Variedade de
ambientes
Há ambientes afastados
do pensamento da Igreja, nos quais, entretanto, o mal ou o erro se encontram em
estado de relativo torpor. Seria este, por exemplo, o caso de certas associações
científicas, literárias, recreativas (um club de xadrez, por exemplo),
filatélicas, etc., etc.. O temperamento
das pessoas que costumam se entregar a estas atividades, bem como a própria
natureza das mesmas, excluem como improvável a hipótese de uma ação militante e
contagiosa do mal. O mesmo pode-se dizer de muitos ambientes de trabalho, tais como bancos,
escritórios, repartições, etc.. A enorme massa de afazeres, a ocupação
predominante dos negócios, a moralidade dos chefes, pode eventualmente fazer de
um destes locais um ambiente que pouco ou nada arrasta para o mal. Entretanto, é preciso renunciar, neste assunto, a
qualquer enumeração que não tenha caráter meramente exemplificativo.
Mil circunstâncias,
das mais freqüentes infelizmente, podem fazer com que um destes locais,
tipicamente inofensivo em uma cidade, seja em outra altamente nocivo. De si
mesmos, entretanto, estes ambientes não são maus.
Por outro lado, há
ambientes tais, que hoje em dia só alguma pessoa de uma ingenuidade que faça
lembrar a censura do Profeta Oséas (VII, 11), isto é, que seja "uma pomba
imbecil sem inteligência", poderia imaginar não serem nocivos. Em primeiro
lugar, vêm nesta enumeração todos os lugares de diversão carateristicamente
maus, que a moralidade pública reputa vedados às pessoas honestas. Em segundo
lugar, vêm os numerosos locais de diversão que consideramos verdadeiros antros
de ignomínia, talvez piores que os primeiros, e que costumam ser chamados
"semi-familiares". Nestes locais, a mãe de família ombreia, sem
enrubescer, com pessoas cuja categoria nem deve ser nomeada. O pai de família
não se peja de aí comparecer à vista de parentes e amigos, em companhias que
põem por terra o seu prestígio e dão aos filhos os mais funestos exemplos. Tudo
se mistura, tudo se nivela, tudo se confunde em uma promiscuidade que diminui a
distância e a diferença que devem existir entre o lar e o prostíbulo. Digamos a
verdade, por mais dolorosa que seja: uma família que freqüenta lugares
semi-familiares se degrada à condição de uma semi-família, o que, em outros
termos, equivale a dizer uma família em ruínas. Infelizmente, a realidade é que
os limites entre o familiar e o semi-familiar se tornam cada vez mais confusos,
e não é pequeno o número de ambientes cujo rótulo familiar encobre uma situação
da mais perfeita promiscuidade. Os grandes hotéis, com seus bailes, seus
casinos, seus salões, não são hoje, na maioria dos casos, senão ambientes dos
quais, na melhor das hipóteses, se pode dizer que são semi-familiares.
Infelizmente, este quadro não seria completo se omitíssemos dizer que estão na
mesma categoria certos ambientes freqüentados exclusivamente por famílias, nos
quais a direção dos usos, do bom gosto, da elegância, estão de tal maneira
monopolizados por pessoas de uma vida francamente escandalosa, que o mal ali
aparece cercado de todo o esplendor que a seu serviço podem pôr os recursos
ilimitados do dinheiro e da polidez de maneiras. Quanto baile, quanta reunião,
quanto jantar, dos chamados familiares, outra coisa não são senão ambientes em
que tudo conspira para perder as almas! Sem temor de exagero, não hesitamos em
afirmar que, em certas camadas, toda a vida social se acha invadida, infestada,
dominada por esse despotismo do mal, que se exerce de forma indiscutível até
mesmo nas demasias de linguagem e na intemperança no beber! O mesmo se diga de
certos ambientes de trabalho, em que a desabusada camaradagem, a imoralidade
das conversas, o paganismo do procedimento, agravado tudo pela promiscuidade
dos sexos, faz do ganha-pão um grave risco para a salvação eterna.
Descritos assim, em
suas variedades, os ambientes em que uma pessoa se pode encontrar, podemos
fixar os primeiros princípios para qualquer solução.
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