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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • QUARTA PARTE   Atitudes da Ação Católica na expansão da doutrina da Igreja
    • CAPÍTULO I   Como apresentar a Doutrina Católica
      • Cujo repúdio a Santa Sé condenou
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Cujo repúdio a Santa condenou

 

Não seria completa a análise deste assunto, se, às reflexões que fizemos, não acrescentássemos outra. Praticada a título excepcional, a tática que examinamos pode ser considerada um legítimo e industrioso expediente de caridade. Transformada em regra geral de ação ela degenera facilmente em respeito humano e em hipocrisia, atraindo sobre nós o desprezo de nossos adversários. A Santa condenou expressamente esse erro. Eis o que, a respeito desta tática de perpétuo recuo, disse o Santo Padre Leão XIII:

"Recuar diante do inimigo e conservar o silêncio quando de todas as partes se elevam clamores tão fortes contra a verdade, é atitude de homem sem caráter, ou que duvida da verdade de sua . Em qualquer caso, tal conduta é vergonhosa e faz injúria a Deus; ela é incompatível com a salvação de cada um e com a salvação de todos; ela não traz vantagens senão aos inimigos da ; porque nada desperta tanto a audácia dos maus quanto a fraqueza dos bons.

"Aliás, não há quem não possa desfraldar aquela força de alma, em que se assenta a própria virtude dos cristãos; ela basta muitas vezes para desconcertar o adversário e perturbar seus desígnios. Acresce que os cristãos nasceram para o combate. Ora, quanto mais a luta for ardente, tanto mais, com o auxílio de Deus, podemos esperar a vitória: "Tende confiança, eu venci o mundo". (Leão XIII, Encl. "Sapientiae Christianae", de 10 de Janeiro de 1890).

Pelo contrário, as condescendências excessivas, que tocam por vezes às raias da inverdade, foram censuradas pelo Espirito Santo: "Aqueles que dizem ao ímpio "tu és justo", serão amaldiçoados pelo povo e detestados pelas nações. Aqueles que o repreendem serão louvados e virá sobre eles a bênção" (Prov., XXIV, 24).

Com efeito, nada é mais apto a criar, de parte a parte, na luta entre adversários militantes, um ambiente de respeito e até de admiração, do que convicções profundas e vigorosas, externadas sem arrogância mas com o sobranceiro desassombro de quem possui a verdade e dela não se envergonha; declaradas de modo cristalinamente explícito, e defendidas com argumentação cerrada. Que admiração causavam aos pagãos, que enchiam o Circo Romano e o Coliseu, as profissões de desassombradas dos mártires, tão opostas ao espírito do paganismo, que tão fortemente chocavam todo o ambiente, mas que ao mesmo tempo se apresentavam revestidas do esplendor da lealdade e do prestígio do sangue! Que admiração tinham os mouros pelos heróicos cruzados, que sabiam lutar como leões, mansos embora como cordeiros quando tinham diante de si um adversário ferido ou moribundo. Com que desprezo, pelo contrário, temos fulminado a propaganda protestante, que procura empregar contra nós métodos tão em voga em certos círculos da A. C.. "Espiritualistas", "cristãos", até "católicos livres" se têm eles intitulado, com o intuito preciso de criar os "terrenos comuns" ambíguos para pescarem em águas turvas. Não imitemos os métodos que combatemos, não façamos da perpétua retirada, do uso invariável de termos ambíguos e do hábito constante de ocultar a nossa , uma norma de conduta, que, em última analise, redundaria em triunfo do respeito humano.

A uma associação, que desejava reformar seus estatutos afim de ocultar seu caráter católico, e assim obter maiores vantagens, escreveu Pio X: "não é leal nem digno ocultar, cobrindo-a com uma bandeira equivoca, a qualidade de católico, como se o Catolicismo fosse mercadoria avariada que devesse entrar de contrabando. Que a União Econômico-Social desfralde portanto corajosamente a bandeira católica e se atenha firmemente aos estatutos atuais. Poder-se-á obter assim o objetivo da Federação? Agradeceremos por isso ao Senhor. Será vão nosso desejo? Ficarão ao menos uniões católicas, que conservarão o espírito de Jesus Cristo e o Senhor não deixará de as abençoar" (Carta ao Conde Medolago Albani). O mesmo pensamento repetiu-o o Santo Padre Pio X em carta ao Padre Ciceri, de 20 de outubro de 1912: "a verdade não quer disfarce, e nossa bandeira deve ser desfraldada."

Diz a Escritura nada haver de novo sob o sol. Infelizmente, sobretudo quanto aos erros, esta afirmação é verdadeira. Os erros se repetem periodicamente. Assim, no pontificado de Pio X, o presente problema parecia estar muito em evidência. Não só no que diz respeito ao apostolado de obrasvimos como a União Econômico-Social atraiu sobre si uma censura a este respeito – mas também no terreno da ciência se colocava a questão. Muitos cientistas católicos, levados pelo desejo de evitar o quanto possível atritos com os cientistas naturalistas, se deixavam iludir pela esperança de que, com certas concessões, seria possível desenvolver um apostolado frutuoso. Também no terreno político, muitos homens públicos julgavam que, passando sob silêncio a reivindicação de certos direitos da Igreja, ou ao menos reivindicando-os de modo muito limitado, obteriam uma era de paz para o Catolicismo.

O suavíssimo porém zeloso Pontífice desfez estas ilusões, em termos que bem podem servir à solução de nosso problema, que em essência é o mesmo. Ouçamo-lo: "ainda mais grosseiro é o erro dos que, no falso e vão anseio de obter a paz para a Igreja, dissimulam os interesses e os direitos dela, sacrificando-os a interesses particulares, diminuindo-os injustamente, e pactuando com o mundo que "está inteiramente imerso no mal"; tudo isto sob pretexto de conquistar os fautores de novidades e reconciliá-los com a Igreja. Mas desde quando pode haver acordo entre a luz e as trevas, entre Cristo e Belial? Sonhos de espíritos doentes: jamais se cessa de forjar tais quimeras, e jamais teremos o direito de esperar que se cesse de o fazer enquanto tivermos soldados covardes, sempre dispostos a fugir atirando de lado suas armas, desde que avistam o inimigo, a saber, no caso. o perniciosíssimo inimigo de Deus e dos homens" (Pio X, Encíclica "Communiur, Rerum", 21 de abril de 1909). Evidentemente, concebe Pio X, casos em que “às vezes”, seria justa alguma condescendência. Por isso, em outro tópico da mesma Encíclica, usando embora muitas precauções de linguagem, que grifaremos, o Santo Padre acrescenta: "Não quer isto dizer que não se possa, às vezes, ceder sequer um pouco de seus direitos: é isto permitido dentro de certa medida, e a salvação das almas pode exigi-lo".

Em outra Encíclica o Santo Padre volta a tratar novamente do assunto, dizendo: "é grave o erro daqueles que pensam bem merecer da Igreja e trabalhar para a salvação eterna dos homens, permitindo, por uma prudência toda ela mundana, largas concessões a uma pretensa ciência, com a esperança de ganhar, o mais facilmente possível, o amigo do erro. A verdade é una e indivisível, eternamente a mesma, e não se submete aos caprichos dos tempos: "Christus heri et hodie, ipse et in saecula".

"Enganam-se também, e grandemente, acrescenta o Pontífice, os que, na distribuição de socorros, principalmente em favor das classes populares, se preocupam no mais alto ponto com as necessidades materiais, e negligenciam a salvação das almas e os deveres soberanamente graves da vida cristã. Por vezes mesmo, não se envergonham de cobrir, como que com um véu, os preceitos mais importantes do Evangelho, de receio de serem menos ouvidos, ou até abandonados. Sem dúvida, quando se tratar de esclarecer homens hostis a nossas instituições e inteiramente afastados de Deus, a prudência poderá autorizar a usar certa contemporização. "Se vos for necessário cortar feridas, apalpai-as antes com mão ligeira", diz São Gregório. Mas seria transformar uma habilidade legítima em uma espécie de prudência carnal, erigir esse procedimento em regra de conduta constante e comum; e seria também dar pouco valor à graça divina, que não favorece apenas aos Sacerdotes e ministros, mas todos os fiéis de Cristo, afim de que nossos atos e nossas palavras comovam as almas. Uma tal prudência, S. Gregório a desconheceu quer na pregação do Evangelho, quer nas outras obras admiráveis que realizou para aliviar as misérias humanas. Ele se apegou ao exemplo dos Apóstolos, que diziam, no dia em que empreenderam percorrer o universo afim de anunciar a Cristo: "pregamos Jesus crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios". Mas, se houve tempo em que o socorro da prudência humana pôde parecer oportuno, foi certamente aquele: porque os espíritos de nenhum modo estavam preparados para acolher a esta nova doutrina que repugnava tão vivamente as paixões que por toda a parte reinavam, e chocava de frente a brilhante civilização dos gregos e romanos.

"Entretanto, os Apóstolos julgaram essa espécie de prudência incompatível com sua missão, porque conheciam o decreto divino: "é pela loucura da pregação que aprouve a Deus salvar os que cressem nele." Esta loucura foi sempre, e ainda é, "para os que se salvam, isto é, para nós, a força de Deus"; o escândalo da Cruz forneceu e fornecerá de futuro as armas mais invencíveis; ele foi outrora e ainda será para nós um sinal de Vitória".

"Mas estas armas, Veneráveis Irmãos, perderão toda sua força e toda sua utilidade se não forem manejadas por homens que não vivam interiormente com Cristo, que não forem impregnadas de uma verdadeira e robusta piedade, que não forem abrasados pelo zelo da glória de Deus, pelo ardente desejo de dilatar seu reino". (Pio X, Encíclica "Jucunda Sane", de 12 de março de 1904). Neste último tópico, dá-nos o Santo Padre a razão profunda de tanta prudência carnal, de tantos expedientes contemporizadores, em uma palavra, de tanto desejo de não combater: a luta do apostolado se trava com armas sobrenaturais que só se temperam na forja da vida interior. Combalida, esquecida, diminuída esta vida interior pelas múltiplas doutrinas que em outros capítulos mencionamos, o resultado não deveria tardar a se fazer sentir no terreno da estrategia apostólica, produzindo os frutos de liberalismo e de naturalismo que ai estão.

 




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