raio de ação.
Não é verdadeira essa
conjetura, e menos verdade ainda é que o Santo Padre deseja que as Congregações
morram a fogo lento.
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