Exortação ao
Episcopado
No que se refere a
vós, Veneráveis Irmãos, continuai ativamente a obra do Salvador dos homens pela
imitação de sua doçura e de sua força. Inclinai-vos para todas as misérias; que nenhuma
dor escape à vossa solicitude pastoral; que nenhum gemido vos encontre
indiferentes. Mas também, pregai ousadamente seus deveres aos grandes e aos
pequenos; a vós compete formar a consciência do povo e dos poderes públicos. A
questão social estará bem perto de ser resolvida quando uns e outros, menos
exigentes a respeito de seus direitos recíprocos, cumprirem mais exatamente
seus deveres.
Além disso, como no
conflito dos interesses, e principalmente na luta com as forças desonestas, a
virtude de um homem, e mesmo sua santidade, não é sempre suficiente para lhe
assegurar o pão quotidiano, e como as engrenagens sociais deveriam estar
organizadas de tal forma que, por seu jogo natural, paralisassem os esforços
dos maus e tornassem acessível a toda boa vontade sua parte legítima de
felicidade temporal, Nós desejamos vivamente que tomeis uma parte ativa na
organização da sociedade, para este fim. E, para isto, enquanto vossos padres
se entregarão com ardor ao trabalho da santificação das almas, da defesa da
Igreja, e às obras de caridade propriamente ditas, escolhereis alguns dentre
eles, ativos e de espírito ponderado, munidos dos graus de doutor em filosofia
e teologia, e possuindo perfeitamente a história da civilização antiga e
moderna, e os aplicareis aos estudos menos elevados e mais práticos da ciência
social, para, no tempo oportuno, colocá-los à testa de vossas obras de ação
católica. Contudo, que estes padres não se deixem transviar no dédalo das
opiniões contemporâneas, pela miragem de uma falsa democracia; que eles não
emprestem à retórica dos piores inimigos da Igreja e do povo uma linguagem
enfática, cheia de promessas tão sonoras quanto irrealizáveis. Que eles estejam
persuadidos que a questão social e a ciência social não nasceram ontem; que, de
todos os tempos, a Igreja e o Estado, em feliz acordo, suscitaram para isto
organizações fecundas; que a Igreja, que jamais traiu a felicidade do povo em
alianças comprometedoras, não precisa livrar-se do passado bastando-lhe
retomar, com o auxílio de verdadeiros operários da restauração social, os
organismos quebrados pela Revolução, adaptando-os, com o mesmo espírito cristão
que os inspirou, ao novo ambiente criado pela evolução material da sociedade
contemporânea; porque os verdadeiros amigos do povo não são nem
revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas.
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