A idolatria da
popularidade
Como dissemos, em outro capítulo, a impopularidade foi o prêmio do Mestre, depois
das atitudes varonis e desassombradas de que Ele nos deu exemplo. Essa
impopularidade, que é para muitos a suprema desgraça, o espantalho inspirador
de todas as concessões e de todas as retiradas estratégicas, a característica
sinistra de todo o apostolado fracassado aos olhos do mundo, foi contra Nosso
Senhor tão grande, que chegaram a acusá-lo de malfazejo: E os pastores fugiram,
e, indo à cidade, contaram tudo, e o sucedido com os que tinham estado
possessos do demônio. E logo toda a
cidade saiu ao encontro de Jesus; e, quando o viram, pediram-lhe que se
retirasse do seu território" (S. Mateus, VIII, 3 a 34).
Nosso Senhor predisse
como inevitável a existência de inimigos, a seus fiéis de todos os séculos,
neste tópico: “O irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos
se levantarão contra os pais, e lhes darão morte; e vós, por causa do meu nome,
sereis odiados por todos” (S. Mateus, X, 19 a 22). Como se vê, é o ódio
levado a ponto de suscitar luta feroz contra os seguidores de Jesus.
E as acusações serão
terríveis, contra os fiéis! Mas assim mesmo não deverão eles renunciar aos
processos apostólicos desassombrados: "Não é o discípulo mais que o (seu)
mestre, nem o servo mais que o (seu) senhor. Basta ao discípulo ser como o mestre,
e ao servo como o senhor. Se eles chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais
aos seus domésticos? Não os temais pois; porque nada há encoberto que se não
venha a descobrir, nem oculto que se não venha a saber. O que eu vos digo nas
trevas, dizei-o às claras; e o que vos é dito ao ouvido, pregai-o sobre os
telhados". (S. Mateus, X, 24 a 27).
Como já dissemos, devem os fiéis prezar altamente a estima de seus
semelhantes, mas desprezar seu ódio, sempre que este seja fundado em uma
aversão à Verdade ou à Virtude. O apóstolo deve desejar a conversão do próximo,
mas não deve confundir a conversão sincera e profunda de um homem ou de um povo
com os sinais de uma popularidade de superfície. Nosso Senhor fez seus milagres
para converter, e não para ser popular: "Esta geração má e adúltera pede
um prodígio, mas não lhe será dado outro prodígio, senão o prodígio do profeta
Jonas" (São Mateus, XII, 39), disse Ele, indicando com isto que os
milagres inúteis à conversão não se realizariam. E, com efeito, se bem que os milagres
pudessem valer certa popularidade ao Salvador, era uma popularidade inútil,
porque não procedia do desejo de conhecer a Verdade.
Quanto apóstolo tenta,
no entanto, o possível e o impossível. para ser popular, e a este anelo
sacrifica até os princípios! Talvez ignore que perde assim a bem-aventurança
prometida pelo Senhor aos que, por amor à ortodoxia e à virtude eram odiados
pelos inimigos da Igreja: "Sereis bem-aventurados quando os homens vos
amaldiçoarem, vos perseguirem, vos odiarem, vos carregarem de opróbrios e
injurias e repelirem vosso nome como infame. Alegrai-vos e exultai, porque uma
grande recompensa vos está reservada no céu."
Nunca sacrifiquemos,
diminuamos ou arranhemos a Verdade, por maiores que sejam os rancores que com
isto pesarem sobre nós. – Nosso Senhor nos deu o exemplo, pregando a verdade e
o bem, expondo-se por isto até a ser preso, como vemos: "Porventura não
vos deu Moisés a lei; e, contudo, nenhum de vós observa a lei? Porque procurais vós
matar-me? O povo respondeu, e disse: Tu
estás possesso do demônio; quem procura matar-te? Jesus respondeu, e disse-lhes: Eu
fiz uma só obra, e todos estais por isso maravilhados. Vós, contudo, porque
Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não vem de Moisés mas dos
patriarcas), circuncidai-vos, mesmo em dia de sábado. Se, para não se violar a
lei de Moisés, recebe um homem a circuncisão no dia de sábado, porque vos
indignais comigo porque em dia de sábado curei um homem em todo o seu corpo? Não julgueis segundo a aparência, mas julguei segundo
a reta justiça.
"Então, alguns de
Jerusalém diziam: – Não é este aquele que procuram matar? E eis que ele fala
publicamente, e não lhe dizem nada. Será que os chefes do povo tenham
verdadeiramente reconhecido que este é o Cristo? Nós, porém sabemos donde este
é; e o Cristo quando vier, ninguém saberá donde ele seja. E Jesus levantava a
voz no templo, ensinando e dizendo: Vós não só me conheceis, mas sabeis donde
eu sou; e eu não vim de mim mesmo, mas é verdadeiro, aquele que me enviou, a
quem vós não conheceis. Mas eu conheço-o, porque sou dele, e ele me enviou.
Procuravam, pois, os Judeus prendê-lo; mas ninguém lhe lançou as mãos, porque
não tinha ainda chegado a sua hora (S. João VII, 19 a 30)".
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