b) -- reintegremos,
em segundo lugar, na vida da graça, os pecadores.
Os argumentos
precedentes servem também para provar que mais importante é reintegrar na
plenitude da lei da graça os católicos que abandonaram a prática da Religião,
do que converter os infiéis. Queremos, entretanto, aduzir a respeito deste
último ponto mais um argumento. O Santo Batismo recebido pelo fiel faz dele um
filho de Deus, um membro do Corpo Místico de Cristo, um templo vivo do Espírito
Santo. As graças de que Deus o cumula, em seguida, em sua idade de inocência, o
convívio eucarístico com Nosso Senhor, tudo concorre para que um católico tenha
um título inestimável de predileção divina. É assim que, de um modo
geral6, Deus ama imensamente mais as almas que constituem sua Igreja,
do que os povos heréticos e infiéis. Por isto, o justo que "declina dos
mandamentos de Deus" Lhe causa uma dor imensamente maior do que a
perseverança de um infiel em sua infidelidade. O pecador continua filho de
Deus, mas filho pródigo, cuja ausência enche a casa paterna de luto indizível.
Arbusto partido, porém, não quebrado, lâmpada bruxuleante que ainda fumega, é
ele o objeto predileto da solicitude de Deus. E por isto mesmo o Redentor, “que
não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva”, multiplica suas
instâncias afim de o reconduzir ao redil. Filho de Deus, e por isso mesmo um
predileto ingrato, é o católico pecador um irmão nosso, ao qual nos ligam
deveres de amor e assistência incomparavelmente maiores do que aos homens não católicos.
É este um ponto absolutamente indiscutível de Teologia. Por esta razão, somos
obrigados a consagrar nosso tempo, de preferência do que à conversão do infiel,
à conversão do católico pecador. Com toda a propriedade se aplica aí a palavra
terrível da Escritura, saída dos dulcíssimos lábios do Salvador: "não se
atira aos cães o pão destinado aos filhos".
Não foi outro o
pensamento expresso pelo Santo Padre Pio XI, em sua mensagem de 12 de fevereiro
de 1931, publicada pelo Osservatore Romano: "Manda o Apóstolo que,
dirigindo-nos aos homens, a todos façamos o bem, mas especialmente aos que
possuem a mesma Fé. Convém, pois, que nos dirijamos primeiramente a todos os
que, membros vivos da Família e do Rebanho do Senhor, a Igreja Católica, Nos
chamam com o doce nome de Pai, aos Pastores e aos fiéis, às ovelhas e aos
cordeiros, e a todos aqueles que o Pastor e Rei Supremo Jesus Cristo Nos
encarregou de apascentar e guiar".
E o mesmo diz S.
Tomás: Sum. Theolog., IIa., IIae., Q. 26, art. 5: – "Mais devemos amar
segundo a caridade o que oferece um motivo mais forte de assim ser amado. Ora,
o motivo de amor, que devemos ter pelo próximo, é que ele nos está associado na
participação plena e direta da beatitude".
Ibid. art. 6, ad 2.: –
"Todos os nossos semelhantes se relacionam igualmente a Deus; mas há
alguns que estão mais próximos de Deus, porque são melhores, e, por isto, mais
devem ser amados por nós segundo a caridade, do que outros, que estão menos
próximos de Deus".
S. Paulo recomenda
expressamente: “enquanto temos tempo façamos bem a todos, mas principalmente
aos irmãos na Fé” (Gal. 6, 10). E, escrevendo a Timóteo (I, 6, 1-2), recomenda
que, se os servos tiverem amos católicos, os sirvam melhor que aos não
católicos, "porque são fiéis e amados (de Deus) e participantes do
beneficio (da Redenção)". E Nosso Senhor proclamou o mesmo princípio
quando disse: "Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã
e minha mãe" (Marc. III, 35).
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