Índice | Palavras: Alfabética - Freqüência - Invertidas - Tamanho - Estatísticas | Ajuda | Biblioteca IntraText
Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

IntraText CT - Texto

  • SEGUNDA PARTE       HOMEM DA IGREJA E PARA A IGREJA
    • 3. O BISPO
      • e)   IGREJA UIVERSAL E IGREJA PARTICULAR
Precedente - Sucessivo

Clicar aqui para desativar os links de concordâncias

- 158 -


e)   IGREJA UIVERSAL E IGREJA PARTICULAR

 

“O Papa é o centro e criador dos outros centros.”

 

             O Papa atrai e irradia, congrega e difunde. É centro do mundo cristão, em toda sua amplidão; é ao mesmo tempo, criador dos outros centros. Ainda que imerecidamente, eu sou vosso Bispo. Quem me deu autoridade para  governar as vossas almas? Quem me investiu no foro interno e externo, do poder legislativo, judiciário e executivo, no qual consiste nos termos da Diocese Placentina, a soberania espiritual do meu ministério Episcopal? Quem colocou em minhas mãos as chaves do reino dos céus, em vosso favor? Certamente Jesus Cristo, já que na ordem sobrenatural tudo vem d’Ele, mas Jesus Cristo através do Papa.

             As chaves do Reino celeste, disse Ele a Pedro, eu as darei a quem? A ti, darei a ti (...). É verdade que aquelas chaves deverão passar a outras mãos, mas sempre pelas tuas mãos; aquele poder (em limite mais ou menos amplos) deverá ser conferido a outros, mas por ti e a beneplácito teu. Portanto, diz São Cipriano, do mesmo modo que o vigor dos membros humanos deriva da cabeça, a vida dos ramos, da raiz da árvore, da fonte, a água dos riachos, e a luz. dos raios do sol, assim todos os poderes hierárquicos emanam, como de visível nascente, da de Pedro. E se não fosse assim, com que direito chamar-me-ia vosso Bispo? 32

 

“Todo o episcopado se concentra no Bispo dos Bispos.”

 

             Agradável é o louvor que nos vem das pessoas amadas, porém, mais querido ainda é o que vem de vós, porque endereçado ao alvo muito mais alto, que o da minha pobre pessoa. O louvor que se faz a um Bispo, ainda que merecidamente (e no caso presente de fato não o é) é em substância louvor ao episcopado, que com seu caráter divino, com a graça do seu ofício, com sua celeste dignidade, com sua autoridade de jurisdição, reflexo da


- 159 -


mesma autoridade de Jesus Cristo, é sempre a límpida e viva fonte de todo o bem, que o Bispo opera. Como todo o episcopado se concentra, se unifica no Bispo dos Bispos, que é o Papa, é antes como o corpo de uma única pessoa moral, que tem como Chefe visível o Romano Pontífice, segue-se que o elogio a um bispo, não é apenas elogio ao Episcopado, mas resulta outrossim, de modo particularíssimo, elogio àquele supremo poder papal, no qual o episcopado vive e floresce. 33

 

“A glória mais pura da Diocese Placentina.”

 

             Faz 25 anos que sentais nesta infalível cátedra e faz 25 anos que a ilustrais com a palavra, com o exemplo, com esplendor de uma sabedoria rara e com o exercício das mais sublimes virtudes; 25 anos de assíduos cuidados e de grandes lutas, cheias de obras santas, gloriosas, imortais (...). Do profundo do coração, vos agradecemos pelo bem que nos fizestes, pois a vossa Palavra,  o Espírito de Deus que inspira e acompanha, nos faz fortes da Vossa mesma fortaleza, valorosos dos vossos valores, firmes, intrépidos como Vós.

             A união sincera e afetuosa com a de Pedro constituiu em todo tempo, a glória mais pura, mais ambicionada, mais querida da Diocese Placentina, que hoje, por minha boca renova os protestos de fidelidade e de respeito a Vossa Venerável Pessoa, declara altamente querer continuar as tradições recebidas, bem sabendo que, na união com o Pontificado Romano e na plena e perfeita conformidade aos Vossos ensinamentos e desejos, é outrossim resposta de salvação para a nossa pátria. 34

 

Bispo, cabeça de uma Igreja que vive sua própria vida, na grande unidade da Igreja universal.”

 

             Ser Bispo é pertencer a todos e não mais a si mesmo; no grau mais excelso e com a mais sublime autoridade do sacerdócio, é o pai de uma família, o chefe de uma Igreja, que vive de sua própria vida, na grande unidade da Igreja Universal (...).

             Falta a seus deveres mais sagrados, o eclesiástico que não pratica as santas palavras do Mártir Sto. Inácio: Sede submissos ao Bispo, como a Jesus Cristo; obedecei ao Bispo, como Jesus Cristo obedeceu ao Pai (...).


- 160 -


             São estas regras eminentemente, apostólicas, que sobressaíam na conduta do nosso piedoso Prelado, que não cessava de deplorar a decadência e os grandes males que seriam atribuídos à Igreja. Repetia constantemente (...) o que antecipará o triunfo da Igreja e formará uma grande armada disposta à batalha, será, sem dúvida, uma inabalável adesão ao centro da unidade católica, o respeito, o amor, a obediência em tudo, ao Romano Pontífice mas não separado do respeito do amor, da obediência à autoridade episcopal, sobre a qual, no dizer de um Padre, se fundamenta e repousa a salvação da Igreja. 35

 

“Nós Bispos, somos irmãos entre nós.”

 

             Reunidos pela primeira vez, para conferir as coisas que dizem respeito ao governo de vossas almas, unidos, em espírito de obediência e de devoção para com o Pai comum dos fiéis, o encontrarmo-nos e sentirmo-nos verdadeiramente irmãos, foi uma coisa só (...).

             Sabei que nossas palavras não são nossas, são o eco fiel do magistério divino de Jesus Cristo, confiado a Pedro; dele desce através dos Bispos, até  vós. Nós somos e nos alegramos de poder chamar-nos e sentir-nos irmãos, unidos e amáveis entre nós, porque com todo o ardor da alma e com profunda devoção, atendemos aos infalíveis documentos do nosso único mestre, a cuja voz nos sentimos felizes de prestar, por graça de Deus, dócil e amorosa atenção: “vós sois todos irmãos, o vosso único Mestre é Jesus Cristo”. 36

 

Impossibilidade de governar as Dioceses.”

 

             Confesso-vos ingenuamente, que o miserável estado das nossas dioceses por causa dos contendores e das escandalosas polêmicas, constitui a maior dor da minha vida e me aflige de tal modo, a ponto de perder até a saúde.

                           Quando estive em Roma, falei claramente, talvez com excessiva franqueza, sobre as coisas que acontecem entre nós, da impossibilidade de governar as Dioceses, se não fosse freado aquele partido audacioso, que tendo seus chefes em Milão, se difundia em todas as cidades, que se tornava intocável, também diante dos Bispos com sua exagerada


- 161 -


adesão ao Papa etc. Que devo dizer-vos? parece-me que ao Santo Padre, as minhas palavras causaram alguma surpresa; tenho motivos para acreditar que o partido tenha percebido, “daí vem a cólera”.

             Falou-sedias de insinuações malévolas feitas pelo Osservatore a vós e a mim e a algum outro colega. Há dois anos que não leio aquele jornal e não me preocupo com seus julgamentos. porém, ao chegar a Placência escreverei sobre isto ao Papa e escreverei com força e não só de mim. Caro amigo, estamos unidos, como alvo das flechas destes pobres cegos e devemos opor-nos a suas insanas tentativas, conservando a calma, a pureza de intenção, procurando só a glória de Deus, da Igreja e a salvação das almas.

De minha parte estou disposto não só a escrever, mas também a empreender viagem a Roma, para levar ao conhecimento do Santo Padre, o verdadeiro estado de coisas. 37

          Os partidos que tomam, ora um pretexto, ora outro, para esmagar pouco a pouco o Episcopado e dar, a seu modo, a orientação da opinião pública católica, tornam-se, cada dia, mais audaciosos, até tornar os Bispos impotentes, talvez no exercício do seu sagrado ministério (...).

             Eu que consumi a saúde e tudo o que é meu, a bem da religião, que  recusei grandes condecorações, com o direito à generosa aposentadoria, para protestar contra a violação dos direitos da Igreja; eu que considero, como ordens absolutas, também as tendências menos marcantes da S. ; que fui, não somente com palavras e estou pronto a derramar meu sangue pela Igreja e por seu sagrado Chefe, eu ser suspeito de traição? Meu Deus! Sustentai-me, na árdua prova, pois se a coisa fosse confirmada, eu morreria do coração. 38

          Escrevi a alguém influente de Roma e ultimamente ao Papa. Envio-vos cópia, para que me digais se escrevi com suficiente política e se devo insistir sobre o assunto. Se os Bispos não fossem mudos, à força de falar, tirar-se-ia alguma vantagem. A propósito, o que pensa Mr. Guindani? Caso veja as coisas como nós, não poderia também ele escrever, como eu fiz? Enfim é dever de nosso ministério levar ao conhecimento do Papa, o


- 162 -


verdadeiro estado de coisas, com a finalidade de salvar o que se pode. 39

             A confusão das línguas é verdadeiramente assustadora; se as coisas continuarem assim, as Dioceses tornar-se-ão ingovernáveis. Por enquanto, parece-me extremamente necessário, especialmente para nós, Bispos, grande prudência, rodeados como estamos e vigiados por certos fariseus, que procuram avidamente, todo pretexto, para julgar-nos e colocar-nos em aparente contradição com a S. , o que se torna gravíssima injúria ao episcopado e enorme escândalo aos fiéis. Em tão triste condição peço cada dia a Deus me conceda a mim e a todos os meus irmãos, calma, paciência, tranqüilidade, confiança no divino auxílio, sem o que se perde a cabeça. 40

 

“E nós homens temos senso.”

 

Participo com toda alma de vossas dores e de vossas tribulações, mas é necessário ser forte e carregar com grande dignidade o peso da presente tribulação.

             Estou certo de que num dia, não muito distante, será feita justiça. Quando se tornarem conhecidas as censuras da Inquisição dir-se-á: deram à luz os montes etc. Desta história a vossa defesa será feita, vereis. Em tudo, escrevia um Padre da Igreja, Sto. Ambrósio, desejo seguir a Igreja Romana; mas também nós homens temos senso; a mim parece querer dizer: porque sou Bispo, devo deixar-me impor, como se impõe a um jumento? Acautelai-vos das surpresas: o objetivo dos vossos adversários, já vos disse uma vez, é de vos fazer renunciar à Diocese. 41

 

 

 “O episcopado deve elevar-se por si mesmo.”

 

             O episcopado deve elevar-se por si mesmo e encontrar, na própria autoridade divina, a força para se impor aos inimigos e para conseguir o respeito que lhe é devido. Expressei-vos, outras vezes, este pensamento e acredito que não erro. Esperar uma ajuda eficaz de Roma é iludir-se. Todavia, eu tentarei todos os caminhos e asseguro-vos que falarei, com


- 163 -


tamanha força e com tão profunda convicção, que farei dobrar qualquer vontade. Para que não aconteça, como temo, uma tomada de posição, em força de uma política toda humana, que desde algum tempo domina, nas relações exteriores da Igreja. 42

 

Saberei defender minha autoridade.”

 

             Nós somos muito expansivos e sinceros, é verdade, mas não o percebo como um mal; existe também um tempo para falar e parece-me que chegou; entende-se: quando e onde se pode e se creia conveniente, já que o silêncio de todo o episcopado contribui fortemente para aumentar a audácia dos novos liberais e queira Deus, se possa de algum modo freá-los, o que eu duvido muito. Valer-me-ei de vossos fraternos conselhos, estarei atento, mas não a ponto de demonstrar temor de quem quer que seja: nunca nos amarão, persuadi-vos; ao menos nos temerão.

Sinto-me perfeitamente tranqüilo; se em Roma disserem coisas que não existem, responderei em bom tom. Não devo nada a ninguém e saberei defender a minha autoridade e a minha função, com grande energia. Refleti antes de começar a luta, pesei todas as dificuldades e estou convicto de poder resistir a todas as forças dos nossos adversários.

Prudência, cuidado, mas sobretudo, coragem e firmeza. Escrevi ao Papa no sentido que vos disse, com reverência, mas com energia. 43




32.   Homilia de São Pedro, 1898 (AGS 3016/7).



33.           Discurso à Academia pelo jubileu episcopal, 1901 (AGS 3019/2).



34.   Carta a Leão XIII, 28-4-1903 (AGS 3019/2).



35.           Elogio fúnebre a D. Angelo Bersani Dossena, Bispo de Lode, 1887 (AGS 3018/7).



36.   Os direitos cristãos e os direitos do homem. Bologna, 1898, pp. 3-4. (Carta Pastoral coletiva do episcopado emiliano, redigida por Scalabrini).



37. Carta a O. Bonelli, 22-9-1881. (Correspondência 5. B., p. 16).



38.   O “Osservatore Católico” tinha se entrometido indevidamente em um negócio interno da Diocese de Placência, como era a destituição do reitor do seminário can. Savino Rocca, por motivos disciplinares, (cf. Biografia, pp. 495-503).



39. Carta a O. Bonomelli, agosto de 1882 (correspondência S. B., p. 64). D. Guindani era Bispo de Bérgamo.



40. Id., 11-9-1881. (Id., p. 14).



41. Id., 28-4-1890. (Id., p. 267). As “censuras da Inquisiçãoforam pré-anunciadas pelas “rotas” de Bonomelli aos livros de Monsabré, traduzidos por ele em italiano, mas foram esconjurados por Scalabrini. (Cf. Biografia, pp. 759-765).



42. Id., 19-9-1882. (Id., p. 70).



43. Id., 22-11-1881. (Id., p. 35).






Precedente - Sucessivo

Índice | Palavras: Alfabética - Freqüência - Invertidas - Tamanho - Estatísticas | Ajuda | Biblioteca IntraText

Best viewed with any browser at 800x600 or 768x1024 on Tablet PC
IntraText® (V89) - Some rights reserved by EuloTech SRL - 1996-2007. Content in this page is licensed under a Creative Commons License