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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • QUARTA PARTE   Atitudes da Ação Católica na expansão da doutrina da Igreja
    • CAPÍTULO II   A tática do "terreno comum"
      • A caridade não pode obnubilar a verdade
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A caridade não pode obnubilar a verdade

 

Confirmando tudo quanto acabamos de ver, mencionemos, finalmente o conselho que, na magistral Encíclica sobre S. Francisco de Sales, escreveu Pio XI: "O exemplo do Santo Doutor lhes traça (aos jornalistas católicos) uma linha de conduta bem clara: – estudar com maior cuidado a doutrina católica e possui-la na medida de suas forças; evitar que a verdade seja alterada, atenuada ou dissimulada sob pretexto de não ferir adversários. Saber, quando um ataque se impõe, refutar os erros e se opor à malicia dos operários do mal".

Desde os primeiros tempos da Igreja, tem sido esta a sua linguagem9. Se algum jornal católico dissesse, falando de hereges, que são "como animais irracionais, destinados por natureza a serem capturados e mortos" a indignação seria imensa em alguns de nossos círculos. São Pedro, entretanto, o disse (II, 12). Se um jornal católico escrevesse dos socialistas, liberais ou nazistas: "são fontes sem água. Nevoeiros agitados de turbilhões. Aguarda-os a mais profunda escravidão. Vêm com frases arrogantes e vãs e seduzem pelos apetites impuros da carne aqueles que mal acabavam de abandonar a sua vida desvairada. Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da perdição; pois o homem é escravo daquilo porque é vencido. Pelo conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo tinham fugido dos vícios mundanos, mas deixaram-se outra vez enredar e escravizar, e tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro. Melhor lhes fora não terem jamais conhecido o caminho da justiça, do que, depois de conhecê-lo, voltarem as costas ao Santo Mandamento que receberam. Verifica-se nesses tais a verdade do provérbio "Volta o cão a seu vômito" e "o porco que saiu do banho torna a revolver-se no lamaçal" (II, São Pedro, II, 17 a 22); se um jornal católico, repetimos, escrevesse tais coisas, que lhe aconteceria?

Na linguagem dos Santos encontramos expressões idênticas. Santo Inácio de Antioquia, mártir do século II, escreveu antes de seu martírio várias cartas a diversas Igrejas. Nestas, lemos sobre os hereges as seguintes expressões: "bestas ferozes" (Ephesios, VII), "lobos rapaces" (Fil. II, 2), "cães danados que atacam traiçoeiramente (Ef. VII), “bestas com rostos de homens” (Smirn. IV, 1), "hervas do diabo" (Ef. X, 1), "plantas parasitas que o pai não plantou" (Tral., XI), "plantas destinadas ao fogo eterno" (Ef. XVI, 2).

Um dos mais diletos discípulos do Apóstolo do Amor foi sem dúvida São Policarpo, por intermédio de quem soube Santo Irineu que, indo certa vez o Apóstolo aos banhos, retirou-se sem se lavar, porque aí vira Cerinto, herege que negava a Divindade de Jesus Cristo, "com receio dizia, que o prédio viesse abaixo, pois nele se encontrava Cerinto, inimigo da verdade". Pode-se imaginar que Cerinto não se sentiu satisfeito! O próprio São Policarpo, encontrando-se um dia com Marcião, herege docetista, e perguntando-lhe este se o conhecia, respondeu: "Sim, sem dúvida, és o primogênito de Satanás". Aliás, nisto seguiam o conselho de São Paulo: "Ao herege, depois de uma ou duas advertências, evita, pois que já é perverso e condena-se por si mesmo" (Tito, III, 10). O mesmo São Policarpo, se casualmente se encontrava com hereges, exclamava tapando os ouvidos: "Deus de bondade, porque me conservastes na terra afim de suportar tais coisas?" E fugia imediatamente, para evitar semelhante companhia.

No século IV, narra Santo Atanásio que Santo Antônio Eremita chamava, aos discursos dos hereges, venenos piores do que o das serpentes. Santo Tomás de Aquino, o plácido e angélico Doutor, qualificou da seguinte maneira Guilherme do Santo Amor e seus sequazes: "inimigos de Deus, ministros do diabo, membros do Anti-Cristo, inimigos da salvação do gênero humano, difamadores, réprobos, perversos, ignorantes, iguais a Faraó, piores que Joviniano e Vigilancia", que eram hereges contrários à Virgindade de Nossa Senhora. São Boaventura, Doutor Seráfico, chamou Geraldo, seu contemporâneo, "protervo, caluniador, louco, envenenador, ignorante, embusteiro, malvado, insensato, pérfido". S. Bernardo, o Doutor Melífluo, disse de Arnaldo de Brescia, que era "desordenado, vagabundo, impostor, vaso de ignominia, escorpião vomitado de Brescia, visto com horror em Roma, com abominação na Alemanha, desdenhado pelo Romano Pontífice, louvado pelo diabo, obrador de iniqüidades, devorador do povo, boca cheia de maldição, semeador de discórdias, fabricador de cismas, lobo feroz". Contra João, Bispo de Constantinopla, disse São Gregório Magno, que tinha "um profano e nefando orgulho, a soberba de Lúcifer, fecundo em palavras néscias, vaidoso e escasso de inteligência". Da mesma forma falaram os Santos Fulgêncio, Próspero, Sirício Papa, João Crisóstomo, Ambrósio, Gregório Nazianzeno, Basílio, Hilário, Alexandre de Alexandria, Cornélio e Cipriano, Atenagoras, Irineu, Clemente, todos os Padres enfim da Igreja, que se distinguiram por suas virtudes heróicas.

O princípio em que se inspira o procedimento de tantos Santos, condensou-o de modo admirável o suavíssimo Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, nas seguintes palavras: "Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa, desde que não se falte a verdade, sendo obra de caridade gritar: eis o lobo! quando está entre o rebanho ou em qualquer lugar onde seja encontrado" (Filotéa, Cap. XX, da parte II). É claro que não preconizamos o uso exclusivo desta linguagem. Mas não achamos justo que ela seja acusada de contrária à caridade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 




9 A este respeito, leia-se a obra magnífica de Sardá y Salvani "El Liberalismo es pecado", donde extraímos a maior parte das citaçöes que damos a seguir.

 






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