A verdadeira atitude
Nesse terreno, como
nos demais "oportet haec facere et illa non omitere". É preciso
sobretudo e antes de tudo ser objetivo e verdadeiro. Não ocultemos o abismo que
separa tudo quanto é católico do que não o é, abismo imenso, profundo, que
seria mortalmente perigoso não ver. Por outro lado, não rejeitemos também os
resquícios de verdades nossas que possam sobreviver nos erros do adversário. Mas guardemos sempre em
nossa linguagem a preocupação de jamais tomar, a pretexto de conquista dos
maus, atitudes que prejudiquem a perseverança dos bons e seu horror à heresia.
Aliás, é muito menor do que se pensa o valor de alguns fragmentos de bem ou de
verdade que entre os hereges se podem conservar. Neste sentido vejamos, por
exemplo o que S. Tomás nos ensina acerca da Fé.
– "Podem os infiéis fazer atos de fé?
– Não Senhor; porque não crêem na Revelação, ou seja porque ignorando-a,
não se entregam confiadamente nas mãos de Deus, nem se submetem ao que deles
exige ou porque, conhecendo-a, recusam prestar-lhe assentimento. (X).
– Podem fazê-los os ímpios?
– Tão pouco, porque, se bem que têm por certas as verdades reveladas,
fundadas na absoluta veracidade divina, a sua fé não é efeito de acatamento e
submissão a Deus, a quem detestam, ainda que com pesar seu se vejam obrigados a
confessá-lo (V. 2. ad 2).
– É possível que haja homens sem fé sobrenatural, e que creiam desta forma?
– Sim Senhor; e nisto
imitam a fé dos demônios (V., 2).
– Podem crer os
hereges com fé sobrenatural?
– Não Senhor; porque,
embora admitam algumas verdades reveladas, não fundam o assentimento na
autoridade divina, senão no próprio juízo (V, 3).
– Logo, os hereges
estão mais afastados da verdadeira fé que os ímpios e que os mesmos demônios?
– Sim Senhor; porque não se apóiam na autoridade de Deus.
– Podem crer com fé sobrenatural os apóstatas?
– Não Senhor; porque
desprezam o que haviam crido por virtude da palavra divina (XII).
– Podem crer os pecadores com fé sobrenatural?
– Podem, com tanto que
conservem a fé, como virtude sobrenatural; e podem tê-la, se bem que em estado
imperfeito, ainda quando, por efeito do pecado mortal, estejam privados da
caridade (IV, 1-4)".
– Logo, nem todos os
pecados mortais destroem a fé?
– Não Senhor (X,1,
4)."
P. Tomás Pègues, O. P.
– "A Suma Teológica em forma de Catecismo", páginas 92 e 93 da edição
brasileira.
Desse livro escreveu o
Santo Padre Bento XV em carta ao autor que este soube "acomodar ao alcance
de sábios e ignorantes os tesouros daquele gênio excelso (Santo Tomás de
Aquino), condensando em fórmulas claras, breves e concisas, o que ele com maior
amplitude e abundância escreveu". É, pois, um resumo de grande autoridade, que nos
dispensa de fazer uma citação mais extensa, de S. Tomás.
* * *
Antes de passar a
outro aspecto da questão, gostaríamos de acentuar que o grande e sapientíssimo
Sto. Inácio prescreveu uma regra de conduta, que é precisamente o contrário da
famosa tática exclusiva, do terreno comum. Disse o Santo que, quando em uma
época existe a tendência de exagerar alguma verdade, o apóstolo diligente não
deve falar muito desta verdade, mas sobretudo da verdade oposta. Exagera-se
sobre a graça? Fale-se em livre arbítrio. E assim por diante. Quanto mais
inteligente, mais eficaz e mais seguro é este procedimento!
|