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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • TERCEIRA PARTE   Problemas internos da A. C.
    • CAPÍTULO III   As Associações Auxiliares - O "Apostolado de conquista"
      • A ordem na caridade manda que
        • a) -- acima de tudo cuidemos da santificação e perseverança dos bons.
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a) -- acima de tudo cuidemos da santificação e perseverança dos bons.

 

Passemos a justificar a primeira proposição. A simples análise do dogma da Comunhão dos Santos já nos oferece para tal, um argumento precioso. Há uma solidariedade sobrenatural no destino das almas de forma que os méritos de umas revertem em graças para outras, e, reciprocamente, a alma que deixa de merecer, depaupera todo o tesouro da Igreja. Ouçamos a este respeito a admirável lição de um mestre. O R. P. Maurice de la Taille, no seu conhecido tratado sôbre o Santíssimo Sacrifício e Sacramento da Eucaristia, à pág. 330-1 observa que “a devoção habitual da Igreja jamais desaparece, pois que Ela jamais perderá o Espírito de Santidade que recebeu; pode não obstante esta devoção, na variedade dos tempos, ser maior ou menor". E aplicando este princípio ao Sacrossanto Sacrifício da Missa, acrescenta: "Quanto maior for ela, mais aceitável será sua oblação. Eis, pois, que é de suma importância existirem na Igreja muitos santos e muito santos; nem nunca jamais se deve poupar ou impedir que os varões religiosos e mulheres envidem esforços para que cada dia cresça o valor das Missas e se torne mais potente aos ouvidos de Deus a voz indefectível do Sangue de Cristo que clama da Terra. Pois que nos altares da Igreja clama o Sangue de Cristo, mas pelos nossos lábios e coração: tanto quanto se lhe abrir o vigor de vociferar" (apud Filograssi, Adnotationes in SS. Euchaaristiam, pg. 1115-6).

A vista disto, não é difícil verificar que, no plano da Providência, a santificação das almas boas ocupa um papel central na conversão dos infiéis e pecadores. Eclesiásticos ou leigos, são tais almas de certa forma "o sal da terra e a luz do mundo". É neste sentido que se deve afirmar que as Ordens Contemplativas são de grande utilidade para toda a Igreja de Deus. Ora, o mesmo se deve dizer das almas santas, que vivem vida de apostolado no século. Ai! das coletividades cristãs onde se apaga a luz da prece das almas justas e decai o valor expiatório dos sacrifícios. Narra D. Chautard que o simples estabelecimento de conventos contemplativos e reclusos, em zonas missionárias, opera maravilhas. É, em última analise, da santidade que depende a vitória da Igreja na grande luta em que está empenhada. Uma só alma verdadeiramente sobrenatural que, com os méritos de sua vida interior torne fecundo seu próprio apostolado, conquista para Deus muito maior número de almas do que uma legião de apóstolos de medíocre vida de oração.

Esta verdade é de aceitação corrente para o que diz respeito ao Clero. Por mais importante que seja o problema das vocações sacerdotais, jamais se igualará à obra da santificação do Clero. Em nenhum país do mundoquestão tão importante. E, implicitamente, em matéria de apostolado leigo o mesmo princípio se impõe. Se é mais importante haver um grupo de apóstolos sacerdotais verdadeiramente santos, do que um Clero numeroso, há de ser logicamente mais importante haver um grupo de apóstolos leigos verdadeiramente interiores, do que uma inútil multidão de membros da A. C.. Se para o Clero o problema máximo é a santificação cada vez maior de seus membros, para a A. C., que é sua humilde colaboradora, não pode haver maior desejo do que a santificação de seus membros e de todas as almas piedosas na Igreja de Deus.

Há um flagrante naturalismo em imaginar que a Igreja lucraria com o aumento de atividade apostólica de seus membros, em detrimento de sua vida de oração. É muito mais à oração das almas verdadeiramente unidas a Deus, do que às atividades externas, sempre úteis e louváveis contudo, que a Igreja deve seus melhores louros. Dí-lo Leão XIII, na Encíclica "Octobri Mense", de 22 de Setembro de 1891:

"Se se pergunta porque a perfídia dos maus não chega a obter a plena realização de seus propósitos; porque, pelo contrário, a Igreja, através de tantos acontecimentos desfavoráveis, conservando sua grandeza e sua glória intactas, se eleva sempre e não cessa jamais de progredir, é legitimo procurar a causa principal de um e outro fato na força da oração da Igreja sôbre o coração de Deus; de outra maneira, com efeito, a razão humana não pode compreender como o poder da iniqüidade esteja contido dentro de tais limites, enquanto a Igreja, reduzida à extremidade, triunfa, entretanto, tão magnificamente."

Em outro passo da mesma encíclica, diz ainda o Papa:

"As orações, pelas quais suplicamos a Deus que proteja sua Igreja, unidas aos sufrágios dos Santos do céu, Deus as atende sempre com a maior bondade, tanto as que se referem aos interesses maiores e imortais da Igreja, quanto as que visam benefícios menores, próprios à época presente, mas em harmonia com os primeiros. Com efeito, a estas orações se acrescentam o poder e a eficácia das orações e dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pontífice supremo, santo, inocente, sempre vivo para interceder por nós".

E o Santo Padre acrescenta: "Ver-se-á um dia que é graças à oração, que, no meio de um mundo depravado, muitos conseguiram preservar intactas suas almas, limpas de toda mácula na carne e no espirito, realizando sua santificação no temor de Deus; que outros, no próprio momento em que se iriam entregar ao mal, contiveram-se repentinamente e encontraram, no próprio perigo e na tentação, um feliz acréscimo de virtude; que outros, enfim, tendo sucumbido, sentiram na alma uma certa solicitação para se reerguerem e se atirarem ao seio do Deus de misericórdia".

Se, do ponto de vista da Comunhão dos Santos, é esta a conclusão a que devemos chegar, o que a Teologia nos diz, por outro lado, da essência do apostolado, nos conduz à conclusão idêntica. Como já tivemos ocasião de dizer, o apóstolo é mero instrumento de Deus, e a obra de santificação das almas ou de sua conversão é essencialmente sobrenatural e divina (Cfr. S. T. Ia., IIae.; q. 109. aa. 6, 7). “Ninguém pode vir a mim se meu Pai, que me enviou, não o atrair”, disse N. S. (J., 6, 44). Ora, Deus não se serve, senão raramente, para tão augusta tarefa, de instrumentos indignos, e a pergunta da Escritura "ab immundo, quid mundabitur?" não exprime apenas a incapacidade natural e psicológica do apóstolo indigno em produzir obras fecundas, mas ainda a repugnância que sente Deus, em se servir de elementos tais, para por meio deles operar os mistérios augustíssimos da regeneração das almas.

Não se pense, porém, que só o pecado mortal é nocivo à fecundidade da obra do apóstolo. Também os pecados veniais e até as simples imperfeições diminuindo a união das almas com Deus, minguam as torrentes de graças de que elas deveriam ser canais. Quanta e quanta obra louvável por aí se arrasta, às voltas com mil dificuldades; lutam em todos os terrenos os seus generosos diretores, sem conseguir qualquer resultado e com isto ficam afastadas centenas ou milhares de almas, que nos desígnios da Providência se deveriam salvar por meio desta obra. E, enquanto contra todas as dificuldades se quebram os mais heróicos esforços, não percebem os seus diretores que a fonte dos malogros é outra. "Venti et mária oboediunt ei", diz de Jesus a Escritura, e por certo poderiam sob seu império ruir todos os obstáculos. Mas os intermediários da graça divina, conquanto zelosos, têm esta ou aquela infidelidade que os afasta de Deus. E Jesus espera da renúncia a algum sentimentalismo por demais vivaz, a algum amor próprio por demais pontiagudo, a desobstrução dos canais da graça. O que parecia uma questão de dinheiro ou de influência social é, não raras vezes, uma questão de generosidade interior, em uma palavra, uma questão de santificação.

No livro de Josué, Cap. VII, encontra-se uma narração altamente significativa a esse respeito. Acan tomou para si, entre os despojos da cidade de Jericó, alguns objetos de valor, se bem que esta ação fosse ilícita, porque os objetos estavam atingidos pelo anátema, com que Deus fulminara Jericó. Este simples fato bastou – um homem em todo um imenso exército trazia entre outros objetos de bagagem alguns que eram malditos – para que as forças hebraicas fossem inexplicavelmente e estrondosamente derrotadas no ataque à pequena cidade de Hai. Deus revelou então a Josué que as armas hebraicasretomariam seu curso vitorioso quando Acan fosse exterminado com tudo o que possuía. Sôbre seus restos mortais se ergueu um monumento de maldição e só assim se apartou de Israel o furor do Senhor: imagem eloqüente do mal que a toda uma organização pode fazer um só apóstolo leigo, que conserve em sua alma qualquer apego culposo a seus pecados ou imperfeições.

Tudo isto posto, percebe-se como é errôneo pretender que, segundo uma expressão infelizmente corrente, é “chover no molhadotrabalhar pela santificação dos bons. Muito intencionalmenteaduzimos, em benefício de nossa tese, argumentos que demonstram, com clareza meridiana, ser esta santificação a mais preciosa condição para se obter a conversão, tão ardentemente almejada, dos infiéis. O que ainda não poderíamos dizer, no entanto, sôbre a importância do apostolado de perseverança dos bons!

 




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