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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • QUARTA PARTE   Atitudes da Ação Católica na expansão da doutrina da Igreja
    • CAPÍTULO III   O "Apostolado de infiltração"
      • Que pensar dos bailes?
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Que pensar dos bailes?

 

Não daríamos por concluída nossa tarefa, sem uma observação a respeito dos bailes. É de toda a evidência, e até uma banalidade, que dançar não constitui, em si, um mal, mas que as circunstâncias que podem existir concretamente fazem, em geral, da dança um mal bastante grave.

Fala-se tanto – e com quanta razão! – da doçura de São Francisco de Sales. O conselho que o santo Doutor a respeito de danças é concludente, e mostra como lhe pareciam perigosas as danças de seu tempo: "Falo-vos dos bailes, Filotea, como os médicos falam dos cogumelos; os melhores de nada valem, dizem eles; e eu vos digo que OS MELHORES BAILES NÃO SÃO BONS... Se por qualquer motivo de que não conseguirdes desculpar-vos, vos for necessário ir ao baile, velai por que vossa dança seja decente. Dançai pouco, e poucas vezes, pois que do contrário correreis o risco de vos afeiçoar às danças..., e estas recreações dissipam o espírito de devoção, tornam langorosas as forças, tornam tíbia a caridade e despertam na alma mil variedades de maus afetos; eis porque é necessário servir-se delas com grande prudência". De que maneira dançar? S. Francisco de Sales o explica: "com decoro, dignidade e boa intenção". Que diria o Santo Doutor de certas danças modernas, como a "conga", em que os pares formam longos cordões pelo salão, segurando-se uns aos outros, gesticulando e gritando como crianças? Encontraria ele um meio de se dançar “com decoro e dignidade” a “conga”, quando já lhe parecia isto problemático quanto às danças suaves, artísticas e delicadas de seu tempo?

Certamente não. Muitas pessoas entendem que, porque S. Francisco de Sales autorizou, em tese, que se fosse a bailes, fazendo-o embora muito a contragosto e cheio de apreensão, se deve com a maior liberalidade estender a quem quer que seja esta autorização. Estas pessoas tomariam o cuidado de aconselhar aos que dançam que façam uso de certos pensamentos salutares durante a dança? E teriam a coragem de aconselhar os pensamentos que S. Francisco de Sales menciona? Quais são eles? "Pensai, diz o Santo, nas almas que ardem no inferno por causa das faltas que cometeram em bailes; pensai nos santos religiosos que, enquanto vos divertis, cantam os louvores de Deus; pensai nos homens que no mesmo momento estão sofrendo ou morrendo; pensai em Nosso Senhor, em Nossa Senhora, nos anjos e santos que vos viram no baile, e que tiveram grande pena de ver vosso coração distraído com tão grande tolice e atento a uma tal sensaboria; pensai na morte que se aproxima zombando de vós, e que vos faz sinal para que entreis na dança macabra onde os gemidos substituem o violino, e onde fareis vosso trânsito da vida à morte". É interessante ler, neste sentido, a parte do Cap. XXXIII da jamais assaz louvada "Introdução à Vida Devota".

Vale para quaisquer espécies de reuniões dançantes esta importante observação que faz, em uma interessante monografia sobre "Os Católicos e as novas danças", o insigne Dominicano, Pe. Vuillermet, O. P., de cuja obra extraímos quase todas as nossas citações sobre danças:

“É raro que as danças freqüentes e regulares se conservem como simples distração. Elas se tornam, pelo contrário, e é esta a observação de quase todos os moralistas, uma ocasião de intimidade e de encontros para pessoas que acham assim um meio fácil e aparentemente insuspeito, de dar à sua paixão um alimento de que são sempre ávidas. E mesmo quando não existe este desejo inicial, não é certo que a freqüência dos mesmos encontros faz nascer a paixão, tanto mais quanto estes encontros são muito perigosos porque prolongados? Dança-se hoje durante toda uma festa com a mesma pessoa, o que seria outrora uma grave incorreção; e, depois de ter desaparecido a primeira cerimônia, e quando a familiaridade se vai introduzindo entre o jovem e seu par, não é certo que o pudor se vai debilitando? Não se faz mais a fiscalização dos sentimentos, e insensivelmente os pensamentos e desejos que outrora teriam revoltado a consciência se aclimatam na inteligência e no coração. – Considero, pois, que estas danças freqüentes com a mesma pessoa são extremamente perigosas".

Depois de considerações mais indulgentes quanto a pequenas reuniões dançantes absolutamente esporádicas e improvisadas na intimidade de uma família, que entretanto "conservam numerosos inconvenientes que decorrem da sua natureza", o autor acrescenta a seguinte conclusão: "teoricamente, a dança não é imoral... e só se pode tornar tal acidentalmente. Mas não posso negar que, na prática, o acidental seja o mais freqüente. As pessoas que pecam por ocasião da dança são INCOMPARAVELMENTE MAIS NUMEROSAS do que as que não pecam. A causa deste fato está, em parte, na diminuição da e no abandono dos exercícios de piedade, e de outra parte no relaxamento dos costumes que faz com que hoje em dia se permitam, na dança, tais liberdades que é muito raro que a virtude não fracasse durante ela". Estas linhas são de 1924. Que diria o autor, das danças de 1942!

Em 1924, a Europa sofria da invasão de certas danças americanas – que hoje nos parecem tão moderadas – e que suscitaram entretanto inúmeras condenações da Hierarquia na França. O Cardeal Dubois, o Arcebispo de Chambéry, o Bispo de Lille, condenaram sucessivamente as danças novas. O Arcebispo de Cambrai escreveu: "O tango, o fox-trot e outras danças análogas são diversões imorais em si mesmas. Elas estão proibidas pela própria consciência, por toda a parte e sempre, anteriormente às condenações episcopais e independentemente delas". E Bento XV, na Encíclica "Sacra prope diem" diz: "estas danças exóticas e bárbaras, recentemente importadas nos círculos mundanos, mais chocantes, umas que as outras, são o que há de mais próprio para banir todos os vestígios de pudor". Muitas destas danças provinham das mais baixas camadas de indígenas americanos, e delas disse em sua Carta Pastoral Mons. Charost: "Edulcore-se quanto se queira este enxerto bárbaro, corrija-se com maior ou menor perícia seu despudor nativo. Logo que encontre um temperamento propício, este enxerto retomará seu ardor e sua violência natural. Ele é o vírus da carne pagã penetrando em um organismo social que dezessete séculos de espiritualismo cristão e de dignidade moral haviam modelado. Ele é mais do que a revolta – de que nenhum século cristão foi isento – ele é, no fundo e por tendência, a anarquia do instinto".

Das danças modernas, muitas das quais evidentemente adaptadas e importadas dos "bas-fonds" das velhas danças pagãs de negros norte-americanos, que se poderia dizer?

Quanto aos bailes infantis, porque não reproduzir aqui, como confirmação do que com tanta eloqüência disseram nossos Bispos, o que escreveu Louis Veuillot? Estes bailes infantis são, diz-se, um espetáculo encantador. Sim, para os olhos.

"Mas que triste cena, quando atendermos aos murmúrios da razão. Meninas de oito anos fazem a aprendizagem da vaidade e da faceirice; elas já são hábeis na arte do sorriso, da pose, das atitudes, das inflexões musicais da voz. Os meninos tomam porte e expressões fisionômicas variadas, segundo as indicações maternas: tomam expressão cavalheiresca, pensativa ou importante; outros se fazem de espertos ou melancólicos, conforme lhes fique melhor. As mãesestão radiosas. Mas a cena é feia. Percebe-se que os personagens do baile em miniatura foram profanados na flor de sua simplicidade graciosa e ingênua, desde o berço. A impressão de uma pessoa razoável, testemunha de uma destas festas chamadas de inocência, era de que se experimenta um desejo ardente de chibatear, a torto e a direito, toda a pirralhada" (Louis Veuillot, L'Univers, 28 de Dezembro de 1858).

Para encerrar, vejamos o que a este propósito fez aquele que a Santa Igreja aponta como modelo de todos os Párocos modernos.

Extraímos nossas citações da magnífica obra de Mons. H. Convert, “Le Saint Curé D'Ars et le Sacrement de Pénitence”, ed. Emmanuel Vitte, 1931, pgs. 18-21:

"Tanto o interesse geral do rebanho confiado à guarda de M. Vianney quanto o de certas almas mais particularmente expostas a perder-se exigia o desaparecimento de uma tão perniciosa desordem (as danças). Ele refletiu nisso, e, desde então, se resolveu a aplicar, ao da letra, os princípios da Teologia Moral sobre os pecadores ocasionais e os reincidentes, com uma grande bondade, mas também com uma energia de bronze, que nada faria recuar. Ele recusou, com efeito, a absolvição, mesmo no tempo pascal, a todas as pessoas que haviam dançado, ainda que fosse uma vez, no decurso do ano; e, enquanto ele julgava provável que elas tornariam a cair no seu pecado", afastava-as da participação nos sacramentos. Elas podiam vir confessar-se, e, de fato, a maior parte continuava a vir; ele as encorajava, exortava-as a mudar de vida, mas não as absolvia. "Se não vos corrigis, lhes dizia, estais condenados!"

"Este procedimento, como se pode conceber, suscitou muitas recriminações; comentou-se abertamente, e de todas as maneiras, que o Sr. Cura "não era cômodo"; comparou-se o seu método com o de seus confrades mais indulgentes; qualificou-se o Cura d'Ars de escrupuloso, de ingrato" (no idioma da região, ingrato quer dizer aborrecido, desagradável). Certas pessoas foram confessar-se nas paróquias vizinhas; ele lhes retrucou que elas tinham ido "buscar um passaporte para o inferno". Entre si, estas pessoas o acusavam, dizendo: "Ele quer fazer com que nós prometamos coisas que não podemos cumprir; ele quereria que fossemos santos, e isto não é muito possível no mundo. Ele quereria que nós jamais puséssemos os pés na dança, e que jamais freqüentássemos os “cabarets” e os jogos. Se tudo isto fosse necessário, jamais faríamos a Páscoa..." Contudo, "não se pode dizer que não mais se voltará a estes divertimentos, pois que não se sabem as ocasiões que se poderão deparar". A esta argumentação interesseira, ele replicou: "O confessor, enganado por vossa linguagem artificiosa, vos a absolvição, e vos diz: "Sede bem comportados!" Por mim, eu vos digo que fostes calcar aos pés o sangue adorável de Jesus Cristo, que fostes vender vosso Deus como Judas o vendeu aos seus carrascos".

Que ganhou o Cura d'Ars com tal método? Muitos jovens de ambos os sexos ficaram excluídos dos sacramentos durante anos inteiros... É verdade. Poder-se-á pensar, poder-se-á dizer que foi um mal? De outro modo, eles os teriam recebido nula, senão sacrilegamente; eles teriam aliado, como acontece demasiado comumente, as práticas da vida cristã e as desordens do coração; a paróquia teria parecido convertida, sem o estar na realidade; as pompas de Satanás estariam sempre prestigiadas, o Príncipe das trevas teria ficado o verdadeiro senhor da situação. Ora, o Cura d'Ars queria que, de seu rebanho, Jesus Cristo fosse rei sem contraste. Por Jesus Cristo, ele se empenhou numa guerra demais de vinte anos, disputando palmo a palmo o terreno ao inimigo, sacrificando na batalha seu repouso e, mesmo, transitoriamente, sua reputação, derramando seu sangue em borbotões quase todos os dias, extenuando-se de fadigas e de jejuns. A vitória foi, por fim, completa, definitiva; a piedade e a virtude puderam florescer à vontade sobre esta terra purificada e conquistada para seu único Mestre, e ainda hoje continuamos a saborear os seus frutos.

"De resto, digamo-lo de passagem, não foi somente frente às danças que apareceu a firmeza do Cura d'Ars. "O pecador que não se rendia às suas ternas admoestações – assim depôs seu coadjutorencontrava-o inflexível em manter as regras", e esbarrava numa barreira infrangível".

Acrescenta em nota o mesmo autor: “As danças foram logo abolidas na paróquia, embora experimentassem reaparecer de longe em longe. A partir de 1832, não se fala mais delas. Mas rapazes e moças quiseram se desenfastiar indo dançar na vizinhança. Foi então, sobretudo, que o Santo se armou de uma intransigente firmeza”.

 

 

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