Devem ser utilizados pela A. C. os círculos de estudos?
Se não louvamos os círculos de estudos realizados com o espírito e com as
tendências acima, não quer isto dizer que projetemos ou proponhamos sua
completa eliminação. Pelo contrário, entendemos que, bem utilizados, podem ser
muito úteis à A. C..
Desde que se renunciasse inteiramente à pretensão de dar ao círculo de
estudos um caráter primordial, e se lhe atribuísse exclusivamente uma função
subsidiária das aulas ou cursos – colocados estes em sua função normal e
tradicional – os círculos de estudos funcionariam como elementos acessórios, e
aí seriam utilíssimos.
Por mais bem dada que seja uma aula, jamais conseguirá ela resolver os
múltiplos problemas e objeções que suscitará nos alunos, e não poderá atender o
interesse particular, que cada um deles sentir por este ou aquele aspecto do
assunto abordado. Por isto, o contato do
professor com o aluno, fora da aula, produz sempre resultados didáticos
inapreciáveis. Com o intuito de metodizar e de tornar eficaz tal contato,
formaram-se em várias universidades reuniões de alunos e professores, que, com
o nome de "seminários", se destinam a proporcionar, em um ambiente de
intimidade, uma aproximação fecunda entre o mestre e seus discípulos.
Somando esta vantagem
a outras, estabeleceu-se que em tais reuniões deveriam os alunos tomar uma
parte muito ativa, produzindo trabalhos de especialização, fazendo perguntas,
discutindo entre si, tudo sob a autoridade vigilante do catedrático, ou de seu
assistente. Assim, quanto a sua estrutura, esta organização está a dois passos
dos círculos de estudos, em relação aos quais apresenta de comum toda a
flexibilidade, todas as vantagens decorrentes da iniciativa dos alunos, da
livre discussão entre eles etc.. Por outro lado, os círculos diferenciam-se
destes "seminários" em um ponto substancial: enquanto o
"seminário" realiza suas sessões tendo por base a preparação anterior
das aulas e por garantia a presença do professor, que ali comparece no
exercício de sua função docente, o círculo carece de qualquer preparação da
parte dos seus membros, excluído o dirigente, e não tem a garantia de qualquer
autoridade. O "seminário" é feito para completar a ação do professor.
O círculo é feito para eliminá-la.
É óbvio que o problema
da terminologia apresenta aí uma importância secundária. Desde que os círculos
de estudos passam a ser verdadeiros "seminários", não importa a
denominação que se lhes possa dar. O que, entretanto, é capital, é que os
círculos percam sua confiança na ciência nascida por geração espontânea, e
passem a se desenvolver em função de aulas e cursos, que deverão ser sempre o
principal instrumento de formação da A. C..
Não consideramos
indispensável que o dirigente do círculo seja sempre um Sacerdote. Mas, se
algum leigo receber esta tarefa, deverá ter um grau de formação e instrução
muito maior que o de um simples catequista, já que este só cuida, entre nós, em
via de regra, de crianças, enquanto o dirigente de círculos de estudos tratará
em geral com adolescentes e adultos. A A. C. andaria, pois, muito sabiamente,
se exigisse de tais dirigentes estudos especiais, regularmente comprovados
mediante exames, e proporcionados às exigências intelectuais do ambiente,
perante o qual houvessem de atuar.
Encerraremos, este
capitulo, com uma consideração final, embora seja de pormenor.
Em capítulos
anteriores, mostramos as conseqüências concretas a que conduz a doutrina de que
o Assistente Eclesiástico é mero censor doutrinário nas reuniões das diretorias
da A. C.: praticamente, escapa-lhe das mãos todo o poder efetivo, ficando-lhe
apenas a ingrata função de vetar. Não obstante, lhe restaria ainda a
atribuição, aliás apreciável, de formar os membros da A. C.. Se, entretanto,
toda a formação deve ser feita em círculos de estudos, e, dado que estes jamais
devem ter normalmente mais de uns dez membros, daí se deduz que, em um setor da
A. C. que tivesse duzentos membros, o Assistente seria forçado a vinte reuniões
por semana se quisesse formar pessoalmente todos os membros. É patente que não
lhe restaria tempo para tanto, pelo que seria forçado a formar um pequeno grupo
que por sua vez formaria os demais. Curiosa situação! Em última análise, o
Assistente perderia qualquer ação direta sobre a massa dos associados, e a
função de formar ficaria nas mãos daqueles mesmos que já reivindicam a função
de governar. Mais uma vez se torna frisante a analogia entre a situação que se
pretende criar para o Assistente Eclesiástico na A. C. e a do Sacerdote nas
velhas Confrarias do tempo de D. Vital e de D. Antonio de Macedo Costa.
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Para concluir,
julgamos útil condensar em alguns itens os princípios que, sobre círculos de
estudo, acabamos de enumerar:
I – Os círculos de
estudos não podem bastar para dar formação intelectual e moral aos membros e
estagiários da A. C.. Tal formação deverá ser dada em aulas, conferências ou
palestras, pelo Assistente Eclesiástico ou professor autorizado;
II – Entretanto, como
elemento complementar da ação do professor, e sempre sob a direção deste,
poderão os círculos de estudos produzir resultados preciosos.
III – Nestes círculos,
o professor continuará com toda a autoridade. Não será um simples presidente de
sessão incumbido de pôr em ordem as discussões por demais acaloradas. Será também a autoridade que ensina e decide.
IV – Em tais círculos,
o professor não deverá ocultar em nenhum sentido suas prerrogativas, mas saberá
servir-se delas com a benignidade necessária para pôr inteiramente à vontade os
componentes do círculo, permitindo-lhes exprimir com facilidade e desembaraço
as perguntas, dúvidas ou objeções que queiram formular.
V – Os assuntos tratados no círculo devem conformar-se
a uma ordem geral de modo a evitar que eles percam qualquer relação com a aula
ou curso a que se devem referir.
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