Testemunhas autênticas
76. Consideramos agora, brevemente, a própria pessoa dos
evangelizadores.
Ouve-se repetir, com freqüência hoje em dia, que este nosso século tem sede
de autenticidade. A propósito dos jovens, sobretudo, afirma-se que eles têm
horror ao fictício, aquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade
e a transparência.
Estes "sinais dos
tempos" deveriam encontrar-nos vigilantes. Tacitamente ou com grandes
brados, sempre porém com grande vigor, eles fazem-nos a pergunta: Acreditais
verdadeiramente naquilo que anunciais? Viveis aquilo em que acreditais? Pregais
vós verdadeiramente aquilo que viveis?
Mais do que nunca, portanto, o testemunho da vida tornou-se uma condição
essencial para a eficácia profunda da pregação. Sob este ângulo, somos, até
certo ponto, responsáveis pelo avanço do Evangelho que nós proclamamos.
O que é feito da Igreja passados dez anos após o final do Concílio?,
perguntávamos nós, não princípio desta meditação. Acha-se ela radicada no meio
do mundo e, não obstante livre e independente para interpelar o mesmo mundo?
Testemunha ela solidariedade para com os homens e, ao mesmo tempo, o absoluto
de Deus? É ela hoje mais ardorosa quanto à contemplação e à adoração, e mais
zelosa quanto à ação missionária, caritativa e libertadora? Acha-se ela cada
vez mais aplicada nos esforços por procurar a recomposição da unidade plena
entre os cristãos, que torna mais eficaz o testemunho comum, afim de que o
mundo creia? 119 Todos somos
responsáveis das respostas que se possam dar a estas interrogações.
Exortamos, pois, os nossos Irmãos
no episcopado, constituídos pelo Espírito Santo para governar a
Igreja;120 exortamos os sacerdotes e diáconos, colaboradores dos Bispos
no congregar o povo de Deus e na animação espiritual das comunidades locais;
exortamos os religiosos, testemunhas de uma Igreja chamada à santidade e, por
isso mesmo, convidados eles próprios para uma vida que testemunhe as
bem-aventuranças evangélicas; exortamos os leigos, e com estes, as famílias
cristãs, os jovens e os adultos, todos os que exercem uma profissão, os
dirigentes, sem esquecer os pobres, quantas vezes ricos de fé e de esperança,
enfim, todos os leigos conscientes do seu papel evangelizador ao serviço da sua
Igreja ou no meio da sociedade e do mundo; e a todos nós diremos: É preciso que
o nosso zelo evangelizador brote de uma verdadeira santidade de vida, alimentada
pela oração e sobretudo pelo amor à eucaristia, e que, conforme o Concílio
no-lo sugere, a pregação, por sua vez, leve o pregador a crescer em
santidade.121
O mundo que, apesar dos
inumeráveis sinais de rejeição de Deus, paradoxalmente, o procura entretanto
por caminhos insuspeitados e que dele sente bem dolorosamente a necessidade, o
mundo reclama evangelizadores que lhe falem de um Deus que eles conheçam e lhes
seja familiar como se eles vissem o invisível.122 O mundo reclama e espera
de nós simplicidade de vida, espírito de oração, caridade para com todos,
especialmente para com os pequeninos e os pobres, obediência e humildade,
desapego de nós mesmos e renúncia. Sem esta marca de santidade,
dificilmente a nossa palavra fará a sua caminhada até atingir o coração do
homem dos nossos tempos; ela corre o risco de permanecer vã e infecunda.
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