Indispensáuel contato pessoal
46. E é por isto que, ao lado da proclamação geral para
todos do Evangelho, uma outra forma da sua transmissão, de pessoa a pessoa,
continua a ser válida e importante. O mesmo Senhor a pôs em prática muitas
vezes, por exemplo as conversas com Nicodemos, com Zaqueu, com a Samaritana,
com Simão, o fariseu, e com outros, atestam-no bem, assim como os apóstolos. E
vistas bem as coisas, haveria uma outra forma melhor de transmitir o Evangelho,
para além da que consiste em comunicar a outrem a sua própria experiência de
fé? Importaria, pois, que a urgência de anunciar a Boa Nova às multidões de
homens, nunca fizesse esquecer esta forma de anúncio, pela qual a consciência
pessoal de um homem é atingida, tocada por uma palavra realmente extraordinária
que ele recebe de outro. Nós não poderíamos dizer nunca e enaltecer bastante
todo o bem que fazem os sacerdotes que, através do sacramento da Penitência ou
através do diálogo pastoral, se demonstram dispostos a orientar as pessoas
pelas sendas do Evangelho, a ajudá-las a firmarem-se nos seus esforços, a
auxiliá-las a reerguer-se se porventura caíram, enfim, a assisti-las
continuamente, com discernimento e com disponibilidade.
O papel dos sacramentos
47. Depois, nunca será demasiado insistir no fato de a
evangelização não se esgotar com a pregação ou com o ensino de uma doutrina. A
evangelização deve atingir a vida: a vida natural, a que ela confere um sentido
novo, graças às perspectivas evangélicas que lhe abre; e a vida sobrenatural,
que não é a negação, mas sim a purificação e a elevação da vida natural. Esta vida sobrenatural encontra a
expressão viva nos sete sacramentos e na admirável irradiação de graça e de
santidade de que eles são fonte.
A evangelização exprime assim toda a sua riqueza, quando ela realiza uma
ligação o mais íntima possível, e melhor ainda, uma intercomunicação que nunca
se interrompe, entre a Palavra e os sacramentos. Num certo sentido há um
equívoco em contrapor, como já algumas vezes se fez, a evangelização à sacramentalização.
É bem verdade que uma certa maneira de administrar os sacramentos, sem um apoio
sólido na catequese destes mesmos sacramentos e numa catequese global, acabaria
por privá-los, em grande parte, da sua eficácia. O papel da evangelização é
precisamente o de educar de tal modo para a fé, que esta depois leve cada um
dos cristãos a viver, e a não se limitar a receber passivamente, ou a suportar
os sacramentos como eles realmente são, verdadeiros sacramentos da fé.
|