Os pecadores antes e depois de Cristo
Mesmo depois da
Redenção, continuou a existir o pecado original com o triste cortejo de suas
conseqüências na vontade e na inteligência do homem. Por outro lado os homens
continuaram sujeitos às tentações do demônio. E tudo isto fez com que não desaparecesse
da terra o pecado, pelo que a Igreja continuou a navegar num mar agitado, no
qual a obstinação e a malícia dos pecadores erguem contra ela obstáculos que a
todo momento ela deve romper. Basta um lance de olhos, ainda que superficial,
na História da Igreja, para dar a esta verdade uma evidência cruel. Mais ainda.
A graça santifica os que a aceitam, mas a rejeição de graça fará um homem pior
do que ele era antes de a receber. É neste sentido que o Apóstolo escreve que
os pagãos convertidos ao Cristianismo e depois arrastados pelas heresias se
tornam piores do que eram antes de ser cristãos. O maior criminoso da História,
não foi certamente o pagão que condenou Jesus Cristo a morte, nem mesmo o sumo
sacerdote que dirigiu a trama dos acontecimentos que culminaram com a
crucifixão, mas o apóstolo infiel que por trinta dinheiros vendeu seu Mestre.
"Quanto maior a altura mais fundo o tombo", diz um ditado de nossa
sabedoria popular. Que profunda e dolorosa consonância com os ensinamentos da Teologia
tem esta asserção!
Assim, a Santa Igreja
tem de se defrontar no seu caminho com homens tão maus ou ainda piores do que
aqueles que, vigente o Antigo Testamento, se insurgram contra a lei de Deus. E
o Santo Padre Pio XI, na Encíclica "Divini Redemptoris" declara que
em nossos dias não só alguns homens mas "povos inteiros se encontram no
perigo de recair em uma barbárie pior que aquela em que jazia a maior parte do
mundo ao aparecer o Divino Redentor".
Portanto, a defesa dos
direitos da verdade e do bem exige que, com um vigor maior que nunca, se dobre
a cerviz dos múltiplos inimigos da Igreja. Por isto deve o católico estar
pronto a brandir com eficácia todas as armas legítimas, sempre que suas orações
e sua cordura não bastarem para reduzir o adversário.
Notemos nos textos seguintes quantos e que admiráveis exemplos de argúcia
penetrante, de combatividade infatigável, de franqueza heróica encontramos no
Novo Testamento. Veremos assim que Nosso Senhor não foi um doutrinador
sentimental mas o Mestre infalível que, se de um lado soube pregar o amor com
palavras e exemplos, de uma insuperável e adorável doçura, soube, também pela
palavra e pelo exemplo, pregar com insuperável e não menos adorável severidade
o dever da vigilância, da argúcia, da luta aberta e rija contra os inimigos da
Santa Igreja, que a brandura não puder desarmar.
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