Com quantas saudades olho, a esta altura do artigo,
para os tempos plácidos e gloriosos, ativos e, dentro de sua nobre serenidade,
também combativos, que antecederam aos dolorosos choques que sumariamente vou historiando!
Em uma unidade total de pensamento e de ação, agrupava-se, no Rio em torno do
vulto transbordante de vida, de atividade e de alegria do Cardeal Leme, em São
Paulo em torno da figura hierática e veneranda de D. Duarte Leopoldo e Silva, um escol de Sacerdotes, e de leigos de
ambos os sexos, dos quais alguns já eram, e outros de futuro viriam a ser, a
vários títulos, elementos exponenciais da vida brasileira. A cooperação era
total. O entendimento mútuo era profundo. O célebre Padre Garrigou-Lagrange,
que passou pelo Brasil por volta de 1937, me disse que era esta a nota que mais
o impressionara na vida religiosa do País.
Mas, ao mesmo tempo que da Europa tanta coisa boa
nos vinha, os germes do espírito de 1789, incubados em certos livros sobre a Sagrada
Liturgia, a Ação católica e a ação social, vinham também. Surdamente, uma
fermentação se foi generalizando. Como acabamos de lembrar, práticas de piedade
excelentes passaram a ser criticadas como obsoletas. A comunhão “extra Missam”
era apontada como gravemente incorreta do ponto de vista doutrinário. Um manual
de piedade célebre, o Goffiné, cumulado de bênçãos e aprovações eclesiásticas,
era indicado como o próprio símbolo de uma era eivada de sentimentalismo, de
individualismo e de ignorância teológica, a qual era mister superar. As
Congregações Marianas e outras associações eram apontadas como formas de
organização e atividade apostólica anacrônicas e fadadas a um rápido
perecimento, em benefício da AC, única a dever sobreviver.
Como é natural, onde estas idéias se espalhavam,
formava-se certa reação. Na realidade, porém, as reações o mais das vezes eram
esporádicas, momentâneas. O espírito do brasileiro, tão confiante, tão
pacífico, tão propenso a aceitar o que vem de certas nações da Europa, como a
França, a Alemanha, a Bélgica, é infenso ao tipo de reação que as
circunstâncias exigiam. Era preciso fazer um rol dos erros, descobrir o nexo
que entre todos eles existia, enunciar em seguida o substrato ideológico comum
a todos, refutar cada erro de modo a lhe descer até as raízes envenenadas, e
assim precatar os espíritos contra o insidioso ataque.
Sabia-se nos ambientes bem informados que o Núncio
Apostólico, D. Bento Aloisi Masella, que vários Prelados se preocupavam com a situação,
porém que, em sua sabedoria, não julgavam chegado o momento de uma intervenção
oficial da Autoridade. Eu soube então que o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira
pensou de si para si que o melhor seria que um leigo assumisse o papel de
para-raio. Que por um livro consagrado à exposição concatenada e à refutação
daqueles erros, se causasse um estrondo capaz de alertar as almas bem
intencionadas mas por demais desavisadas, de sorte que a expansão do mal
ficasse, se não tolhida, pelo menos circunscrita. Pois não seria possível
evitar que o erro tragasse aqueles cujo espírito já estava profundamente
preparado para lhe dar adesão.
E assim, honrado com um prefácio do Embaixador do
Papa, e com o “imprimatur” dado “ex commissione” do Arcebispo D. José Gaspar, o
livro saiu…
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