Conclusão
Acabamos de ver o
procedimento de um Doutor, de um Santo, de um dos maiores Santos da História da
Igreja, elogiado por um Pontífice. Não poderia haver maior garantia de que esse
procedimento não é apenas licito, mas exigido muitas vezes pelos mais altos e
nobres princípios e interesses da Igreja.
Resumamos nosso modo
de pensar, condensando-o em alguns itens, que tornarão mais preciso nosso
pensamento, mostrando que nem a doçura, nem a energia devem ter um lugar
exclusivo, no apostolado:
1) – Dada a variedade
imensa de almas, a multiplicidade e complexidade das situações em que se possam
encontrar, não é a todas elas que se deve dirigir indistintamente as mesmas
palavras nem a mesma linguagem, ainda mesmo que se encontrem em situação
idêntica. Leão
XIII disse positivamente que um apóstolo jamais pode usar um só método de ação.
Pelo contrário, afirmou que os métodos de apostolado são múltiplos, e ineficaz
o apóstolo que não saiba servir-se de todos:
"É necessário – dizia ele – que, quem for medir suas forças com todos,
conheça as manobras e métodos de todos, que saiba manejar as flexas e a funda,
seja tribuno e chefe de corte, general e soldado, infante e cavaleiro, apto a
lutar com todas as armas e a derrubar muralhas. Se o defensor não conhece, com
efeito, todas as maneiras de combater, o demônio saberá fazer entrar por um só
lado seus agentes, no caso em que um só lado tenha sido deixado ao descuido, e
assim roubar as ovelhas" (Leão XIII, Encl. "Providentissimus
Deus", de 8-11-1893).
Aliás, S. Paulo advertiu que devíamos lutar "com as armas ofensivas e
defensivas da justiça" (2, Cor., 6, 7).
Como esta variedade de processos fortes e viris dista da monotonia do
"sorriso apostólico" que se pretende inculcar como única, ou quase
única arma de apostolado! E como esse apostolado mutilado e edulcorado difere
do que descreve S. Paulo: "as armas de nossa milícia não são carnais, mas
são poderosas em Deus para destruir as fortificações, derribando projetos e
toda a altura que se levanta contra a ciência de Deus, e reduzindo à sujeição
todo o entendimento na obediência a Cristo, e estando preparado para castigar
toda a desobediência, depois que for cumprida a vossa obediência" (2,
Cor., 10, 4-6).
2) – Por isto, suscita Deus, na Santa Igreja, Santos dotados de
temperamentos diversos, e guiados pela graça através de vias espirituais
diferentes. Esta diversidade, legítima
expressão da fecundidade da Igreja, é providencial. Procurar reduzir a uma
uniformidade essencial as variedades dessas manifestações, é trabalhar contra o
Espírito Santo e atentar contra a fecundidade da A. C..
3) – A formação da
"técnica do apostolado" deverá tomar em conta esta variedade, não
procurando formar apóstolos de um só feitio, mas ensinando a cada qual os
verdadeiros limites dentro dos quais reina a caridade, de maneira que a
Fortaleza não os transponha, pois feriria a Bondade, e a Bondade não os
transgrida porque se transformaria em perigosa e censurável fraqueza. Estes
limites postos, convém que cada qual proceda segundo a santa liberdade dos
Filhos de Deus, sem que seja forçado a amoldar sua personalidade à dos outros.
Neste sentido, devem todos entender-se fraternalmente, cooperando para melhor
servir à Igreja com a variedade de seus temperamentos, evitando cuidadosamente
que dessa providencial variedade decorram atritos de que a Igreja será, em
ultima análise, a grande prejudicada8.
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