De um
estouro e do que se lhe seguiu
Do estouro que produziu, já falei. Pobre “Em Defesa
da Ação Católica”: dele tudo se disse. Ora se afirmou que era obra de sapateiro
trabalhando fora de seu mister: livro de leigo, que supunha conhecimentos de
Teologia e Direito Canônico. Ora, para melhor combater o livro, se afirmava que
um leigo jamais teria conseguido escrever tal trabalho. E então se lhe fazia a
honra de lhe atribuir como autor, ora Mons. Mayer, ora o Pe. Sigaud. Honra
muito grande, com efeito, mas que destoava da verdade histórica, pois que o
livro fôra ditado pelo Dr. Plinio Corrêa de Oliveira ao longo de um mês de
trabalho, em Santos, ao então jovem Secretário Arquidiocesano da JEC de São
Paulo, José Carlos Castilho de Andrade – hoje grande esteio das atividades
redatoriais de “Catolicismo” – que amavelmente se dispusera a tal.
Foi obtido o resultado a que a obra visava? Graças a Deus, sim. E
isto não só pela mobilização em torno dos princípios de “Em Defesa da Ação Católica”
de uma pleiade brilhante e prestigiosa de bons batalhadores, como também – e
talvez principalmente – pela atitude de um enorme número de leitores… que não
gostaram do livro. Acharam-no por demais categórico. Consideraram que era inoportuno. Não dissentiam de
suas doutrinas mas reputavam inexistente ou insignificante o mal contra o qual
fôra escrito. Mas enfim despertaram, e souberam manter uma atitude de prudência
e alheiamento em relação aos inovadores e às inovações. A partir deste momento,
o erro continuou a caminhar, mas desmascarado, e conquistando apenas quem
simpatizasse com sua verdadeira face.
Este resultado obtido, o autor de “Em Defesa da Ação
Católica” se recolheu, como é notório, ao silêncio, limitando-se a registrar
nas páginas do “Legionário” os testemunhos de apoio, e a receber com paciente
mutismo as agressões.
Passemos sobre a triste história destas últimas. Ela
não foi curta. Mas foi pontilhada de grandes motivos de alegria para o Autor.
Com efeito, desses erros, dos quais se dizia que sua
difusão era insignificante, ou até que haviam sido forjados pela imaginação do
Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, uma série de
documentos pontifícios começou a se ocupar deles. Como se o Papa Pio XII
tivesse por estranha e inexplicável coincidência forjado como existentes em
vários países os mesmíssimos erros que o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira
anteriormente imaginara existirem no Brasil.
“Em Defesa da Ação Católica” foi publicado em junho
de 1943. A Encíclica “Mystici Corporis” apareceu em 29 do mesmo mês. A
Encíclica “Mediator Dei” é de 1947. A Constituição Apostólica “Bis Saeculari
Die” foi publicada em 1948. No seu conjunto, esses três documentos enunciavam,
refutavam e condenavam os principais erros sobre que versava o livro.
Também desses desvios se ocupou um grande literato:
Antero de Figueiredo escreveu sobre idênticos erros existentes em sua Pátria o
belo romance “Pessoas de Bem”.
Mas, dir-se-á, quem
sabe se estes erros existentes na Europa, não existiam no Brasil. Que erro, de alguma importância, e de qualquer
natureza, existiu na Europa sem desde logo passar para o Brasil? De qualquer
forma, a Carta da Sagrada Congregação dos Seminários ao Venerando Episcopado
Brasileiro, datada de 7 de março de 1950, deixa ver da parte da Santa Sé uma
especial preocupação a respeito de semelhantes erros em nosso País. E, por fim,
se “Em Defesa da Ação Católica” não tivesse por base senão uma série de
invenções, como se explicaria que, na carta escrita ao Autor, em nome do Papa
Pio XII, pelo então Substituto da Secretaria de Estado, Mons. Montini, se
afirmasse que da difusão do livro muito bem se poderia augurar?
Mas a existência desses
erros entre nós, pode ser confirmada por testemunhos eclesiásticos brasileiros
de grande importância.
Antes de tudo, é de
justiça lembrar o nome saudoso de Mons. Sales Brasil, o vitorioso contendor
baiano de Monteiro Lobato. em seu livro “Os Grandes Louvores”, publicado no ano
de 1943, com os olhos evidentemente postos na realidade nacional, ocupa-se ele
de alguns problemas tratados por “Em Defesa da Ação Católica”. Ao lado deste nome, convém pôr outro, de fama
internacional: o do grande teólogo Pe. Teixeira-Leite Penido, que em seu livro
“O Corpo Místico”, de 1944, também menciona e refuta alguns dos erros apontados
por “Em Defesa da Ação Católica”.
Mais ainda. Valor ímpar nesta matéria têm os
documentos procedentes de venerandas figuras do Episcopado Nacional. A
Província Eclesiástica de São Paulo dirigiu ao Clero, em agosto de 1942, uma
circular alertando-o contra os excessos do liturgicismo. O saudoso Mons.
Rosalvo Costa Rego, Vigário Capitular do Rio de Janeiro na vacância de D.
Sebastião Leme, publicou em maio de 1943 uma Instrução sobre erros análogos.
Anos depois, em 1953, uma voz potente como aquelas de que fala o Apocalipse, se
ergueu nas fileiras da Hierarquia. Foi a de D. Antonio de Castro Mayer, que em
sua memorável Carta Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno, deu contra
esses erros, sempre vivos, um golpe que ficará na História. Vieram de todo o
País as manifestações de apoio ao ilustre Prelado, numerosas e expressivas,
enfeixadas pela Editora Boa Imprensa em um precioso opúsculo intitulado
“Repercussões”. Ao mesmo tempo, seu trabalho ia transpondo as fronteiras do
Brasil. Editado na Espanha, na França, na Itália e na Argentina, comentado
elogiosamente por folhas católicas de quase todos os quadrantes, era seu
próprio sucesso a prova de que era autêntico e largamente difundido o perigo
que ele visava evitar.
Em suma, a existência e a gravidade dos problemas
abordados por “Em Defesa da Ação Católica” se tornaram claras como água.
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