Seria por demais longo referir aqui tudo quanto há
nas páginas de “Em Defesa da Ação Católica” a respeito dessas infiltrações e
dos numerosos aspectos que apresentavam. Mas uma enumeração esquemática dos
traços principais do fenômeno já é de per si bastante ilustrativa.
O espírito da Revolução Francesa foi essencialmente
laico e naturalista. O lema segundo o qual a Revolução intentou de reformar a
sociedade era “liberdade, igualdade e fraternidade”. A influência desse
espírito ou desse lema se encontra em cada um dos múltiplos erros refutados no
livro de Plinio Corrêa de Oliveira.
* Igualitarismo. Como se sabe, Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Igreja como uma
sociedade hierárquica, na qual, segundo o ensinamento de São Pio X, a uns cabe
ensinar, governar e santificar, e a outros ser governados, ensinados e
santificados (cfr. Encíclica “Vehementer”, de 11-2-1906).
Como é natural, essa distinção da Igreja em duas
classes não pode ser do agrado do ambiente moderno modelado pela Revolução. Não
é de surpreender, pois, que em matéria de Ação católica tenha aparecido uma
teoria que, em última análise, tendia a nivelar o Clero e os fiéis. Pio XI
definira a Ação Católica como a participação dos leigos no apostolado
hierárquico da Igreja. Como quem participa tem parte, argumentava-se, os leigos
inscritos na AC têm parte da missão e da tarefa da Hierarquia. Ao contrário
são, pois, hierarcas em miniatura. Não são mais meros súditos da Hierarquia,
mas quase diríamos uma franja desta.
* Liberalismo. Nas
fileiras da Ação Católica, ao mesmo passo que entrou um legítimo interesse e
zelo pela Sagrada Liturgia, se esgueiraram também vários exageros do chamado
“liturgicismo”.
A profissão desses erros – como é inerente ao espírito
liberal – importava numa franca independência de crítica e de conduta face à
doutrina ensinada pela Santa Sé e às práticas por ela aprovadadas, elogiadas e
incentivadas.
Assim, a subestima da piedade privada e um certo
exclusivismo em favor dos atos litúrgicos, uma atitude reticente para com a
devoção a Nossa Senhora e aos Santos, como incompatíveis com uma formação
“cristocêntrica”, certo menosprezo para com o Rosário, a Via Sacra, os
Exercícios Espirituais de Santo Inácio, como práticas obsoletas, tudo isto
constituía mostras de uma singular independência em relação aos numerosos
documentos pontifícios para os quais não há palavras que bastem para recomendar
tais devoções e práticas.
Talvez mais frisante ainda se mostrava a influência do
liberalismo na opinião, sustentada em certos círculos, de que a Ação Católica
não devia prescrever a seus membros regras especiais sobre a modéstia nos
trajes, nem devia ter um regulamento impondo-lhes deveres especiais e penas
para o caso de serem transgredidos tais deveres.
A mesma influência se patenteava ainda na idéia
existente nos mesmos círculos, de que não era necessário o rigor na seleção dos
membros da Ação Católica, embora paradoxalmente se sustentasse ser esta uma
organização de elite.
* Fraternidade. A fraternidade revolucionária importa na negação de tudo quanto legitimamente
separa ou distingue os homens: as fronteiras entre os povos, como entre as
religiões ou as correntes filosóficas, políticas, etc.
No irmão separado, o verdadeiro católico vê tanto o
irmão quanto a separação. Pelo contrário, o católico influenciado pela
fraternidade à 1789 vê o irmão e se recusa a ver a separação.
Daí, em certos ambientes
da Ação Católica, aparecer uma série de atitudes e de tendências
interconfessionais. Não se tratava tão somente de promover um esclarecimento
cortês com os cristãos separados, nos casos em que a prudência e o zelo o
recomendam, mas de entrar em uma política de silêncios e até de concessões que
em última análise, em lugar de esclarecer e converter, só servia para confundir
e desedificar.
No terreno específico da AC, a conseqüência destes
princípios eram a chamada “tática do terreno comum” e as demasias do apostolado
dito “de infiltração”, que o livro de Plinio Corrêa de Oliveira detidamente
analisa e refuta.
No terreno da ação social, tão importante, e no qual o
apostolado clara e especificamente católico vinha alcançando tantos frutos, a
fraternidade de sabor revolucionário influenciava muitos espíritos a favor dos
sindicatos neutros. É, este, outro ponto de que o livro detidamente se ocupa.
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