A "tática do
terreno comum" e os católicos fervorosos
Quanto aos ambientes
que já são católicos, o mais importante consiste em ensinar a verdade e não em
combater o erro. Em outros termos, mais vale um sólido conhecimento do
catecismo, do que um certo adestramento nas lutas da apologética. Entretanto,
pode-se aliar perfeitamente uma vantagem à outra, e será sempre digno de louvor
quem se empenhar em mostrar aos filhos da luz toda a tenebrosa abjeção
intelectual e moral, que impera no reino das trevas. Quanto filho pródigo
renunciaria ao abandono criminoso do lar, se um conselheiro prudente lhe
advertisse dos riscos sem número, a que se expõe deixando os domínios paternos!
É imenso o abismo que separa a Igreja da heresia, o estado de graça do pecado
mortal, e será sempre uma obra de misericórdia das mais eminentes, mostrar aos
católicos despreocupados a temível extensão deste abismo, afim de que não se
atirem inconsideradamente em suas profundezas.
Tudo isto posto, e já
que, segundo demonstramos, os mais altos interesses da Igreja e as mais graves
imposições da caridade nos levam a agir de preferência sobre os irmãos na Fé,
chegamos à conclusão de que, fazer da famosa tática do "terreno
comum" a nota dominante e a bem dizer exclusiva da propaganda da A. C.,
implica em grave erro.
Imagine-se o efeito
concreto que sobre nossa massa católica teria uma propaganda, cujo
"leit-motiv" fosse invariável e exclusivamente que do protestantismo
nos separa apenas uma tênue barreira; que estamos todos ligados pela Fé comum
em Jesus Cristo e que muito maiores são os laços que as barreiras entre nós.
Quem conseguisse fazer prevalecer essa tática entre os católicos mereceria, por
certo, um grande cordão de honra, por parte dos protestantes.
Um curioso exemplo do
perigo que a Santa Sé considera nesta tática de pôr em constante relevo as
analogias existentes entre a doutrina católica e os fragmentos de verdade, que
se encontram em todos os erros, nota-se na proscrição expressa e radical da
palavra "socialismo católico" feita pelo Sto. Padre Pio XI, na
Encíclica "Quadragésimo Ano".
Como ninguém ignora, o
termo "socialismo" servia de denominador comum para todas as correntes
sociais anti-individualistas, que iam desde alguns matizes nitidamente
conservadores até o comunismo. Assim, dado que Leão XIII se manifestou
radicalmente anti-individualista, a expressão "socialismo católico"
abria um "terreno comum" entre todas as doutrinas
anti-individualistas e a Igreja. Do ponto de vista da política dos panos
quentes, a expressão era tanto mais vantajosa, quanto não comprometia as
relações entre católicos e individualistas, já irremediavelmente rotas, em
conseqüência de atitudes anteriores da Santa Sé. Pio XI, entretanto, rompeu com
este termo ambíguo e o proscreveu pelo mau sentido que se lhe poderia atribuir,
causando com isto evidente surpresa aos muitos partidários dos panos quentes.
|