Índice | Palavras: Alfabética - Freqüência - Invertidas - Tamanho - Estatísticas | Ajuda | Biblioteca IntraText
Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

IntraText CT - Texto

  • TERCEIRA PARTE   Problemas internos da A. C.
    • CAPÍTULO III   As Associações Auxiliares - O "Apostolado de conquista"
      • "Apostolado de conquista"
Precedente - Sucessivo

Clicar aqui para ver os links de concordâncias

"Apostolado de conquista"

 

De tudo quanto acabamos de expor, e sobretudo das enérgicas palavras do Episcopado Alemão, resulta com toda a clareza que não se pode separar o interesse das almas piedosas daquele que se deve ter pelas dos infiéis e pecadores. Por aí se compreende como é infundado interpretar num sentido exageradamente literal a expressão "apostolado de conquista", muito freqüentemente empregada para designar, com um entusiasmo unilateral e exclusivo, as obras de conversão dos infiéis, enquanto este titulo é desprezivelmente negado às obras de preservação e santificação dos bons.

Sem dúvida, toda conversão de infiéis traz para a Igreja uma dilatação de fronteiras, e como toda dilatação de fronteiras é uma conquista, pode-se razoavelmente chamar a tais obras “iniciativas de conquista”. Neste sentido a expressão é licita. Mas, há um erro, e um erro não pequeno, em votar a tais obras, aliás dignas de todo entusiasmo, uma espécie de exclusivismo veemente, que perturba a lucidez dos conceitos e a hierarquia dos valores, atirando a um injustificável menoscabo as outras obras. Falando da propaganda totalitária, disse Jacques Maritain que ela possuía a arte de "fazer delirar as verdades". A conversão dos infiéis é por certo uma obra empolgante, e tudo quanto dela se pudesse dizer em matéria de encômios ainda ficaria aquém da realidade. Não façamos, porém, delirar esta nobre verdade.

Infelizmente, este delírio existe, e é dele que provém a paixão pelas massas e o menoscabo das elites, a monomania dos recrutamentos tumultuários, o descaso implícito ou explicito quanto às obras de preservação, etc., etc.. E é ainda a esta ordem de idéias que se filia um estado de espírito curioso. Em certos círculos, há um entusiasmo tão respeitoso pelos convertidos, que, segundo a expressão de um observador muito penetrante, os que sempre foram católicos "têm uma certa vergonha de jamais haverem apostatado, afim de poderem converter-se". Evidentemente é pouco todo júbilo pela volta do filho pródigo à casa paterna, e são dignas de censura as ciumeiras, que, a este respeito, manifestou o filho sempre fiel. No entanto, a circunstância de haver alguém perseverado sempre, é em si mesma um titulo de honra maior do que a apostasia seguida de sincera emenda. É claro que pode haver uma alma penitente, que se eleve muito mais, do que outra que permaneceu sempre fiel. Seria, porém, temerário discutir, concretamente, se maior admiração se deve à inocência de S. João, ou à penitência de S. Pedro, à penitência de Sta. Maria Madalena ou à inocência de Santa Teresinha do Menino Jesus. Deixemos estas questões ociosas, e sirvamos todos a Deus com humildade, evitando o exagero de transformar a apostasia em um título de vã glória.

A preocupação ou antes a obsessão do apostolado de conquista gera um outro erro que mencionamos simplesmente aqui, e a respeito do qual em ulterior capítulo nos estenderemos mais. Consiste em ocultar ou subestimar invariavelmente o que há de mal nas heresias, afim de dar ao herege, a idéia de que é pequena a distância que o separa da Igreja. Entretanto, com isto, esquece-se que se oculta aos fiéis a malícia da heresia, e se aplainam as barreiras que os separam da apostasia! É o que sucederá com o uso em larga escala, ou exclusivo deste método.

Tem-se divulgado a opinião de que o apostolado da A. C,. em conseqüência de seu mágico mandato, exerce sôbre as almas um efeito santificante, de forma que a simples atividade apostólica basta inteiramente ao membro da A. C., e dispensa a vida interior.

Já se alongou por demais este capitulo, e não queremos entrar nesta complexa matéria em maiores digressões. Por isto, limitar-nos-emos a dizer que a Santa Igreja exige dos Clérigos, e até dos Bispos, que mantenham uma vida interior tanto mais intensa, quanto mais absorventes forem suas obras. Por onde se vê que o apostolado da Hierarquia não exime da vida interior. São Bernardo em seu tratado "De consideratione" não hesita em chamar "obras malditas" as atividades do Bem-aventurado Papa Eugênio III, desde que elas consumissem o tempo exigido para o incremento da vida interior daquele Pontífice. E é das excelsas e por assim dizer divinas ocupações do Papado de que se trata! Que dizer-se então das modestas ocupações de um simples "participante" da Hierarquia? Serão suas atividades mais santificantes que as da própria Hierarquia? Como supor na essência e na estrutura da A. C. virtudes santificantes que dispensam da vida interior!

Enfim, estamos aí em presença de um recrudescimento do americanismo já condenado por Leão XIII; e no documento sobre este assunto, se pode encontrar facilmente uma cabal refutação desta doutrina.

 

*  *  *

 




Precedente - Sucessivo

Índice | Palavras: Alfabética - Freqüência - Invertidas - Tamanho - Estatísticas | Ajuda | Biblioteca IntraText

Best viewed with any browser at 800x600 or 768x1024 on Tablet PC
IntraText® (V89) - Some rights reserved by EuloTech SRL - 1996-2007. Content in this page is licensed under a Creative Commons License