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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • QUARTA PARTE   Atitudes da Ação Católica na expansão da doutrina da Igreja
    • CAPÍTULO III   O "Apostolado de infiltração"
      • Pluralidade de atitudes
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Pluralidade de atitudes

 

ISegundo a magistral doutrina desenvolvida por D. Chautard em "A Alma de Todo Apostolado", a primeira preocupação de quem se entrega a obras deve ser, antes de tudo, sua própria santificação. Ora, para a maioria das pessoas em nossos dias, é ponto de primordial importância que freqüentem ambientes católicos, isto é, que consagrem parte de seus lazeres ao convívio de seus irmãos de crenças, na sede da A. C. ou de uma associação religiosa qualquer. Tratando-se de moços, essa necessidade é imperiosa. Como já lembramos, não é outro o processo de que se tem servido a admirável propaganda dos países totalitários. Sempre que, pois, o exercício do "apostolado de infiltração", ainda que realizado em ambientes inofensivos, implique para o membro da A. C. na necessidade de sacrificar de modo ponderável este insubstituível meio de formação, deve-se entender que o "apostolado de infiltração" não deve ser posto em prática.

IIFelizmente, esta alternativa nem sempre se impõe, e às vezes será possível ao apóstolo leigo freqüentar os ambientes em que deva fazer infiltração, sem perder o contato vital que deve manter com sua associação. Neste caso, o "apostolado de infiltração", em ambientes inócuos, poderá produzir resultados inestimáveis.

IIIPergunta o Divino Mestre de que serve ao homem ganhar o mundo inteiro se perder sua própria alma. Daí se deduz como princípio, aliás sancionado por qualquer moralista digno deste nome, que, caso “haja perigo grave e próximo de pecado formal, especialmente contra a e a virtude angélica, Deus quer que nos afastemos das obras" (D. Chautard, op. cit., pg. 62 da ed. portuguesa). Em outros termos, salvo caso especialíssimo de dever de estado, é pecado mortal expor-se alguém de modo próximo a cometer pecado mortal, ainda que deste risco decorresse o êxito da mais brilhante e promissora das obras de apostolado. A este respeito não pode haver dúvidas.

Assim, como para homens de uma emotividade normal a freqüência dos ambientes claramente não familiares e dos ambientes semi-familiares de qualquer matiz acarreta causa próxima de pecado, daí decorre que a freqüência a tais ambientes é inteiramente proibida aos membros da A. C..

IV – É um gravíssimo erro pretender-se que a A. C. imuniza, por uma certa misteriosa graça de estado, os seus membros, contra as tentações. Esta graça de estado será certamente muito mais abundante para os clérigos, e entretanto ela não altera o regime de relações entre a graça e o livre arbítrio, não sufoca a concupiscência e o demônio, que existem para todos os homens. Não o fará também para a A. C.. A este respeito, não teríamos senão que repetir aqui os argumentos que desenvolvemos às pags. 195, 206 e seguintes. [Parte III, cap. III, “Apostolado de conquista” – Essas doutrinas são errôneas porque pressupõem um panorama falso]

Não é menos errado argumentar-se com o exemplo de certos santos dos primeiros séculos da Igreja, que teriam freqüentado tais lugares para efeito de apostolado. Sem discutir o fato histórico, não podemos deixar de frisar que, se o argumento valesse, teria feito mal o Direito Canônico ao vedar aos clérigos e religiosos a freqüência de tais ambientes.

VDir-se-á que uma tal restrição à liberdade de movimentos da A.C. estancará a sua fecundidade. Mas a A. C. não é um jogo de loteria ou de roleta, em que se expõem algumas almas para ganhar outras. Por outro lado, o espetáculo de uma mocidade pura e generosa, que triunfa das seduções do mundo calcando aos pés todo o encanto de seus atrativos, para se afastar da pestilência moderna, deve impressionar necessariamente muito mais as almas criteriosas e ponderadas, as almas retas e sedentas de virtude, em uma palavra, as almas que estão a caminho de Jesus; do que não sabemos quais apóstolos "camuflados" de pagãos, que em diversões inteiramente dissonantes de sua , se entregam a prazeres, dos quais finalmente se fica sem saber se é apostolado, feito como pretexto para o prazer, ou prazer como instrumento de apostolado. Positivamente, não é afivelando ao rosto a máscara de mundano que se atraem almas para Nosso Senhor Jesus Cristo.

VIFazendo aplicação deste princípio aos bailes semi-familiares, aos lugares de trabalho perigosos para a moralidade, etc., chegamos à conclusão de que estes ambientes constituem, de per si, uma ocasião próxima de pecado para pessoas de uma sensibilidade normal, pelo que devem ser proscritos.

Argumentou-se, ou ao menos poder-se-ia argumentar em sentido contrário, com um texto famoso de Leão XIII, sobre a infiltração dos católicos na sociedade romana. Neste texto, descreve o Santo Padre a penetração dos primitivos cristãos nos mais variados ofícios, inclusive na Cúria Imperial. É de notar-se que essa infiltração se dava em lugares obrigatórios de trabalho, e o Santo Padre não menciona a presença de fiéis, realizando infiltrações nos festins orgíacos da alta sociedade romana.

VII – Como dissemos, há finalmente lugares em que é licito comparecer porque não oferecem perigos à salvação. Não quer isto dizer que a A. C. tenha o direito de impor o comparecimento a tais lugares, como um dever, àqueles de seus elementos que, no desejo de uma vida mais santa, resolvem afastar-se de toda e qualquer diversão, ainda que lícita. Os que assim procederem merecem grande louvor, e constitui uma grave inversão de valores fazer-se-lhes qualquer censura.

A primeira razão disto está em que a perfeição cristã, quando praticada claramente e sem rebuços, constitui sempre a mais genuína e fecunda forma de apostolado.

Em segundo lugar, é certo que a obrigação de salvar almas não pode privar a quem quer que seja da liberdade sacratíssima de seguir, na via da renúncia, o caminho em que, a juízo de um diretor prudente, for guiado pelo Espírito Santo. Se, no plano natural, essa vida pode parecer menos fecunda, no plano sobrenatural terá uma eficácia difícil de ser aquilatada.

VIII – Ao ponderar todos estes múltiplos fatores, não se deve perder de vista que o único critério a ser levado em conta não é o do maior ou menor risco oferecido pelo local em que se está, mas ainda a lei da decência e o dever do bom exemplo. Fulminam as autoridades eclesiásticas a freqüência dos lugares suspeitos, as diversões pagãs, etc., etc.. – Certas camadas da população, mais dóceis à voz da Igreja, ou mais apegadas às suas tradições, relutam ainda em se conformar com os costumes novos, e para tanto se expõem à risota dos conhecidos, e ao sacrifício, que naturalmente significa qualquer diversão a que se renuncia. Qual é, sobre tais ambientes, o efeito que causa a notícia de que os membros da A. C. não só podem, mas devemcomparecer, participando de todas as diversões, e não se recusando a si mesmos a fruição de quanto a Hierarquia condena? Aquela mesma Hierarquia, de que muitos se supõem tão orgulhosamente participantes, e implicitamente mandatários! E estes, que se crêem mandatários, agem contra as intenções do mandante! Assim, ainda mesmo que algum membro da A. C. pudesse alegar que pessoalmente não lhe faz mal o comparecimento a certos locais, sua própria dignidade de membro da A. C. lhe vedará aí o acesso.

IX – Não quer isto dizer que não admitamos a possibilidade de, em certos casos muito especiais, e portanto muito excepcionais, poder um ou outro membro da A. C., previamente autorizado pelo respectivo Assistente, e tomadas todas as precauções para evitar qualquer mau exemplo, realizar alguma infiltração, comparecendo por exemplo à reunião de um sindicato comunista, etc.. Será, porém, a ruína da A. C. que este fato excepcional se transforme em normal.

XLembre-se sobretudo cada qual que, neste assunto, ninguém pode ser juiz em própria causa, pelo que deve sempre aconselhar-se com um sacerdote prudente. As almas mais bem formadas passam, às vezes, por longas tentações, de origem natural ou diabólica, que lhes tornam perigoso até mesmo o que a outros seria normalmente inócuo. Assim, as conveniências do apostolado devem ser sempre subordinadas às conveniências da vida interior, apreciadas por sacerdotes prudentes.

XI – Todas estas razões estariam incompletas se não acentuássemos que, por dever de estado, pode alguém ser forçado a trabalhar em lugares francamente perigosos, ou, mais raramente, comparecer a lugares mundanos. Lembremo-nos sempre que Deus forças especiais a quem involuntariamente se encontra nesta situação. Desde que isso aconteça, as pessoas nestas condições devem aproveitar tal situação, que não criaram, para fazer apostolado de infiltração. Não há, porém, dever de estado algum que possa forçar alguém a praticar o mal. Que cada qual consulte um sacerdote douto e prudente, antes de se julgar autorizado a aceitar situação tão excepcional. Mas, se este realmente considera existir um dever de estado, tranqüilizem-se tais almas e lutem corajosamente para se santificar e santificar o próximo onde se encontram. Deus lhes daráforças, com que jamais poderão contar aqueles que fizerem uma infiltração inspirada em zelo intempestivo, e nunca em real dever de estado.

 




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