Como executar o
"apostolado de infiltração".
Não podemos dar por
encerrada esta questão, sem estabelecermos a conduta que, no "apostolado
de infiltração", devem tomar os membros da A. C.. Ainda ai, para esclarecer
quanto possível assunto de tal complexidade, é conveniente que procedamos por
meio de uma enumeração taxativa de princípios.
I – Muitas vezes, o
apostolado de infiltração não tem por objetivo capital o exercício de uma ação
direta sobre as pessoas, entre as quais a infiltração se realiza. É este o
caso, por exemplo, de pessoas que se introduzem em alguma célula comunista, com
o intuito de obter informações, planos de campanha, etc.. É patente que tais informações
interessam muito mais do que a conquista duvidosa de alguns dos próceres
comunistas ali existentes. Neste caso,
deve o católico ocultar suas convicções, se quiser obter qualquer resultado, e
será lícito que o faça, desde que não chegue ao extremo de negar a verdade, em
lugar de a ocultar apenas.
II – Exceção feita
deste e de outros casos especiais, não deve o membro da A. C. esquecer-se de
que o maior ornamento da Igreja Católica é Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim,
deixar de confessar a Nosso Senhor pública e claramente, velar sua Divina Face
sob pretexto de apostolado, deixar de proclamar que somos cristãos católicos,
que disto nos ufanamos, que da prática das virtudes impostas pela Igreja nos
orgulhamos, é privar o apostolado do mais fecundo de seus meios de atração, é
renunciar a espalhar "o bom odor de Nosso Senhor Jesus Cristo", atrás
do qual correrão sempre as almas generosas de todas as latitudes geográficas e
ideológicas.
Assim, não se pense
que o "apostolado de infiltração" pode lançar mão da famosa tática do
"terreno comum", de modo habitual e metódico. Pelo contrário, aqui se
aplica perfeitamente tudo quanto dissemos em outro capitulo sobre essa delicada
matéria.
Lamentável
naturalismo! Em lugar de se compreender que o êxito do apostolado consiste,
para o apóstolo, em manifestar a Jesus Cristo, supõe-se consistir em
escondê-lo. E esconde a Nosso Senhor Jesus Cristo quem oculta ou desfigura, por
uma suposta mitigação, a sua doutrina.
Como procedia de modo
diverso aquele que, apontado pela Igreja como Padroeiro dos Párocos, desenvolveu
métodos de apostolado que devem influir profundamente na orientação da A. C.,
isto é, o Santo Cura d'Ars! De uma severidade que a muitos modernistas poderá
parecer excessiva – chegou mesmo a negar por muito tempo a absolvição a uma
camponesa porque ela ia uma vez por ano a um baile familiar – ele atraía as
almas mais do que ninguém. Dele pôde dizer D. Chautard: “Joannes quidem signum
fecit nullum” (S. João, X, 41). Sem fazer nenhum milagre, S. João Batista
atraía as multidões. Bem fraca era a voz de S. Vianney, para se fazer ouvida da
multidão, que em volta dele se apinhava. E, sem embargo, se o não ouviam,
viam-no, viam uma custódia de Deus, e só esta vista subjugava e convertia os
assistentes.
Voltara de Ars um
advogado. Como lhe perguntassem o que mais o tinha impressionado, respondeu:
"Vi Deus num homem" (Op. cit., pg. 110). Não podemos compreender como
a doutrina de vida, saída de lábios que a saibam enunciar de modo inteiramente
sobrenatural, possa ficar estéril para as almas retas. Em seus sermões, outra
coisa não fez o Santo Cura d'Ars. O remédio para o apóstolo infecundo não
consiste em eliminar de seus lábios a verdade, mas em aprender, aos pés do
Tabernáculo, e de Maria Santíssima, o segredo de a proclamar, não só com os
lábios, mas com a alma toda.
III – Claro está que
certas pessoas, obrigadas a viver ou trabalhar em ambientes francamente hostis,
não estão obrigadas ao mesmo procedimento, desde que tenham fundadas razões
para temer sua demissão ou outros prejuízos desta natureza. Para estas, não se
aplica a obrigação de um apostolado desassombrado, exceto no caso de lhes ser
exigida a negação expressa da verdade.
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