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Plinio Corrêa de Oliveira Em defesa da Ação Católica IntraText CT - Texto |
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Como Nosso Senhor, não recuemos diante de um aparente insucesso na prática da franqueza apostólica
Não procuremos só sucessos de momento, aplausos inconstantes das massas e até de nossos adversários, sucessos estes que são o fruto da tática do terreno comum. Várias vezes, nos mostra Nosso Senhor que devemos desprezar a popularidade entre os maus: “Não há profeta sem honra, senão na sua pátria e na sua casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles” (S. Mateus, XIII, 57 a 58). Há pessoas que reputam o supremo triunfo de uma obra católica, não os louvores e bênçãos da Hierarquia, mas os aplausos dos adversários. Este critério é falacioso, entre mil outros motivos porque às vezes há nisto mera cilada em que caímos, e na realidade nós sacrificamos princípios por este preço: "ai de vós quando os homens vos louvarem, porque assim faziam aos falsos profetas os pais deles" (Lucas, VI, 28). "Esta geração perversa e adúltera pede um prodígio; mas não lhe será dado outro prodígio, senão o prodígio do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se" (S. Mateus, XV, 4). Nosso Senhor se retirou e nós, pelo contrário, queremos permanecer no campo estéril, desfigurando e diminuindo as verdades até arrancar aplausos. Quando estes vierem, será o sinal de que teremos passado a ser falsos profetas, em muitos casos. Nosso Senhor tem pena, é certo, dos que não estão de tal forma empedernidos no mal que não se salvem com um milagre: "E olhando-os em roda com indignação, contristado da cegueira dos seus corações, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe restabelecida a mão" (S. Marcos, III, 5). Mas muitos perecerão na sua cegueira: "E disse-lhes: A vós é concedido saber o mistério do reino de Deus porém aos que são de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, para que, olhando, vejam e não reparem, e, ouvindo ouçam e não entendam, de sorte que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados" (S. Marcos, IV, 11 a 12). Não espanta, a vista de tanto rigor, que o "meigo Rabi da Galiléia" incutisse por vezes, até em seus íntimos, verdadeiro terror: “Mas eles não compreendiam estas palavras, e temiam interrogá-lo” (S. Marcos, IX, 31). Terror não muito menor causariam por certo profecias como esta, que demonstram à saciedade que ser apóstolo é viver de lutas, e não de aplausos: "Tomai, porém, cuidado convosco. Porque vos hão-de entregar nos tribunais, e sereis açoitados nas sinagogas, e sereis por minha causa, levados diante dos governadores e dos reis, para (dar) testemunho (de mim) perante eles" (S. Marcos, XIII, 9). Porque tanto ódio contra os pregadores do Bem? "Eu sei que sois filhos de Abraão; mas (também sei que) procurais matar-me, porque minha palavra não penetra em vós" (S. João, VIII, 37). Em todas as épocas, haverá corações em que não penetrará a palavra da Igreja. Estes corações se encherão então de ódio, e procurarão ridicularizar, diminuir, caluniar, arrastar à apostasia ou até matar os discípulos de Nosso Senhor. E por isso ainda, disse Nosso Senhor aos judeus: "Mas agora procurais matar-me, a mim, que sou um homem que vos disse a verdade que ouvi de Deus; Abraão nunca fez isto. Vós fazeis as obras de vosso pai. E eles disseram-lhe: Nós não somos filhos da fornicação; temos uma pai (que é) Deus. Mas Jesus disse-lhes: Se Deus fosse vosso pai, certamente me amaríeis, porque eu sai de Deus e vim; porque não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Porque não conheceis vós a minha linguagem? Porque não podeis ouvir a minha palavra" (S. João, VIII, 40 a 43). Não espanta, pois, que seus próprios milagres despertassem ódio. Foi o que se deu depois do estupendo milagre da ressurreição de Lazaro: "Jesus disse-lhes: Desatai-o, e deixai-o ir. Então muitos dos judeus, que tinham ido visitar Maria e Marta, e que tinham presenciado o que Jesus fizera, creram nele. Porém alguns deles foram ter com os fariseus, e disseram-lhes o que Jesus tinha feito" (S. João, XI, 44 a 46). À vista disto, como pretendem os apóstolos conservar-se sempre na estima de todos? Não percebem eles que nesta estima geral há muitas vezes um índice iniludível de que já não estão com Nosso Senhor? Com efeito, todo o católico verdadeiro terá inimigos: "Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque vós não sois do mundo, antes eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. Lembrai-vos daquela palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós; se eles guardaram a minha palavra, também hão-de guardar a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. Se eu não tivesse vindo, e não lhes tivesse falado, não teriam culpa, mas agora não têm desculpa do seu pecado. Aquele que me aborrece, aborrece também meu Pai" (S. João, XV, 18 a 23). É também neste sentido o seguinte texto: "Eu disse-vos estas coisas, para que vos não escandalizeis. Lançar-vos-ão fora das sinagogas; e virá tempo em que todo o que vos matar, julgará prestar serviço a Deus" (S. João, XVI, 1 a 2). E ainda: "Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal". (S. João, XVII, 14 a 15). Quanto aos aplausos estéreis e inúteis do demônio e de seus sequazes, vejamos como devem ser tratados: "E aconteceu que, indo nós à oração, nos veio ao encontro uma jovem, que tinha o espírito de Piton, a qual com as suas advinhações dava muito lucro a seus amos. Esta, seguindo a Paulo e a nós, gritava, dizendo: Estes homens são servos do Deus excelso, que vos anunciam o caminho da salvação. E fazia isto muitos dias. Mas Paulo, enfadado, tendo-se voltado (para ela), disse ao espírito: Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que saias dessa (mulher). E ele, na mesma hora, saiu" (Atos, XVI, 16 a 18). Devemos, é certo, sentir prazer quando, dos arraiais do adversário, chega-nos um ou outro aplauso de alguma alma tocada pela graça, que começa a se aproximar de nós. Mas como é diferente este aplauso, da alegria falaciosa e turbulenta dos maus, quando certos apóstolos ingênuos lhes apresentam, estropiadas e mutiladas, algumas verdades parecidas com os erros da impiedade. Neste caso, os aplausos não significam um movimento das almas para o bem, mas o júbilo que experimentam por supor que a Igreja não as quer arrancar ao mal. São aplausos de quem se alegra em poder continuar no pecado, e significam um embotamento ainda maior no mal. Estes aplausos, devemos evitá-los; E, por isto, colide com o Novo Testamento quem não se conforma com a impopularidade: "Não vos admireis, irmãos, de que o mundo vos tenha ódio" (1, S. João, III, 12. a 13). Causar irritação aos maus é muitas vezes fruto de ações nobilíssimas: "E os habitantes da terra se alegrarão por causa deles, e farão festas, e mandarão presentes uns aos outros, porque estes dois profetas tinham atormentado os (ímpios) que habitavam sobre a terra" (Apoc., XI, 10). Erram gravemente os que pensam que, sempre que a doutrina católica for, pela palavra e pelo exemplo, pregada de maneira modelar, arrancará unânimes aplausos. Di-lo São Paulo: "E todos os que querem viver piamente em Jesus Cristo, padecerão perseguição" (2 Tim. 3, 12). Como se vê neste texto, é a vida piedosa, que exacerba o ódio dos maus. A Igreja não é odiada pelas imperfeições que no decurso dos séculos se tenham notado em um ou outro de seus representantes. Essas imperfeições são quase sempre meros pretextos para que o ódio dos maus fira o que a Igreja tem de divino. O bom odor de Cristo é um perfume de amor para os que se salvam, mas suscita ódio nos que se perdem: "Porque nós somos diante de Deus o bom odor de Cristo, nos que se salvam, e nos que perecem; para uns, odor de morte para a sua morte; e para outros, odor de vida para a sua vida" (2 Cor., 2, 15-16). Como Nosso Senhor, a Igreja tem no mais alto grau a capacidade de se fazer amar por indivíduos, famílias, povos e raças inteiras. Mas por isto mesmo tem ela, como Nosso Senhor, a propriedade de ver levantar-se contra si o ódio injusto de indivíduos, famílias, povos e raças inteiras. Para o verdadeiro apóstolo, pouco importa ser amado, se esse amor não é uma expressão do amor que as almas têm ou ao menos começam a ter a Deus, ou, de qualquer maneira, não concorre para o Reino de Deus. Qualquer outra popularidade é inútil para ele e para a Igreja. Por isto disse São Paulo: "Porque, em suma, é a aprovação dos homens que eu procuro ou a de Deus? Porventura é aos homens que pretendo agradar? Se agradasse ainda aos homens, não seria servo de Cristo" (Gal. 1, 6-10). Como vemos, a aprovação dos homens deve antes atemorizar o apóstolo de consciência delicada, do que alegrá-lo: não terá ele negligenciado a pureza da doutrina, para ser tão universalmente estimado? Está ele bem certo de que flagelou a impiedade como era do seu dever? Estará ele realmente em uma dessas situações como Nosso Senhor no dia de Ramos? Neste caso, uma advertência: lembre-se de quanto valem os aplausos humanos e a eles não se apegue. Amanhã, talvez, surgirão os falsos profetas que hão de atrair o povo pela pregação de uma doutrina menos austera. E o homem ainda ontem aplaudido deverá dizer aos que o louvavam: "Tornei-me eu logo vosso inimigo, porque vos disse a verdade? Esses (falsos apóstolos) estão cheios de zelo por vós, não retamente; antes vos querem separar, para que os sigais a eles. É bom que sejais sempre zelosos pelo bem; Filhinhos meus, por quem eu sinto de novo as dores do parto, até que Jesus Cristo se forme em vós; bem quisera eu estar agora convosco, e mudar a minha linguagem; porque estou perplexo a vosso respeito" (Gal. 4, 16-20). Mas esta linguagem não pode ser mudada, o interesse das almas o impede. E, se a advertência não for ouvida, a popularidade do apóstolo soçobrará de uma vez. Então, se ele não tiver ânimo desapegado e varonilmente sobrenatural, ei-lo que se arrasta atrás dos que o abandonam, diluindo princípios, corroendo e desfigurando verdades, diminuindo e barateando preceitos afim de salvar os últimos fragmentos dessa popularidade de que, inconscientemente, ele fizera um ídolo. Que conduta pode diferir mais profundamente desta, que o ânimo sobranceiro com que Nosso Senhor, profundamente triste embora, levou até à morte, e morte de Cruz, a sua luta direta e desassombrada contra a impiedade? Se as verdades ditas com clareza por vezes são motivo para que se embotem no mal os perversos, como é grande o júbilo do apóstolo que soube vencer seu espírito pacifista, e, com golpes enérgicos, salvar as almas. "Porque embora eu vos tenha entristecido com a minha carta, não me arrependo disso; se bem que tenha tido pesar, vendo que tal carta, ainda que por breve tempo, vos entristeceu; agora folgo, não de vos ter entristecido, mas de que a vossa tristeza vos levou à penitência. Entristecestes-vos segundo Deus, de sorte que em nada recebestes detrimento de nós. Porque a tristeza, que é segundo Deus, produz uma penitência estável para a salvação; mas a tristeza do século produz a morte. E, se não, vêde o que produziu em vós essa tristeza segundo Deus, quanta solicitude, que vigilante cuidado em vos justificardes, que indignação, que temor, que desejo (de remediar o mal), que zelo, que (desejo de) punição pela injúria feita à Igreja); vós mostrastes em tudo que éreis inocentes neste negócio" (2 Cor. 7, 8-11). (S. Paulo se refere ao caso de um incestuoso, mencionado na 1ª epístola.). Este é o grande, o admirável prêmio dos apóstolos bastante sobrenaturais e clarividentes para não fazerem da popularidade a única regra e o supremo anelo de seu apostolado. Não recuemos ante insucessos de momento, e Nosso Senhor não recusará a nosso apostolado idênticas consolações, as únicas que devemos almejar.
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