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Plinio Corrêa de Oliveira Em defesa da Ação Católica IntraText CT - Texto |
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Vida interior acima de formação técnica
Mas, de que natureza deve ser esta formação? A este respeito se tem feito, com razão, uma distinção entre formação espiritual, destinada a dotar o apóstolo das virtudes necessárias, e a chamada “formação técnica”, que tem por objetivo ensinar ao estagiário ou membro da A. C. os meios de que se deve servir para tornar eficaz seu apostolado. Tem-se divulgado, infelizmente, entre nós, a doutrina de que a chamada preparação técnica é muito mais importante do que a preparação espiritual, a tal ponto que, em certos círculos, ocupa lugar preponderante, ou quase exclusivo. Discordamos deste modo de entender. Uma simples localização do problema em seus devidos termos mostra a sua verdadeira solução. Se bem que se possa estabelecer entre a formação técnica e a formação espiritual uma certa distinção, esta jamais poderá implicar em separação. Com efeito, a formação técnica compreende noções sobre o fim, natureza, estrutura da A. C., suas relações com a Hierarquia e as várias organizações do laicato, o meio de expor a verdade, atrair as almas, e conquistá-las para Jesus Cristo; o devotamento, o entusiasmo, o espírito sobrenatural com que o apostolado deve ser feito, o conhecimento do ambiente e dos problemas sociais, etc.. Ora, sem instrução religiosa séria, sem verdadeiro senso católico, é absolutamente impossível ter-se de todos estes assuntos, uma idéia exata. Os numerosos erros, que neste livro vimos refutando, provam de sobejo quanta razão nos assiste ao afirmá-lo. Ademais, a posse das qualidades naturais, tão úteis ao apostolado, está longe de ser o fator mais importante do êxito. Prova-o o próprio caráter sobrenatural da comunicação da graça, que é a essência do apostolado. Limitemo-nos somente a narrar aqui um fato típico referido por D. Chautard. É evidentemente conforme ao bom senso que se desenvolva com todo o esmero a formação técnica. Mas seria um absurdo negligenciar a formação espiritual, sacrificando-a à formação técnica. Antes pelo contrário, se algum sacrifício devesse ser feito, sê-lo-ia necessariamente em detrimento da técnica e em proveito da vida interior. Em outros termos, na ordem dos valores a formação espiritual deve preceder a formação técnica. Leiamos o esplêndido exemplo que, a este respeito, narra Dom Chautard: "Uma Congregação de admiráveis Irmãs catequistas era dirigida por um Religioso, cuja vida se escreveu há pouco. "Minha Madre, disse um dia esse homem interior a uma Superiora local, sou de opinião que a Irmã X..., deixe, pelo menos durante um ano, de ensinar o catecismo. – Mas, meu Padre, talvez V. R. não tenha pensado que essa Irmã é a melhor da diretoras. As crianças concorrem de todos os bairros da cidade, atraídas pelas suas maneiras maravilhosas. Retirá-la do catecismo é provocar a deserção da maior parte desses rapazinhos. – Assisti da tribuna ao seu catecismo, respondeu o Padre. Ela deslumbra, com efeito, as crianças, mas de uma forma demasiadamente humana. Após mais um ano de noviciado, melhor formada na vida interior, ela há de santificar então a sua alma e as almas das crianças pelo seu zelo e pela utilização dos seus talentos. Mas atualmente, ela é, sem o pensar, um obstáculo à ação direta de Nosso Senhor sobre essas almas que se estão preparando para a primeira Comunhão. Vamos, Madre, vejo que a minha insistência a contrista. Pois bem: aceito uma transação. Conheço a Irmã N..., alma muito interior, mas sem grandes dotes de inteligência. Peça a Sua Superiora Geral que lha envie por algum tempo. A primeira virá começar por um quarto de hora o catecismo, precisamente para acalmar os seus temores de deserção; depois, pouco a pouco, há de retirar-se completamente. Verá como as crianças rezarão melhor e cantarão mais piedosamente os cânticos. O recolhimento e a docilidade delas hão de refletir então um caráter mais sobrenatural. Esse será o termômetro. "Quinze dias depois (a Superiora pôde comprová-lo), a Irmã N... dava sozinha as lições e sem embargo aumentava o número das crianças. Era verdadeiramente Jesus que dava o catecismo por ela. Pelo seu olhar, sua modéstia, sua doçura, sua bondade, pela sua maneira de fazer o sinal da cruz ela dizia Nosso Senhor. A Irmã X... conseguia explicar com talento e tornar interessante as coisas mais áridas. A Irmã N... fazia mais. Certamente ela nada negligenciava para preparar as suas explicações e expô-las com clareza, mas o seu segredo, o que dominava no seu curso, era a unção. É por meio desta unção que as almas se põem verdadeiramente em contacto com Jesus. "Nos catecismos da Irmã N... não abundavam essas expansões ruidosas, esses olhares estupefatos, essa fascinação que, de igual sorte, provocaria qualquer conferência interessantíssima de um explorador ou a comovente narração de uma batalha. "Ao invés havia uma atmosfera de atenção recolhida. – Aquelas crianças estão na sala do catecismo como na igreja. Nenhum meio humano se emprega para impedir a dissipação ou o aborrecimento. Qual é pois a influência misteriosa que paira sobre essa assistência? Não nos iludamos, é a influência de Jesus que ali diretamente se exerce. Porque uma alma interior, explicando as lições de catecismo, é uma lira que vibra tão somente sob os dedos do Artista divino. E nenhuma arte humana, por maravilhosa que seja, é comparável à ação de Jesus" ("A alma de Todo o Apostolado" – págs. 144-145 da edição portuguesa).
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