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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
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  • SEGUNDA PARTE       HOMEM DA IGREJA E PARA A IGREJA
    • 4.  O SACERDOTE
      • b)      A SANTIDADE DO SACERDOTE
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b)      A SANTIDADE DO SACERDOTE

 

“A finalidade da vossa vocação é a santidade.”

 

             A finalidade da vossa vocação é a santidade (...). Os sacerdotes não são chamados a uma santidade pessoal, mas se dedicam também à santidade dos outros. “Eu vos escolhi e vos destinei a ir e a produzir frutos abundantes” (Jo 14,1).

             Eu vos escolhi, isto é, eu vos separei da culpa, e vos estabeleci solidamente no estado de graça, a fim de que andeis, progridais na virtude e leveis, como vosso fruto, os homens à conversão. Que estes frutos durem, isto é, seja sólida a daqueles que a mim associastes.

             Com que força e com que modelo os sacerdotes poderão conseguir, senão com a força e modelo de santidade de Cristo? “Como o galho frutifica se permanece unido ao tronco, assim também vós, se permanecerdes em Mim (Jo 15). O poder do vosso sacerdócio vem da participação ao sacerdócio


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de Cristo. De fato, afirma o Tridentino, Ele destinou os  sacerdotes, para serem seus vigários. Por isso testemunhar Cristo, ao povo fiel, tanto na santidade, quanto no ministério.

Os sacerdotes se aproximam do altar para oferecerem a Hóstia imaculada? É necessário que os fiéis vejam neles o amor e a união de Cristo, com o Pai.

O sacerdote sobe a Cátedra da verdade? O próprio lugar exige se fale de realidades altíssimas; requer que tais realidades sejam vistas encarnadas pelos sacerdotes, que reproduzam não fariseu, mas o Cristo que pregam (S. Greg. pars II, c. 3).

O sacerdote senta-se no sagrado tribunal da Penitência? Especialmente lá ele deve ser formado e reforçado na santidade de Cristo.” A mão que se estende para purificar a mancha do outro deveria, ela mesma, estar limpa, para não manchar ainda mais aquilo que toca, caso esteja suja de lama (S. Greg. I, c. 27). 12

 

“A santidade é pureza consagrada a Deus.”

 

             A santidade, disse São Tomás, é pureza consagrada a Deus. pureza comum, nem medíocre, mas eminente, como disse Crisóstomo. A Santidade é uma eminente pureza da mente. A mediocridade não é condizente com o sacerdote: é como uma cidade colocada sobre o monte, que não pode ser escondida. A santidade é pureza consagrada a Deus: pureza comprometida com a honra de Deus. Portanto a santidade, juntamente com a pureza da mente, exige imolação contínua. Santo é o que se queima, no altar, em homenagem a Deus. Do mesmo modo, santidade autêntica significa uma vida sacerdotal livre de qualquer vício e continuamente comprometida com a honra de Deus.

             Tememos, porém, que a noção que demos de santidade, suscite alguém idéia de uma santidade distante de nossas forças, dificilmente acessível, reservada a pessoas que vivem fora do mundo.

             Não existe motivo para temer, quando se ouve falar em santidade genuína.

             A Santidade, a perfeição própria desta vida, não é algo absoluto, ausente de qualquer imperfeição. De fato, até o justo peca sete vezes ao dia. A santidade, consiste em um contínuo impulso para alcançá-la. Assim ensinava S. Bernardo. Agrada-me citar aqui, a orientação de Sto. Agostinho: “e perfeito o que não tem pecados graves e não se descuida dos veniais,


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enfim, aquele que corre sem se cansar, no caminho da virtude.” (De Perfect, Just. c. 3). 13

 

“O primeiro degrau da santidade é o desejo ardente e generoso.”

 

             O primeiro degrau, ou meio para alcançar a santidade é o desejo ardente e generoso. Sendo o fim do sacerdote a santidade, a ela devem ser dirigidas todas as suas forças e aspirações. Não é suficiente um desejo, uma decisão qualquer: é necessário, um desejo e uma vontade comparáveis à fome e à sede. “Bem-aventurado aqueles que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.

             A Santidade é a verdadeira sabedoria, que é necessário pedir, desejar, buscar, como a riqueza: cavar como um tesouro (...). Ninguém, jamais alcançará o cume da santidade, se não a tiver ambicionado assídua e intensamente. Veneráveis irmãos, todos vós desejais a santidade. Pelos frutos, cada um avalie a intensidade do seu desejo.

             Do amor à santidade, deriva a freqüente e cotidiana meditação das leis e dos mistérios celestes. O sacerdote que descuida da meditação quotidiana nunca será santo, mas experimentará a desolação; será “semelhante àquele que contemplou a sua imagem no espelho: contemplou-a e mal sai daí esquece-se de como era” (Tg 1,23).

             Do verdadeiro amor à santidade, brota o empenho de purificar a própria consciência cada oito dias, conforme a prescrição do Sínodo. Quem descuida disto está longe do caminho da santidade, porque quem despreza as pequenas coisas, pouco a pouco cairá.

             Deste mesmo desejo imenso, deriva o exame de consciência quotidiano: ele é necessário sobretudo aos sacerdotes, para verificarem o que estão edificando sobre o fundamento da : se ouro, ou prata, ou palha.

             Disse Gregório Magno que, de fato, o nosso espírito distrai-se continuamente, com as preocupações e não nos conscientizamos se não verificarmos os nossos progressos e retrocessos, reentrando em nós mesmos. 14

 

“A retidão do coração.”

 

             Que significa um coração reto? Um coração que busca unicamente a Deus, um coração simples, um coração puro como suplicava o real salmista: “Cria em mim, á Deus, um coração puro, e renova no meu interior um espírito reto”. (Sl 50,12) (...).


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             Este coração reto é na verdade grande coisa, origem de todas as virtudes, fonte de santidade, raiz da vida sacerdotal (...)

             Seja a retidão de coração a primeira preocupação do sacerdote. Foi com esta disposição que entrastes a fazer parte da milícia da Igreja; é com esta disposição que deveis perseverar, com constância. Diz o sábio: “Guarda teu coração acima de todas as coisas, porque dele procede a vida”. (Pr 4,23).  É verdade. De fato, de onde vem o resfriamento do santo temor, a inconstância na virtude, o difícil progresso no caminho da perfeição? Da fraqueza do coração. Por que, às vezes, as pedras do santuário são dispersas por todas as partes e os mesmos cedros de Líbano estão sujeitos a quedas catastróficas? Por um vício oculto no coração.

             Por isto o sacerdote, como sábio arquiteto, coloque o fundamento do coração reto, isto é, orientado para Deus, para poder depois edificar sobre ele. 15

 

“Como garantir-nos o caminho da retidão.”

 

Eis como garantir-nos o caminho da retidão: meditar sobre a lei de Deus e conversar assiduamente, com Ele, na oração.

             Quem deseja conservar esta retidão de coração aplique-se à oração. Um piedoso escritor assim se expressa sobre a oração: Se alguém me perguntasse do que mais necessita um sacerdote, no cuidado das almas, responder-lhe-ia: de oração; depois se perguntasse, de que outra coisa tem necessidade, repetir-lhe-ia: da oração; se ainda e repetidamente insistisse sobre a pergunta, a minha resposta seria sempre a mesma.

Compreendeis a necessidade da oração. Ouçamos São Bernardo: A reflexão ou meditação, da qual deriva a oração, oferece as seguintes vantagens: antes de tudo purifica a mente, isto é, a mesma fonte da qual se origina; corrige os excessos, regulamenta os costumes, torna a vida virtuosa e ordenada; enfim, busca conhecimento das coisas divinas e humanas.

É a meditação que esclarece o que é ambíguo, recompõe, quando está desconexo, ajunta o que está disperso; escruta as coisas secretas, intui as verdadeiras, submete a exame as verossímeis, tira a máscara das enganadoras e falsas.

          É ainda a meditação que programa a nossa atividade e uma realizada, a reexamina, para que nada de incorreto permaneça nossa vida. Finalmente é a meditação que na prosperidade prepara-nos para as contrariedades e isto é,

 

 


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prudência, enquanto, na contrariedade faz com que quase não a sintamos e isto é fortaleza. (De Consid. I, e. 7). 16

 

“A Caridade cresce e se nutre da meditação.”

 

             Eis a eficácia da meditação, para a retidão do coração e para a integridade da nossa vida espiritual. Da meditação brotarão riquezas incalculáveis, enquanto que, sem meditação será desolação sobre desolação e absoluta esterilidade de boas obras. Nunca poderemos desenvolver dignamente os trabalhos do nosso ministério, se não o tivermos constantemente diante dos olhos e em assíduo e íntimo contato com Deus.

             Vejam como cumprem o seu ministério os sacerdotes que passam o dia com contatos e divagações exteriores, extinguindo assim o espírito de oração; mais prontos a tratar de negócios mundanos, de acontecimentos diários, que da oração; habituados a falar continuamente com os homens, quase nunca com Deus; raramente encontram o tempo, para a meditação da manhã; que adiam para as últimas horas do dia o dever das Horas Canônicas, como se fosse o último de seus deveres. Entendiam-se de tratar com Deus, porque O amam pouco.

             Convencei-vos de que a caridade cresce e se nutre de meditação. “Na meditação, disse o Profeta, acende-me um fogo” e isto diga-se sobretudo da caridade do sacerdote: ele, como ministro de Deus, deve ser como um fogo flamejante: “Que fez dos seus ministros, chamas ardentes” (Hb 1,7); e o seu coração, como um altar, sobre o qual oferece um holocausto perene: o fogo deverá ser alimentado no altar, sem jamais apagar. O sacerdote nele acenderá lenha todas as manhãs” (Lv 6,5). Vós todos o sabeis: a meditação diária deve fornecer sempre novo alimento à vida sacerdotal, para que este fogo se conserve e se dilate. 17

 

“O bom exemplo é o distintivo do bom pastor.”

 

             Não é suficiente que o sacerdote seja piedoso e santo diante de Deus, no íntimo da consciência. É necessário que tal se manifeste, também diante dos homens. Desde o momento em que foi colocado a parte, pela herança de Deus, é absolutamente requerida dele, não só a integridade de vida, mas também o testemunho desta integridade, entre o povo fiel.


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A boa fama é para ele um compromisso, para com Deus, para com a Igreja, para com os fiéis. O bom exemplo é o distintivo do bom pastor, conforme as palavras de Cristo: “O Pastor vai com as próprias ovelhas; vai na frente delas e as ovelhas o seguem” (Jo 10,4) (...).

              O Sacerdote na cura das almas, é uma cidade colocada sobre o monte, exposto aos olhares de todos. A sua vida, que não pode ficar escondida, deve produzir efeito nos outros. De fato, ele será a ruína ou a ressurreição para muitos. Portanto, examinai como vos comportais, em palavras e em obras.

              O sacerdote é lâmpada colocada sobre o candelabro, para que ilumine a todos os que estão na casa. Mantenha a sua eficácia forte e penetrante, a tal ponto de atrair à virtude, com seu exemplo. A boa conduta do sacerdote é a melhor formação das populações. Não existe, nada mais eficaz, do que o exemplo (...) A pregação santa já tem em si mesma, a eficácia, mas é dupla a eficácia, quando a palavra pregada é santa, e aquele que prega é santo. 18

 

Deus escolheu os seus ministros não entre os anjos,

mas entre os homens.”

 

              Deus, por um gesto de sua bondade infinita, não escolheu os seus ministros, entre os anjos, mas entre os homens. Todo Pontífice é tirado dentre os homens, isto é, entre criaturas cheias de enfermidades e de imperfeições, plasmado com a argila comum de Adão, expostos, como todos os outros e freqüentemente, mais que os outros, ao embate das paixões. Ë bom lembrar que Deus, comunicando aos sacerdotes os seus poderes, não lhes comunicou a impecabilidade. Ao permitir que alguma folha da árvore caia no lodo, mostra que estes poderes não dependem do mérito daquele que os recebe. Não são dados ao homem, para uso próprio, mas vara o bem dos outros. A Igreja não é governada por força humana, mas pela força que vem do alto. 19

 

“Os padres não são anjos: é melhor que seja assim.”

 

Os padres não são anjos, é melhor que seja assim. Saberão compadecer-se mais e socorrer os culpados e pobres irmãos, porque também eles estão cercados de enfermidades. Porém, eles não precisam se envergonhar diante de seus censores, quase todos sabem honrar seu ministério,


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com ciência, caridade, operosidade e com virtude, cumprem o preceito do Apóstolo: honrei meu ministério. 20

 

 




12. discurso do Sínodo, 3-5-1893. Sínodo Diocesano Placentino Segundo. Placência, 1893, pp. 179-180.



13. Id., pp. 180-181.



14. Id., pp. 181-182.



15.   Discurso do Sínodo, 30-8-1899. Sínodo Diocesano Placentino Placência, 1900, p. 248.



16.           Id., pp. 248-249.



17.           Id., pp. 249-250.



18. Id., p. 251.



19. O Padre católico, Placência, 1892, p. 32.



20.           , vigilância, oração, Placência, 1899, p. 17.






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