São errôneas as tendências igualitárias do
"Sillon"
Com efeito, o
"Sillon" se propõe o reerguimento e a regeneração das classes
operárias. Ora, sobre esta matéria os princípios da doutrina católica são
fixos, e a história da civilização cristã aí está para atestar sua fecundidade
benfazeja. Nosso predecessor, de feliz memória, recordou-os em páginas
magistrais, que os católicos ocupados em questões sociais devem estudar e ter
sempre sob os olhos. Ele ensinou, de um modo especial, que a democracia cristã
deve "manter a diversidade das classes, que é seguramente o próprio da
cidade bem constituída, é querer para a sociedade humana a forma e o caráter
que Deus, seu autor, lhe imprimiu." Ele fulminou "uma certa
democracia que vai até aquele grau de perversidade de atribuir, na sociedade, a
soberania ao povo e de pretender a supressão e o nivelamento das classes".
Ao mesmo tempo, Leão XIII impunha aos católicos um programa de ação, o único
programa capaz de recolocar e de manter a sociedade sobre suas bases cristãs
seculares. Ora, que fizeram os chefes do "Sillon"? Não somente
adotaram um programa e um ensinamento diferentes dos de Leão XIII (o que já
seria singularmente audacioso da parte de leigos, que se colocam assim, em concorrência
com o Soberano Pontífice, como diretores da atividade social na Igreja); mas
rejeitaram abertamente o programa traçado por Leão XIII, e adotaram um outro,
que Lhe é diametralmente oposto; além disso, rejeitam a doutrina relembrada por
Leão XIII sobre os princípios essenciais da sociedade, colocam a autoridade no
povo ou quase a suprimem, e tomam, como ideal a realizar, o nivelamento das
classes. Eles caminham pois, ao revés da doutrina católica, para um ideal
condenado.
Nós bem sabemos que
eles se gabam de reerguer a dignidade humana e a condição demasiado desprezada
das classes trabalhadoras, de tornar justas e perfeitas as leis do trabalho e
as relações entre o capital e os assalariados, enfim, de fazer reinar sobre a
terra uma justiça melhor, e mais caridade, e, por movimentos sociais profundos
e fecundos, de promover na humanidade um progresso inesperado. E, certamente,
Nós não condenamos estes esforços, que seriam excelentes a todos os respeitos,
se os sillonistas não esquecessem que o progresso de um ser consiste em
fortificar suas faculdades naturais por novas energias e a facilitar o jogo de
sua atividade no quadro e de acordo com as leis de sua constituição; e que,
pelo contrário, ferindo seus órgãos essenciais, quebrando o quadro de suas atividades,
impele-se o ser não para o progresso, mas para a morte. Entretanto, é isto que
eles querem fazer com a sociedade humana; seu sonho consiste em trocar as bases
naturais e tradicionais desta e prometer uma cidade futura edificada sobre
outros princípios, que eles ousam declarar mais fecundos, mais benfazejos do
que os princípios sobre os quais repousa a atual cidade cristã.
Não, Veneráveis Irmãos
– e é preciso lembra-lo energicamente nestes tempos de anarquia social e
intelectual, em que todos se erigem em doutores e legisladores – a cidade não
será construída de outra forma senão aquela pela qual Deus a construiu; a
sociedade não será edificada se a Igreja não lhe lançar as bases e não dirigir
os trabalhos; não, a civilização não mais está para ser inventada nem a cidade
nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a civilização
cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la sem
cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes
da utopia malsã, da revolta e da impiedade; "omnia instaurare in
Christo".
E para que não se Nos
acuse de julgar muito sumariamente e com rigor não justificado as teorias
sociais do "Sillon", queremos rememorar-lhe os pontos essenciais.
|