Abertura para a Igreja universal
64. Esse enriquecimento, porém, exige que as Igrejas
particulares mantenham a sua abertura profunda para a Igreja universal. É bem que
seja realçado, de resto, que os cristãos mais simples, mais fiéis ao Evangelho
e mais abertos ao verdadeiro sentido da Igreja, são aqueles que têm uma
sensibilidade absolutamente espontânea em relação a esta dimensão universal;
eles sentem, instintiva e vigorosamente, a necessidade dela; reconhecem-se nela
com facilidade, vibram com ela e sofrem no mais íntimo do seu ser quando, em
nome de teorias que eles não compreendem, se vêem constrangidos numa Igreja
desprovida dessa universalidade, Igreja regionalista e sem horizontes.
Conforme a história demonstra, aliás, sempre que tal ou tal Igreja
particular, algumas vezes com as melhores intenções e baseando-se em argumentos
teológicos, sociológicos, políticos ou pastorais, ou mesmo no desejo de uma
certa liberdade de movimentos ou de ação, se desligou da Igreja universal e do
seu centro vivo e visível, essa Igreja só muito dificilmente escapou, se é que
escapou, a dois perigos igualmente graves: o perigo, de um lado, do
isolacionismo estiolante, e depois, em breve tempo, da desagregação, com cada
uma das suas células a separar-se dela, como ela própria se separou do núcleo
central; e de outro lado, o perigo de perder a sua liberdade, uma vez que,
desligada do centro e das outras Igrejas que lhe comunicavam vigor e energia,
ela se veio a encontrar sozinha, à mercê das mais variadas forças de
escravização e de exploração.
Quanto mais uma Igreja particular estiver ligada, por vínculos sólidos de
comunhão, à Igreja universal, na caridade e na lealdade, na abertura para o
magistério de Pedro, na unidade da "lex orandi" (norma da oração),
que é também a "lex credendi" (norma para crer), e no cuidado pela
unidade com todas as demais Igrejas que compãem a universalidade, tanto mais
essa Igreja estará em condições de traduzir o tesouro da fé na legítima
variedade das expressões da profissão de fé, da oração e do culto, da vida e do
comportamento cristão e do influxo irradiante do povo em que a mesma fé se acha
inserida. E, a par disto, mais ela será verdadeiramente evangelizadora, ou
seja, capaz de ir beber no patrimônio universal para fazer com que dele
aproveite esse seu povo; e, depois, capaz de comungar com a Igreja universal a
experiência e a vida desse mesmo povo, para benefício de todos.
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