Sob a inspiração do
Espírito Santo
75. Nunca será
possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo. Sobre Jesus de
Nazaré, esse Espírito desceu no momento do batismo, ao mesmo tempo que a voz do
Pai, "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo",107
manifestava de maneira sensível a eleição e a missão do mesmo Jesus.
Depois, foi "conduzido pelo Espírito" que ele viveu no deserto o combate
decisivo e superou a última prova antes de começar essa sua missão. 108
Foi "com a potência do Espírito",109 ainda, que Jesus voltou
para a Galiléia e inaugurou a sua pregação, aplicando a si próprio a passagem
de Isaías, "o Espírito do Senhor está sobre mim". "Cumpriu-se
hoje, acrescentou ele, esta passagem da Escritura".110 E aos
discípulos que estava prestes a enviar, disse soprando ao mesmo tempo sobre
eles: "Recebei o Espírito Santo".111
Realmente, não foi senão depois da vinda do Espírito Santo, no dia do
Pentecostes, que os apóstolos partiram para todas as partes do mundo afim de
começarem a grande obra da evangelização da Igreja; e Pedro explica o
acontecimento como sendo a realização da profecia de Joel: "Eu efundirei o
meu Espírito",112 E o mesmo Pedro é cheio do Espírito Santo para
falar ao povo acerca de Jesus Filho de Deus.113 Mais tarde, Paulo,
também ele, é cheio do Espírito Santo114 antes de se entregar ao seu
ministério apostólico, e do mesmo modo Estêvão, quando foi escolhido para a
diaconia e algum tempo depois para o testemunho do martírio.115
Espírito que impele Pedro, Paulo, ou os doze a falarem inspira-lhes as palavras
que eles devem proferir e desce também "sobre todos os que ouviam a sua
palavra".116
Repleta do "conforto do Espírito Santo", a Igreja "ia
crescendo".117 Ele é a alma desta mesma Igreja. E ele que faz com que os fiéis possam entender os
ensinamentos de Jesus e o seu mistério. Ele é aquele que, hoje ainda, como nos
inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e
conduzir por ele, e põe na sua boca as palavras que ele sozinho não poderia
encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma daqueles que escutam afim de a
tornar aberta e acolhedora para a Boa Nova e para o reino anunciado.
As técnicas da evangelização são
boas, obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a
ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do
evangelizador nada faz sem ele. De igual modo, a dialética mais convincente,
sem ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E, ainda, os
mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem ele, em
breve se demonstram desprovidos de valor.
Nós vivemos na Igreja um momento privilegiado do Espírito. Procura-se por
toda a parte conhecê-lo melhor, tal como a Escritura o revela. De bom grado as
pessoas se colocam sob a sua moção.
Fazem-se assembléias em torno dele. Aspira-se, enfim, a deixar-se conduzir
por ele. É um fato que o Espírito de Deus tem um lugar eminente em toda a vida
da Igreja; mas, é na missão evangelizadora da mesma Igreja que ele mais age.
Não foi por puro acaso que a grande balada para a evangelização sucedeu na
manhã do Pentecostes, sob a inspiração do Espírito. Pode-se dizer que o
Espírito Santo é o agente principal da evangelização: é ele, efetivamente que
impele para anunciar o Evangelho, como é ele que nos mais íntimo das
consciências leva a aceitar a Palavra da salvação.118 Mas pode-se dizer
igualmente que ele é o termo da evangelização: de fato, somente ele suscita a
nova criação, a humanidade nova que a evangelização há de ter como objetivo,
com a unidade na variedade que a mesma evangelização intenta promover na
comunidade cristã. Através dele, do Espírito Santo, o Evangelho penetra no
coração do mundo, porque é ele que faz discernir os sinais dos tempos, os
sinais de Deus, que a evangelização descobre e valoriza no interior da
história.
O Sínodo dos Bispos de 1974, que insistiu muito no lugar do Espírito Santo
na evangelização, exprimiu também o voto de que Pastores e teólogos, e nós
acrescentaremos ainda os fiéis marcados com o selo do Espírito pelo batismo,
estudem melhor a natureza e os modos da ação do Espírito Santo na
evangelização, em nossos dias. Fazemos nosso também este voto, ao mesmo tempo
que exortamos os evangelizadores, sejam eles quem forem, a pedir sem cessar ao
Espírito Santo fé e fervor, bem como a deixarem-se prudentemente guiar por ele,
qual inspirador decisivo dos seus planos, das suas iniciativas e da sua
atividade evangelizadora.
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