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Plinio Corrêa de Oliveira Em defesa da Ação Católica IntraText CT - Texto |
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Essas doutrinas são errôneas porque pressupõem um panorama falso
A primeira observação que temos de formular a respeito de tantos erros, é que eles procedem do pressuposto falso de que todas ou quase todas as almas afastadas da Igreja se encontram na mesma situação psicológica, isto é, que, sem obstáculos interiores outros que não os puramente intelectuais e sentimentais aguardam a terapêutica estratégica da A. C., afim de se salvarem. E por isto é falsa a idéia de que só um método de apostolado pode servir à A. C., isto é, o método das meias verdades, das meias tintas e das meias palavras. Não contestamos que esta ou aquela alma fora da Igreja, se encontre na situação acima descrita, e que algumas destas almas – não todas – podem ser conduzidas à verdade pela utilização deste método todo de contemporizações e dilações. Há, porém, grave erro em supor que a grande generalidade dos que se encontram fora da Igreja dela estejam afastados por preconceitos meramente intelectuais e equívocos emocionais. Queira-se ou não se queira, o pecado original, mesmo no homem batizado, não deixou apenas na inteligência, mas ainda na vontade e na sensibilidade graves e lamentáveis efeitos, em conseqüência do que todos as homens sentem uma inclinação para o mal, que só conseguem vencer por meio de lutas, por vezes heróicas. Para demonstrá-lo não devemos procurar exemplos nas lutas que, contra suas próprias inclinações, são forçados a desferir os pecadores que começam a emergir de uma vida toda cheia de vícios. Basta correr os olhos pelas vidas dos Santos, para se ver que estes, as vezes depois de anos inteiros vividos na observância das mais austeras virtudes e até depois de haverem adquirido um elevado grau de intimidade com Deus, foram forçados a praticar contra si mesmos as maiores violências, afim de não cometerem ações altamente censuráveis. São Bento, retirado do mundo e já todo entregue às contemplações divinas, teve de rolar sobre espinhos, afim de apagar a concupiscência que o arrastava ao pecado. São Bernardo, atirou-se em um lago, afim de obter a mesma vitória. Bispo, Doutor da Igreja, fundador de uma Congregação Religiosa, Santo Afonso de Ligório, aos noventa anos de idade, ainda sentia em si as investidas da concupiscência. Por ai se compreendem os embaraços que o pecado original cria ao cumprimento da doutrina católica por parte dos fiéis, embaraços estes tão grandes, que a moral católica é decididamente superior às exclusivas forças humanas, e é heresia sustentar que é possível ao homem, com suas próprias forças, e sem o auxilio sobrenatural da graça, praticar de modo durável a totalidade dos mandamentos. Resumindo tudo quanto dissemos, e para que se veja que não exageramos, concluamos com palavras de Leão XIII. Disse o grande Papa que seguir a moral católica "é uma ingente tarefa, que exige muitas vezes grande esforço, energia e constância. Com efeito, apesar da renovação da natureza humana pelos benefícios da Redenção, subsiste em cada um de nós uma espécie de doença, de enfermidade e de corrupção. Apetites diversos atraem o homem vigorosamente para este ou aquele lado, e as seduções exteriores levam facilmente sua alma a procurar antes o que lhe agrada do que a seguir os mandamentos de Jesus Cristo. É-nos, pois, necessário reagir e lutar, com todas as forças, contra nossas paixões. Nessa luta contra si mesmo, deve cada qual estar disposto a suportar os obstáculos e os sofrimentos por causa de Cristo. É difícil rejeitar os objetos que têm tanto atrativo e encanto; é duro e penoso desprezar o que se chama os bens do corpo e da fortuna, afim de se conformar com a vontade soberana do Mestre, que é Cristo; mas é necessário que o cristão tenha paciência e coragem até o fim, se ele quer viver cristãmente o tempo de sua vida" (Encíclica "Tametsi Futura Prospicientibus", 1 de novembro de 1900). Na Escritura, são muitos os textos que corroboram esta afirmação do grande Leão XIII: "... os sentidos e os pensamentos do coração do homem são inclinados para o mal desde a sua mocidade" (Gen., VIII, 21), adverte o Espírito Santo. Falamos até aqui só dos obstáculos criados ao homem pelo pecado original. Quanto mais procedentes serão nossos argumentos, se também tomarmos em consideração as tentações diabólicas! Se a vida do fiel implica em tantas lutas, fácil será compreender-se a aversão que no infiel despertam a simples perspectiva de sua observância, e os consideráveis obstáculos que sua vontade deve enfrentar antes de fazer, juntamente com a inteligência, o ato de Fé. Dai decorre que, se muitos fiéis, sustentados embora pela superabundância de graças existentes dentro da Igreja não perseveram, no caminho da virtude, chegam às vezes a apostatar e a se transformar até em inimigos cruéis de Jesus Cristo, os infiéis, confortados com graças muitas vezes menores, muito mais facilmente serão levados contra a Igreja ou contra os católicos a uma atitude de má vontade mais ou menos consciente, mais ou menos explícita, rancorosa por vezes, que está muito longe da atitude de pomba sem fel, que em certos círculos da A. C. se supõe ser a única em que se encontram os infiéis. Daí, nas pugnas apostólicas, um ambiente de luta que, vivida de nossa parte santamente, e por vezes satanicamente da parte de nossos adversários, existirá até a consumação dos séculos. Com efeito, diz a Escritura que "os justos abominam o homem ímpio, e os ímpios abominam aqueles que estão no caminho reto" (Prov., XXIX, 27). É a realização da irredutível inimizade, criada pelo próprio Deus, e por isto mesmo fortíssima, que separa dos filhos da Virgem Santíssima, os filhos da serpente: "Inimicitias ponam inter te et mulierem". Por isso, "contra o mal está o bem, e contra a morte, a vida; assim também contra o homem justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo. Acha-las-ás duas a duas, e uma oposta a outra" (Eclesiástico, XXIII, 15). E a isto se reduz a generalidade dos "equívocos sentimentais", de que, na concepção errada que vimos combatendo, os infiéis seriam antes vítimas do que réus. Nas vésperas de sua conversão, o grande Agostinho ainda sentia obstáculos morais fortíssimos, que eram suscitados pela concupiscência, e em suas admiráveis "Confissões" nos narra a luta titânica que teve de travar antes de chegar ao porto que é a Igreja. É este o depoimento que, em via de regra, os convertidos prestam a respeito de sua conversão, operada em geral através de lances verdadeiramente trágicos, em que a razão luta contra a inclinação veementíssima dos sentidos para o mal. O número de almas que, sem esforço e sem luta, e quase sem sentir, se convertem, é muito mais raro e isto porque é infelizmente muito maior o número de homens escravizados por paixões de toda ordem.
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