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Plinio Corrêa de Oliveira
Em defesa da Ação Católica

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  • QUINTA PARTE   A confirmação pelo Novo Testamento
    • CAPÍTULO ÚNICO
      • A fortaleza e a perspicácia no Novo Testamento
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A fortaleza e a perspicácia no Novo Testamento

 

Os textos do Novo Testamento em que se patenteia a divina misericórdia de nosso dulcíssimo Salvador são todos eles bastante conhecidos entre os fiéis. Demos mil graças a Deus, por isto. Infelizmente, porém, os que dão exemplos de severidade, argúcia e santa intransigência o são muito menos. Citamos alguns destes textos nas páginas anteriores. Para que se veja, porém, que não são só estes, e que o Novo Testamento nos dá com extraordinária freqüência exemplos de intrepidez, perspicácia, fortaleza, examinemos agora um grande número de textos que inculcam estas virtudes, e que não tivemos ocasião de citar. Ver-se-á assim o papel relevantíssimo que três virtudes tem na Boa Nova do Filho de Deus e devem ter, portanto, no caráter de todo católico bem formado.

Pretendemos mostrar mais particularmente neste Capítulo, as numerosas passagens do Novo Testamento em que se apostrofam os pecadores, ou se flagelam os vícios da antiguidade pagã, ou do mundo judeu, com uma linguagem que pareceria inteiramente falha de caridade aos espíritos de nosso tempo.

Note-se, a este propósito, que o Santo Padre Pio XI, como já temos dito insistentemente, fez de nossa época uma descrição tão claramente severa, que chegou a dizer que estamos em tempos parecidos com os últimos, ou seja com uma época de iniqüidades verdadeiramente sem precedentes. Assim, não se pense que faltem hoje pecados e pecadores dignos de linguagem idêntica. Qual é, pois, esta caridade errônea, que faz desbotar-se em nossos lábios a palavra de Deus, transformando o flagelo regenerador dos povos em arma inócua, cuja falta de gume exprime melhor nossa timidez do que a indignação de nosso zelo?

Ainda aí – insistimos – devemos imitar o Salvador que soube alternar a severidade de linguagem com as provas de um amor infinito, de uma tal doçura e de uma tal mansidão que chegava a comover todos os corações retos. Nunca nos esqueçamos do papel supremo do amor, na economia do apostolado. Mas não caiamos daí para um unilateralismo estreito. Nem todos os corações se abrem à ação da graça. Dí-lo S. Pedro:

"Por isso se lê na Escritura: eis que eu ponho em Sião uma pedra principal, angular, escolhida, preciosa; e o que crer nela não será confundido. Ela é, pois, honra para vós que credes, mas, para os incrédulos, a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se cabeça no ângulo e pedra de tropeço, e pedra de escândalo para os que tropeçam na palavra e não crêem; é a isso que eles estão destinados" (I. S. Pedro 2, 6-8).

E para os que são refratários à doce linguagem do amor só há um processo, que é o desta linguagem:

"Adúlteros, não sabeis que a amizade deste mundo é inimiga de Deus? Portanto, todo aquele que quiser ser amigo deste século, constitui-se inimigo de Deus. Porventura imaginais que a Escritura diz em vão: o Espírito que habita em vós ama-vos com ciúme" (S. Tg. 4, 4-5)?

Incitemos francamente as almas à penitência:

"Senti a vossa miséria, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em luto e a vossa alegria em tristeza" (S. Tg. 4, 9).

E não procuremos um modo de fazer apostolado, em que omitamos o lado terrível das dulcíssimas verdades que pregamos:

"Porque Cristo não me enviou a batizar, mas a pregar o Evangelho, não com a sabedoria das palavras, para que não se torne inútil a cruz de Cristo. Porque a palavra da cruz é uma loucura para os que se perdem, mas, para os que se salvam, isto é, para nós, é a virtude de Deus. Porque está escrito: "Destruirei a sabedoria dos sábios, e reprovarei a prudência dos prudentes. Onde está o sábio? Onde o doutor? Onde o indagador deste século? Porventura não convenceu Deus de loucura a sabedoria deste mundo? Porque, como ante a sabedoria de Deus não conheceu o mundo a Deus pela sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes por meio da loucura da pregação. Porque os judeus exigem milagres, e os gregos procuram a sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, porque é escândalo para os judeus, e loucura para os gentios, mas, para os que são chamados (à salvação) quer dos judeus, quer dos gregos, é Cristo virtude de Deus, e sabedoria de Deus" (1 Cor. 1, 17-24).

"Eu pois quando fui ter convosco, irmãos, anunciar-vos o testemunho de Cristo, não fui com sublimidades de estilo ou de sabedoria. Porque julguei (que) não (devia) saber coisa alguma entre vós senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive entre vós com fraqueza e temor e grande temor; e a minha conversação e a minha pregação não (consistiram) em palavras persuasivas da humana sabedoria, mas na manifestação do espírito e da virtude (de Deus); para que a vossa fé se não baseie sobre a sabedoria dos homens mas sobre o poder de Deus" (1 Cor. 2, 1-5).

Não procuremos uma linguagem que não crie descontentes, porque o apostolado reto os suscita em grande número.

"Ora nós não recebemos o espírito deste mundo, mas o espírito que vem de Deus, para conhecermos as coisas, que por Deus nos foram dadas; as quais também anunciamos, não com palavras doutas de humana sabedoria, mas com a doutrina do Espírito, adaptando o espiritual ao espiritual. Mas o homem animal não percebe aquelas coisas que são do Espírito de Deus, porque elas se ponderam espiritualmente. Mas o espiritual julga todas as coisas; e ele não é julgado por ninguém" (1 Cor. 2, 12-15).

Passaremos às vezes por loucos, mas pouco importa:

"Ninguém se engane a si mesmo; se alguém dentre vós se tem por sábio segundo este mundo, faça-se insensato para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Pois está escrito: Eu apanharei os sábios na sua própria astúcia". (1 Cor. 3, 18-19).

Às vezes o sacrifício que o apóstolo faz ao imolar sua reputação, fecunda maravilhosamente seu apostolado:

"Semeia-se o corpo corruptível, ressuscitará incorruptível. Semeia-se na ignomínia, ressuscitará glorioso; semeia-se inerte, ressuscitará robusto" (1 Cor. 15 42-43).

Certos ardis para agradar "tout le monde et son père" chegam por vezes, até, a requintes censuráveis:

"Porque a nossa exortação não procedeu do erro, nem de malicia, nem de fraude, mas, como fomos aprovados por Deus, para que nos fosse confiado o Evangelho, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que sonda os nossos corações. Porque a nossa linguagem nunca foi de adulação, como sabeis, nem um pretexto de avareza; Deus é testemunha" (1 Tes. 2, 3-5).

Vejamos, pois, como falavam os Apóstolos, e com que vigor sabiam dizer contra os ímpios:

"Guardai-vos desses cães, guardai-vos desses maus operários, guardai-vos desses mutilados" (Fil. 3, 2) – (Mutilados: os que pregavam a circuncisão).

Se a algum sibarita contemporâneo, disséssemos estas palavras, como nos acusariam de exagerados:

"Porque muitos, de quem muitas vezes vos falei e também agora falo com lágrimas, procedem como inimigos da cruz de Cristo; o fim deles é a perdição; o Deus deles é o ventre; e fazem consistir a sua glória na sua própria confusão, gostando somente das coisas terrenas. Nós, porém, somos cidadãos dos céus, donde também esperamos o Salvador Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de miséria, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorioso, com aquele poder com que pode também sujeitar a si todas as coisas" (Fil. 3, 18-21).

E se disséssemos dos hereges estas palavras, quantos os críticos que contra nós se voltariam:

"Se alguém ensina de modo diferente, e não abraça as sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aquela doutrina que é conforme à piedade, é soberbo, que nada sabe, um espírito doente, que se ocupa de questões e contendas de palavras, donde se originam invejas, contendas, maledicência, más suspeitas, altercações de homens com o espírito pervertido, que estão privados da verdade, e pensam que a piedade é uma fonte de lucro" (1 Tim. 6, 3-5).

As alusões individuais são sempre consideradas censuráveis por certas pessoas. S. Paulo não generalizou tanto:

"Conserve a forma das sãs palavras que ouviste de mim, na fé e no amor em Jesus Cristo. Guarda o bom depósito por meio do Espírito Santo, que habita em nós. Tu sabes isto, que se apartaram de mim todos os que estão na Ásia, entre os quais estão Figelo e Hermogenes" (2 Tim. 1, 13-15).

"Evita as conversas profanas e vãs, porque contribuem muito para a impiedade; e a sua palavra lavra como gangrena; entre os quais estão Himeneu e Fileto, que se extraviaram da verdade, dizendo que já se deu a ressurreição, e perverteram a fé de alguns" (2 Tim. 2, 16-18).

"Alexandre, o latoeiro, fez-me muitos males; o Senhor lhe pagará segundo as suas obras. Tu também guarda-te dele, porque opõe uma forte resistência às nossas palavras" (2 Tim. 4, 14-15).

E o Apóstolo se gloriava, até, de sua santa rudeza:

"Mas, para que não pareça que vos quero aterrar por cartas; porque as cartas, dizem alguns, são graves e fortes, mas a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível. O que diz assim saiba que quais somos nas palavras por carta, estando ausentes, tais (seremos) também de fato, estando presentes" (2 Cor. 10, 9-11).

Desta vez, a alusão atinge toda a população vasta, culta e numerosa, de uma ilha:

"Porque há ainda muitos desobedientes, vãos faladores e sedutores, principalmente entre os da circuncisão, aos quais é necessário fechar a boca a eles que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por amor dum vil interesse. Um deles, seu próprio profeta, disse: Os Cretenses são sempre mentirosos, más bestas, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os asperamente, para que sejam sãos na fé, não dêem ouvidos a fábulas judaicas nem a mandamentos de homens que se afastam da verdade" (Tit. 1, 10-14).

Ouçamos esta crítica apostolicamente acerba:

"Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis e rebeldes, e incapazes de toda a obra boa" (Tit. 1, 16).

Parece excessiva? Entretanto constitui um dever de apostolado a repreensão:

"Ensina estas coisas, e exorta, e repreende com toda a autoridade. Ninguém te despreze" (Tit. 2, 11-15). E porque teremos receio de exortar com tanto vigor quanto o fazia o Apóstolo?

Vimos o que de Creta disse o Apóstolo. Para converter os gregos e judeus, julgou úteis essas palavras:

"Porque já demonstramos que Judeus e Gregos estão todos no pecado, como está escrito: Não há nenhum justo; não há quem tenha inteligência, não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram, todos a um se tornaram inúteis, não há quem faça o bem, não há sequer um. A garganta deles é um sepulcro aberto, com as suas línguas tecem enganos. Um veneno de aspides se encobre debaixo dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e de amargura; e os seus pés são velozes para derramar sangue; a dor e a infelicidade estão nos seus caminhos; e não conheceram o caminho da paz; não há temor de Deus diante dos seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo aquilo que a lei diz, o diz àqueles que estão sob a lei, para que toda a boca seja fechada e todo o mundo seja digno de condenação diante de Deus" (Rom. 3, 9-19).

Contra a impureza, disse S. Paulo: "Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos; mas Deus destruirá tanto aquele, como estes; porém o corpo não é para a fornicação, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará a nós com o seu poder. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei eu pois os membros de Cristo, e fá-los-ei membros duma prostituta? De modo nenhum" (1 Cor. 6, 12-15).

Nosso Senhor começou sua vida pública, não com palavras festivas, mas pregando a penitência:

"Desde então começou Jesus a pregar e a dizer: "Fazei penitência, porque está próximo o reino dos céus" (S. Mateus, IV, 17).

E suas palavras eram por vezes terríveis contra os impenitentes:

"Então começou a exprobar às cidades em que tinham sido operados muitos dos seus milagres, o não terem feito penitência. Ai de ti Corozain! Ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidônia tivessem sido feitos os milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que elas teriam feito penitência em cilicio e em cinza. Por isso vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidônia no dia do juízo, que para vós. E tu, Cafarnaum, elevar-te-ás porventura até ao céu? Hás-de ser abatida até ao inferno, porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que se fizeram em ti, talvez existisse ainda hoje. Por isso vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma, que para ti. Então Jesus, falando novamente, disse: Graças te dou, ó pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelastes ao pequeninos" (S. Mateus, XI, 20 a 25).

Assim falou Nosso Senhor:

"Quando o espírito imundo saiu de um homem, anda por lugares secos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, quando vem, a encontra desocupada, varrida e adornada. Então vai, e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa" (S. Mateus, XII, 43 a 45).

S. Pedro lhe deu uma sugestão por demais humana, aconselhando-O a que não fosse a Jerusalém onde O quereriam matar. A resposta foi majestosamente severa: "Ele, voltando-se para Pedro, disse-lhe: "Retira-te de mim Satanás; tu serves-me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus, mas das coisas dos homens" (S. Mateus, XVI, 23).

Cheio de misericórdia, Nosso Senhor Se dispunha a fazer um milagre. Eis, entretanto, o que disse antes:

"Jesus, respondendo disse: ó geração incrédula e perversa, até quando hei-de estar convosco? Até quando vos hei-de sofrer? Trazei-mo cá. E Jesus ameaçou o demônio, e este saiu do jovem, o qual desde aquele momento ficou curado" (S. Mateus, XVII, 16).

Aos vendilhões, que açoitou, disse Nosso Senhor fortemente:

"Está escrito: A minha casa seria chamada casa de oração; mas vós fizestes dela covil de ladrões" (S. Mateus, XXI, 13).

Haverá censura mais aguda do que esta de Nosso Senhor, aos orgulhosos fariseus:

"Na verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos levarão a dianteira para o reino de Deus. Porque veio a vós João no caminho da justiça e não crestes nele; e vós, vendo isto, nem assim fizestes penitência depois, para crerdes nele"? (S. Mat., XXI, 31 a 32).

E esta outra:

"Mas, ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque fechais o reino dos céus diante dos homens, pois nem vós entrais, nem deixais que entrem os que estão para entrar. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque devorais as casas das viúvas, a pretexto de longas orações; por isto sereis julgados mais severamente. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais digno do inferno do que vós.

"Ai de vós, condutores cegos! que dizeis: Se alguém jurar pelo templo, isto não é nada; mas o que jurar pelo ouro do templo fica obrigado (ao que jurou). Estultos e cegos! Qual é mais, o ouro ou o templo, que santifica o ouro? E (dizeis) se alguém jurar pelo altar, isto não é nada; mas quem jurar pela oferenda que está sobre ele, ficará obrigado (ao que jurou). Cegos! Qual é mais, a oferta ou o altar, que santifica a oferta?". (S. Mateus, XXIII, 13 a 19).

Quanta misericórdia e quanta severidade nestas palavras da Mãe de toda a misericórdia:

"E cuja misericórdia (se estende) de geração em geração sobre aqueles que o temem.

"Manifestou o poder de seu braço;

"Dissipou aqueles que se orgulhavam nos pensamentos do seu coração.

"Depôs do trono os poderosos

"e elevou os humildes.

"Encheu de bens os famintos,

"E despediu vazios os ricos" (S. Lucas, I, 50 a 53).

Imitemos Nosso Senhor quando acolhia com divina brandura os pecadores. Não sejamos, porém, unilaterais e saibamos imitá-lO também em atitudes como esta:

"Ora, estava próxima a Páscoa dos Judeus, e Jesus subiu a Jerusalém; e encontrou no templo muitos vendendo bois, e ovelhas, e pombas, e os cambistas sentados (às suas mesas). E, tendo feito um como azorrague de cordas, expulsou-os a todos do templo, e as ovelhas e os bois, e deitou por terra o dinheiro dos cambistas, e derrubou as mesas. E aos que vendiam pombas, disse: Tirai daqui isto, e não façais da casa de meu Pai casa de negócio" (S. João, II, 13 a 16).

Nenhum Apóstolo sugere melhor a nosso espírito a idéia do amor de Jesus do que S. João. Vejamos como ele, entretanto, não oculta a severidade do Mestre:

"Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e damos testemunho do que vimos, e vós (com tudo isso) não recebeis o nosso testemunho. Se vos tenho falado das coisas terrenas, e não (me) acreditais, como (me) acreditareis, se vos falar das celestes?" (S. João. III 11 a 12).

"Mas eu tenho um testemunho maior que o de João. Porque as obras que meu Pai me deu que cumprisse, estas mesmas obras que eu faço, dão testemunho de mim, de que o Pai me enviou; e o Pai que me enviou, esse mesmo deu testemunho de mim; vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face. E não tendes permanente em vós a sua palavra, porque não credes no que ele enviou.

"Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e elas são as que dão testemunho de mim, e não quereis vir a mim para ter vida. Eu não recebo a glória dos homens. Mas conheço-vos, (sei) que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome do meu Pai, e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis. Como podeis crer, vós que recebeis a glória, uns dos outros, e não buscais a glória que só de Deus vem? Não julgueis que sou eu que vos hei-de acusar diante de meu Pai; Moisés, em que vós confiais, é que vos acusa. Porque, se vós crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim; porque ele escreveu de mim. Porém, se vós não dais crédito aos seus escritos, como haveis de dar crédito às minhas palavras?" (S. João, V, 36 a 47).

Oh! como o Mestre nos mostrou que devemos enfrentar as incompreensões do próximo sem desfigurar por isto a doutrina:

"Muitos, pois, de seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Dura é esta linguagem, e quem a pode ouvir? Porém Jesus conhecendo em si mesmo que seus discípulos murmuravam por isto, disse-lhes: Isto escandaliza-vos? E se vós virdes subir o Filho do Homem para onde estava antes? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse, são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não crêem. Porque Jesus sabia desde o princípio quais eram os que não criam, e quem o havia de entregar. E dizia: Por isto eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se lhe não for concedido por meu Pai. Desde então muitos de seus discípulos tornaram atrás; e já não andavam com ele.

"Por isso Jesus disse aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Mas Simão Pedro respondeu-lhe: Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna; e nós acreditamos e conhecemos que tu és o Cristo, Filho de Deus. Jesus respondeu-lhes: Não fui eu que vos escolhi, a vós os doze, e (contudo) um de vós é um demônio? Falava de Judas Iscariotes, filho de Simão; porque era este que o havia de entregar, não obstante ser um dos doze." (S. João, VI, 61 a 72).

Sua linguagem era de uma intransigência não menos divina que sua mansidão:

"Noutra ocasião disse-lhes Jesus: Eu retiro-me, e vós me buscareis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis vir. Diziam, pois, os Judeus: Será que ele se mate a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis vir? E ele dizia-lhes: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque, se não crerdes em quem eu sou (o Messias), morrereis no vosso pecado. Disseram-lhe, pois, eles: Quem és tu? Jesus disse-lhes: O princípio, eu que vos falo. Muitas coisas tenho a dizer e a condenar a vosso respeito, mas o que me enviou é verdadeiro, e o que ouvi dele é o que digo ao mundo" (S. João, VIII, 31 a 26).

"Vós sois filhos do demônio, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio, e não permaneceu na verdade; porque a verdade não está nele; quando ele diz a mentira, fala do que é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Idem, 44).

E S. Pedro, o primeiro Papa, soube imitar este exemplo:

"Mas Pedro disse-lhe: O teu dinheiro pereça contigo, visto que julgaste que o dom de Deus se adquiria com dinheiro. Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Faze, pois, penitência desta tua maldade, e roga a Deus que, se é possível, te seja perdoado este desvario do teu coração. Porque eu vejo-te cheio de amargosíssimo fel e entre os laços da iniqüidade" (Atos. VIII, 20 a 23).

Vejamos este outro magnífico exemplo de combatividade:

"E, tendo percorrido toda a ilha até Patos, encontraram um certo homem mago, falso profeta, judeu, que tinha por nome Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, homem prudente. Este, tendo mandado chamar Barnabé e Saulo, desejava ouvir a palavra de Deus. Mas Elimas o mago (porque assim se interpreta o seu nome) se lhes opunha, procurando afastar da fé o procônsul. Porém Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: ó (tu, que estás) cheio de todo o engano e de toda astúcia, filho do demônio, inimigo de toda justiça, tu não deixas de perverter os caminhos retos do Senhor. Pois agora eis que a mão do Senhor está sobre ti, e serás cego sem ver o sol durante certo tempo. E logo caiu sobre ele uma obscuridade e trevas, e, andando a roda, buscava quem lhe desse a mão. Então o procônsul, vendo este fato, creu, admirando a doutrina do Senhor" (Atos, XIII, 6 a 12).

E mais este:

"Disputava todos os sábados na sinagoga, interpondo (nos seus discursos) o nome do Senhor Jesus, e convencia Judeus e Gregos. E, quando chegaram da Macedônia Silas e Timóteo, Paulo aplicava-se assiduamente à palavra, dando testemunho aos Judeus de que Jesus era o Cristo. Mas, como eles contradissessem e blasfemassem, sacudindo ele os seus vestidos, disse-lhes: O vosso sangue (caia) sobre vossa cabeça; eu não tenho culpa; desde agora vou para os Gentios" (Atos, XVII, 4 a 6).

Aos ímpios, não duvidava S. Pedro em dizer: "o rosto do Senhor (está) contra os que fazem o mal" (1 S. Pedro, III, 11 a 12).

"Mas, se (sofre) como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus por tal nome.

"Porque é tempo que comece o juízo pela casa de Deus. E, se primeiro (começa) por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao Evangelho de Deus? E, se o justo a custo será salvo, o ímpio e o pecador onde comparecerão? Por isso também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus, encomendem as suas almas ao Criador, praticando o bem" (Idem, IV, 16 a 19).

S. Judas escreveu este texto terrível:

"Ora eu quero recordar-vos, embora já saibais tudo, que Jesus, salvando o povo da terra do Egito, destruiu depois aqueles que não creram; e os anjos, que não conservaram o seu principado, mas abandonaram o seu domicilio, os reservou (ligados) com cadeias eternas em trevas para o juízo do grande dia. Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que fornicaram com elas, e se abandonaram ao prazer infâme, foram postas por escarmento, sofrendo a pena do fogo eterno, da mesma maneira também estes contaminaram a sua carne, e desprezam a dominação (de Cristo), e blasfemam da majestade.

"Quando o Arcanjo Miguel, disputando com o demônio, altercava sobre o corpo de Moisés, não se atreveu a proferir contra ele a sentença de maldição; mas disse (somente): Reprima-te o Senhor. Estes, porém, blasfemam de todas as coisas que ignoram, e pervertem-se como animais sem razão em todas aquelas coisas que conheceram naturalmente.

"Ai deles, porque andaram pelo caminho de Caim, e, por (causa dum aviltante) lucro, precipitaram-se no erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Coré.

"Eles são máculas nos seus festins, banqueteando-se sem respeito, apascentando-se a si mesmos, nuvens sem água, que os ventos levam duma parte para outra, árvores do outono, sem frutos, duas vezes mortas, desarraigadas, ondas furiosas do mar, que arrojam as espumas da sua torpeza, estrelas errantes; para os quais está reservada uma tempestade de trevas por toda a eternidade.

"Também Henoc, o sétimo (patriarca) depois de Adão, profetizou destes, dizendo: Eis que vem o Senhor entre milhares dos seus santos a fazer juízo contra todos, e a argüir todos os ímpios de todas as obras de sua impiedade, que impiamente fizeram, e de todas as palavras injuriosas, que os pecadores ímpios têm proferido contra Deus.

"Eles são uns murmuradores queixosos, que andam segundo as suas paixões, e a sua boca profere coisas soberbas, os quais mostram admiração pelas pessoas segundo convém ao seu próprio interesse" (S. Judas 15-16).

E o Espírito Santo elogia um Bispo porque "é caluniado por aqueles que se dizem Judeus, e não o são, antes são uma sinagoga de Satanás" (Apoc., II, 9).

A mesma terrível comparação com o demônio se encontra também neste texto:

"A vós, porém, digo, e aos outros fiéis de Tiatira, que não seguem esta doutrina, e que não conheceram as profundidades, como eles lhes chamam, de Satanás" (Idem, 23 a 24).

 

 




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