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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • QUARTA PARTE   Atitudes da Ação Católica na expansão da doutrina da Igreja
    • CAPÍTULO V   Os "Círculos de Estudo"
      • O que ela tem de bom e de mau
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O que ela tem de bom e de mau

 

Como, em geral, nas doutrinas que temos refutado, encontram-se aí algumas verdades, algumas utopias, e muitos erros:

I – É infelizmente certo que muitas e muitas vezes as aulas são hoje de uma esterilidade aflitiva. A linguagem do professor consta de termos com que o aluno não está inteiramente familiarizado. Os problemas debatidos carecem enormemente de atualidade, e o professor revela, ao debatê-los, uma incapacidade radical para compreender as questões atuais. A exposição é feita com absoluta despreocupação de empregar os mil recursos existentes para torná-la mais suave e assim facilitar a atenção dos alunos. A tudo isto se acrescente que o caráter superficial e imediatista de grande número de alunos, sua aversão a qualquer esforço intelectual, por menor que seja, e, finalmente, sua pouquíssima vontade de conhecer a verdade, tudo enfim concorre para os colocar em nível muito inferior ao que normalmente lhes seria necessário para acompanhar a exposição do professor.

II – Estes inconvenientes, sem dúvida muito lamentáveis e para cujo remédio devemos empenhar nossos melhores esforços, de modo algum invalidam a grande verdade de que a aula, comportando uma explanação do professor diante de um auditório cuja função principal consiste em ouvir e entender, é e será sempre o método normal do ensino. Não queremos aqui discutir problemas pedagógicos. Limitar-nos-emos a lembrar que, mesmo entre os mais audaciosos defensores da escola nova, muito poucos levariam sua ousadia ao ponto atingido por certos exclusivistas, que entendem que os círculos de estudos dispensam qualquer aula e por si mesmos bastam para dar toda a formação intelectual – ou quase toda em matéria de Religião. A estes exclusivistas, se aplicam de pleno direito todas as censuras formuladas pelo Santo Padre Pio XI contra a escola nova, na Encíclica "Divini Illius Magistri";

III – Se entendêssemos o contrário, e se devêssemos considerar que o método tradicional da docência exercida por professor abriu falência, seríamos levados a pensar que Nosso Senhor Jesus Cristo dotou de muito pobres recursos a sua Igreja, quando fez da pregação o método por excelência do seu ensino oficial.

Não serve de argumento a famosa maiêutica de Sócrates, processo sem dúvida engenhoso e fecundo, que supunha entretanto alunosdotados de alta competência intelectual e, por outro lado, um genuíno Sócrates para o aplicar. Se a maiêutica se conservou no estado de exceção nos fastos do ensino, e não teve mesmo entre filósofos da envergadura de um Aristóteles ou de um São Tomás quem a aplicasse como método normal e mais comum do ensino, há nisto a prova evidente de que só uma habilidade muito especial e muito rara pode empregar com sucesso tal método;

IVTocamos aqui em um dos maiores erros que cometem os partidários da eliminação da aula como método de ensino. Todo ensino correto não deve apenas proporcionar ao aluno a posse da verdade, mas educá-lo para o esforço intelectual, habituar sua inteligência ao panorama largo das exposições doutrinárias de grande fôlego, aos vastos sistemas de idéias encadeadas entre si e constituindo estruturas ideológicas imponentes e fecundas. Ora, enquanto a aula bem dada proporciona este fruto ao aluno diligente e capaz, pelo contrário, o círculo de estudos, pelo seu aspecto fragmentário, tem que representar normalmente o caos. Com efeito, renuncia ao bom senso quem imagina que um dirigente normal pode conduzir, dentro dos métodos acima expostos, uma discussão. A técnica aqui analisada supõe que o dirigente saiba insinuar de tal maneira as respostas, que a verdade nasça por assim dizer espontaneamente dos debates. Os mais consumados diplomatas teriam por vezes dificuldade em canalizar por esta forma digressões de um grupo de dez pessoas, perdidas no labirinto de questões doutrinárias vastíssimas, ligadas umas às outras, e das quais cada uma sugere outras mil. Não tenhamos a ilusão de que os dirigentes de círculos de estudos, sobretudo sendo eles tão numerosos que bastem para as inúmeras paróquias que possuímos, tenham tal capacidade.

Precisamente por isto, os círculos de estudos têm dado lugar a equívocos e erros inúmeros.

V – A isso acrescente-se que o próprio método dos círculos de estudos, assim concebido, acostumando os espíritos a debater, sem o devido fundamento, os mais variados problemas, deforma as inteligências, dando-lhes o hábito da soberba. E a soberba gera a temeridade, em conseqüência da qual são as pessoas tentadas a realizar coisas superiores as suas próprias forças. As inteligências habituadas a se pronunciarem sobre assuntos que elas reconhecem, de modo mais ou menos claro, superiores a si mesmas, são inteligências soberbas e é óbvio que os círculos de estudos podem ser verdadeiras escolas de soberba. "Altiora te ne quaesieris" diz S. Tomás aos que querem adquirir o tesouro da ciência.

VI – A esses inconvenientes intrínsecos, acrescentemos outros, que não afetam os círculos de estudos senão de modo meramente circunstancial e que só têm importância enquanto a carência de medidas enérgicas os deixam existir.

Na prática, o cuidado de fazer círculos de estudos tem sido confiado muitas vezes a pessoas ainda na adolescência, ou de uma cultura tal, que lhes falta toda a aptidão para o assunto. Conhecemos o caso concreto de uma dirigente, a quem se perguntou inopinadamente, durante o círculo, se os gatos têm alma. A dirigente, para a qual este problema constituía impenetrável mistério, sentiu-se confundida, e o círculo terminou sob o riso de todas as amigas, aliás tão pouco enfronhadas da solução, quanto a própria dirigente. Mas, se pretendermos, como infelizmente se pretende, distribuir açodadamente círculos de estudos por todas as paróquias de todas as Dioceses deste imenso Brasil, que outra qualidade de dirigente se poderá esperar?

Por outro lado, como esperar que nosso douto e zeloso Clero possa comparecer aos inúmeros círculos, que grupinhos de dez pessoas fariam dentro da paróquia, e como esperar que a ortodoxia se mantenha, sem a presença do Sacerdote, em todos os círculos tão numerosos?

De tudo quanto dissemos se deduz que o desígnio de erigir os círculos de estudos em processo exclusivo ou capital para a instrução religiosa e orientação geral dos membros da A. C. é inaceitável, do ponto de vista didático, e só pode resultar de preconceitos e tendências que não podem encontrar guarida em um católico bem formado.

 

 




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