Laços recíprocos entre a Igreja e a evangelização
15. Quem quer que releia no Novo Testamento as origens da
Igreja e queira acompanhar passo a passo a sua história e, enfim, a examine em
sua vida e ação, verá que ela se acha vinculada à evangelização naquilo que ela
tem de mais íntimo.
A Igreja nasce da ação evangelizadora de Jesus e dos doze. Ela é o fruto
normal, querido, o mais imediato e o mais visível dessa evangelização:
"Ide, pois, ensinai todas as gentes".37 Ora "aqueles que
acolheram a sua Palavra, fizeram-se batizar. E acrescentaram-se a eles, naquele
dia, cerca de três mil pessoas... E o Senhor acrescentava cada dia ao seu
número os que seriam salvos".38
Nascida da missão, pois, a Igreja é por sua vez enviada por Jesus, a Igreja
fica no mundo quando o Senhor da glória volta para o Pai. Ela fica aí como um
sinal, a um tempo opaco e luminoso, de uma nova presença de Jesus, sacramento
da sua partida e da sua permanência, Ela prolonga-o e continua-o. Ora, é
exatamente toda a sua missão e a sua condição de evangelizado, antes de mais
nada, que ela é chamada a continuar.39 A comunidade dos cristãos,
realmente, nunca é algo fechado sobre si mesmo. Nela, a vida íntima, vida de
oração, ouvir a Palavra e o ensino dos apóstolos, caridade fraterna vivida e
fração do pão, 40 não adquire todo o seu sentido senão quando ela se
torna testemunho, a provocar a admiração e a conversão e se desenvolve na
pregação e no anúncio da Boa Nova. Assim, é a Igreja toda que recebe a missão
de evangelizar, e a atividade de cada um é importante para o todo.
Evangelizadora como é, a Igreja começa por se evangelizar a si mesma.
Comunidade de crentes, comunidade de esperança vivida e comunicada, comunidade de
amor fraterno, ela tem necessidade de ouvir sem cessar aquilo que ela deve
acreditar, as razões da sua esperança e o mandamento novo do amor. Povo de Deus
imerso no mundo, e não raro tentado pelos ídolos, ela precisa de ouvir,
incessantemente, proclamar as grandes obras de Deus,41 que a
converteram para o Senhor; precisa sempre ser convocada e reunida de novo por
ele. Numa palavra, é o mesmo que dizer que ela tem sempre necessidade de ser
evangelizada, se quiser conservar frescor, alento e força para anunciar o
Evangelho. O Concílio Ecumênico Vaticano II recordou e depois o Sínodo de 1974
42 retomou com vigor este mesmo tema: a Igreja que se evangeliza por
uma conversão e uma renovação constantes, a fim de evangelizar o mundo com
credibilidade.
A Igreja é depositária da Boa Nova que há de ser anunciada. As promessas da
nova aliança em Jesus Cristo, os ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, a
Palavra da vida, as fontes da graça e da benignidade de Deus, o caminho da
salvação, tudo isto lhe foi confiado. É o conteúdo do Evangelho e, por
conseguinte, da evangelização, que ela guarda como um depósito vivo e precioso,
não para manter escondido, mas sim para o comunicar.
Enviada e evangelizadora, a Igreja envia também ela própria evangelizadores.
É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a
mensagem de que ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela
própria recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas
próprias pessoas ou as suas idéias pessoais, 43 mas sim um Evangelho do
qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele
disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para o transmitir com a
máxima fidelidade.
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