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c) A ORAÇÃO DO SACERDOTE
“O fruto da
pregação e do ministério depende da graça.”
Vede
que o zelo é necessário e como deveis aplicar-vos com todas as forças. Pois é em força do vosso ministério, que sois fiador do
próximo, sois comprometidos pelas palavras de vossa boca, sois vinculados com
as vossas mesmas promessas. Portanto, andai sem demora, solicitai o próximo não
concedais sono aos vossos olhos, nem repouso às vossas pálpebras” (Pr 6,1-4).
Para incentivar o vosso zelo nada de mais eficaz
se pode apresentar. Já vos recomendei, concluir com a Eucaristia, todas as
vossas palestras, aproveitar de toda ocasião, oportuna e inoportuna para
dirigir uma exortação eucarística.
Agora,
sugerir-vos-ei que prepareis vossas palestras, diante do SS. Sacramento, de
modo a poder transmitir ao povo, as mesmas palavras que Cristo vos sugeriu;
assim fizeram Moisés e os profetas.
Diante do tabernáculo, o sacerdote peça insistentemente que o gelo do
seu coração se derreta pelo fogo do céu, que arde em Cristo; que a sua alma
seja replenada de favores divinos e possa, deste modo, tornar-se testemunha
fiel, diante do povo.
O fruto da pregação e do
ministério depende da graça, conforme a palavra do Apóstolo: “Nem quem planta é
alguma coisa, nem quem irriga, mas é Deus que faz crescer”. 21
“Freqüentemente
vos vejam diante do tabernáculo.”
É
sumamente louvável e desejável que o sacerdote logo de manhã se apresente
diante do SS. Tabernáculo e ali, quase antecipando o sol, no louvor de Deus,
faça sua meditação, prepare-se sempre diante da SS. Eucaristia, de modo
conveniente, para o sacrífício da Missa; depois da celebração, ali fique para
uma devida ação de graças. Mas infelizmente, acontece com freqüência, que os
sacerdotes, sem nenhuma preparação e descuidando de antepor alguma oração, se
aproximam para celebrar e depois da missa, imediatamente se distraem com
ocupações profanas (...). Suportam - 177 -
de má vontade, estar cada dia por
um quarto de hora diante do Tabernáculo, em oração a Cristo e se afastam,
impacientes, somente em relação a Deus. Cristo Hóspede descuidado e forasteiro
em casa, não poderia se lamentar assim. “Tornei-me um estranho, os meus irmãos
e um forasteiro para os filhos de minha mãe?”(...).
Que
os vossos paroquianos vos vejam com freqüência diante do SS. Tabernáculo, para
rezar o breviário e para o exame de consciência. Que eles vejam, que vos
aproximais de Cristo, antes de sair
de casa, para implorar dele o auxílio e a graça, percebam que ao retornar, vos apresentais a Ele,
para agradecer-lhe. Bem-aventurado o sacerdote que, interrompendo suas
ocupações, empregue parte do seu tempo, no culto assíduo a Cristo Senhor e
aprender a dar sabor aos seus trabalhos, com colóquio amigo com Cristo. 22
“O freqüente encontro e o
colóquio com Cristo.”
O
segundo elemento da vida eucarística, em que o pastor de almas deve servir de exemplo
para o povo, é o freqüente encontro e colóquio com Cristo. Nada mais necessário
e salutar que este encontro. O Cristo, na Eucaristia é a riqueza confiada ao
sacerdote, é o seu tesouro.
Não se pede uma vigilante
custódia e supervisão para essa riqueza? E o coração não corre e descansa, onde
se encontra o seu tesouro? Cristo na Eucaristia é para o sacerdote,
sabedoria, conselho, defesa, força; a sabedoria que o ilumina, o conselho que o
dirige, a defesa que o protege, a força que lhe torna fácil, cada coisa difícil
(...).
Pode
acontecer que, nos primeiros anos do ministério sacerdotal fizemos tal
experiência, mas com o passar do tempo, o ouro foi escurecendo e apagou-se seu
esplendor; tornando-vos como aqueles, de quem fala o Apóstolo: simuladores de
uma piedade que é só máscara. Mas já há vinte, trinta ou quarenta anos, estamos
numa íntima relação com Cristo neste sacramento, mas pouco temos recebido de
sua plenitude. E enquanto, como partícipes, antes, como artífices deste
mistério, enriquecemos os outros, vamos nos esgotando em nossa miséria! Mas
como? Não será talvez porque a nossa fé definha? Estamos em contato com a
materialidade deste mistério e não sabemos penetrar suficientemente, no seu
íntimo: vozes mudas, para nós, as que nos falam de Cristo, neste Sacramento. 23
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“Recomendações ao clero.”
Tende
continuamente, presente na memória, a vocação com a qual vosso Deus vos
assinalou.
Animados por esta viva e contínua
lembrança, revesti-vos de virtude de tal forma, que os outros possam ver
resplandecer em vós, como em um farol, a santidade que, se deve ser grande nos
outros estados de vida, em mais larga escala a deveis possuir, vós, ministros
dos mistérios de Deus e dispensadores da graça divina. Esforçai-vos para
conduzir na terra, quais anjos de Deus, uma vida tão celestial que emane para
os outros, exemplos de virtudes divinas.
Em
conformidade com um só e mesmo espírito, empenhai-vos no culto divino, na
meditação das coisas celestes, na oração, no estudo das ciências sagradas e
eclesiásticas.
Abandonai a vaidade e as seduções do mundo; livres
de todo vício, caminhai firmes nas vias do Senhor. Abraçai com fervor a
caridade, fonte de todas as virtudes. Cultivai a humildade, a mansidão, a
paciência, a justiça, a temperança, todos os deveres da piedade cristã.
Pensai
e fazei tudo o que é puro, verdadeiro, religioso. Cultivai assiduamente a
oração.
Com
o coração puro e viva atenção aplicai meia hora por dia à oração mental. Seja,
quanto possível, vossa primeira ocupação. De fato ela é a base e o fundamento
da vida sacerdotal. Se fordes fiéis, podeis esperar dela todo bem.
Celebrai
santa e religiosamente a Missa. Preparai-vos para a celebração com viva
piedade, meditando profundamente tão grande mistério. Para celebrar dignamente,
examinai com cuidado e freqüentemente a vossa consciência. Na celebração do
santo sacrifício, preservai-vos do erro.
Não
passe um dia, sem uma visita de adoração e de súplica a Jesus presente na SS. Eucaristia.
Cultivai
ardente devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à Bem-aventurada Virgem Maria, a
São José e aos Santos Patronos.
Se
quereis conservar e aumentar o espírito de piedade, não transcureis nenhum dia,
por nenhum motivo, o exame de consciência do meio-dia e da tarde, a leitura
espiritual, a recitação do Santo Rosário.
Fostes
constituídos, por divina misericórdia, na Sagrada Ordem, para conservar e
promover a glória de Deus; portanto, cuidai de cumprir o vosso ministério,
guardando-lhe a dignidade e o respeito.
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Vosso
modo de vestir, de andar, de vos comportar não se mostre jamais, em contraste
com a ordem que recebestes.
Contentai-vos
com mesa frugal e objetos modestos. Fugi do fausto, do luxo, da busca de
honras, da ambição e da vaidade. Observai escrupulosamente a temperança da vida
clerical.
Vosso modo de falar seja coerente com esta linha: nada de licencioso,
de frívolo, de indecoroso em vossas palavras.
Fortificai o vosso coração, para não
buscar coisas fúteis, passatempos mundanos, tolices.
Governai
os vossos sentidos, para que não se tornem escravos das paixões, porquanto Deus
no-los deu, como servos da razão.
O
vosso olhar seja simples e pudico; casto e prudente o vosso ouvido, casta a
mente, castos todos os sentidos, casto e espiritual o vosso modo de viver e de
comportar-vos.
Colocai-vos
em estado de defesa, para vos conservardes castos.
Não
vos embaraceis com negócios mundanos. Não sejais ávidos de dinheiro, de lucro.
Se
sois pobres, não aspireis vos tomardes ricos, senão quiserdes cair, em muitas
tentações e no laço do demônio.
Carregai
a vossa pobreza, sem vos aborrecer: A pobreza foi amada e ensinada pelo Mestre
celeste Jesus Cristo, colocado em uma manjedoura ao nascer e morreu nu, na
cruz.
Nada
falta para quem teme a Deus e invoca o seu santo nome: Tanto menos aos
Sacerdotes, religiosos e santos.
Distribuí
os ganhos eclesiásticos com os prediletos de Cristo: aos nobres, às viúvas, aos
doentes, aos peregrinos, a todos os indigentes e famintos. Se não lhes derdes o
sustento necessário, tornar-vos-eis réus de lesa caridade, diante do Senhor.
Todo
o tempo que sobra depois do culto divino, da meditação e da oração, das
ocupações sacerdotais, não o consumais no ócio e na vã curiosidade, mas como
homens chamados ao serviço do Senhor, meditai sua lei dia e noite.
Cultivai
com diligência o estudo das coisas sagradas, que deveis amar, pois quem as
despreza ouvirá do Senhor: “Assim como descuidaste a ciência, eu te recusarei,
não te quero, para meu sacerdote”.
Tende
a sagrada Escritura, nas mãos, dia e noite. Consultai assiduamente os textos de
dogmática e de moral, de direito Canônico, os livros litúrgicos, a história da
Igreja, como também as obras dos Santos Padres.
Permanecei
todos, como diz São Jerônimo, em comunhão com a cátedra de Pedro, com o Sumo
Pontífice. Nós, como membros de um único - 180 -
corpo,
devemos obedecer ao augusto Chefe da Igreja, querer, pensar, sentir como ele,
como se desprovidos de uma vontade própria, pensássemos, falássemos, agíssemos
por meio dele.
Em
ponto de tamanha importância, é absolutamente necessário guardar-se de
sofismas, subtilezas, hesitações, interpretações arbitrárias, inconvenientes a
um sacerdote e são por si mesmas deserções. Longe de nós, coisas deste gênero!
Obedecendo a sua palavra, demonstramos uma disciplina sadia, na qual está a
força de toda instituição social.
Diante
de Deus e do povo, sede todos um só coração e uma só alma, com o Bispo, nunca
esquecendo a grave sentença de Sto. Inácio Mártir: “Aqueles que são de Deus e
de Cristo estão com o Bispo” e outra de São Cipriano: “Quem não estiver com o
Bispo, não está com a Igreja.”
Afastando
as discórdias, que o inimigo tenta semear, entre pastor e rebanho, conservai-vos
estreitamente unidos ao Pastor, que Deus vos deu, e com ele, pospondo qualquer
consideração humana, sede solidários em toda boa obra.
Seja
para vós sagrada, a autoridade do vosso Bispo.
Tende
por certo que o ministério sacerdotal, se não for exercitado sob o magistério
do Bispo, não será santo, nem eficaz, nem profícuo.
Praticai
diligentemente a obediência. Vós a haveis prometido, solenemente ao Bispo.
Desde que vos tornastes sacerdotes, não pertenceis mais ao mundo, à família, a vós
mesmos, mas à Igreja.
Fugi
dos padres, qualquer que seja sua dignidade e inteligência, que não estão
sincera e abertamente, com o seu Bispo.
Vós,
párocos, olhai sempre para Cristo, Príncipe dos Pastores, como o modelo
preferido.
Como
precedeis em honra e dignidade, assim dai exemplo na virtude e no cumprimento
solícito dos vossos deveres.
Deveis
conhecer as vossas ovelhas, guiá-las e guardá-las. Compilai e conservai
rigorosamente, os registros paroquiais. Informai-vos, sobre a vida e os
costumes dos vossos paroquianos.
Vigiai
para que não se introduzam, no vosso povo superstições e não se difundam, impunemente, maus livros e jornais
anti-religiosos.
Individuai
os corruptores do povo. Preocupai-vos em afastá-los dos caminhos da corrupção,
por todos os meios que a caridade vos sugerir.
Tende cuidado dos pobres, das
viúvas, dos órfãos, de todos os carentes de ajuda. Socorrei-os, com conselhos,
com conforto e com ajuda. Se não tendes, vós mesmos, a possibilidade, exortai
ardorosamente a outros, para que os ajudem.
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Sobretudo, nutri o povo, a vós
confiado, com a pregação da Palavra de Deus, com salutares admoestações, com a
administração dos sacramentos, com o exemplo e com a oração.
Catequizai
as crianças. Exortai os pais e as mães a acompanharem, eles mesmos, os filhos,
as filhas, e familiares ao catecismo.
Não
omitais, especialmente nos domingos e festas, durante a Missa, de explicar aos
fiéis o evangelho, ou outras leituras da Missa e de ilustrar o mistério
do santíssimo sacrifício, a fim de que, instruídos cuidadosamente, assistam
mais religiosamente. Ao menos aos domingos e festas solenes, catequizai, à
medida de suas capacidades, as populações a vós confiadas e nutri-as com
palavras de salvação.
Admoestai
freqüente e calorosamente, os pais a educarem religiosamente sua família, na
escola das virtudes cristãs. Convencei-os a terem em casa livros por vós
aprovados, lê-los, sobretudo aos domingos, e formarem a si mesmos e a família,
numa vida santa.
“Guardai o tesouro”. Refleti, que
isto é dito a cada um de vós, para colocardes todo pensamento e preocupação na
guarda de vosso rebanho, como um tesouro consignado à vossa fiel solicitude,
para que ele seja diligentemente guardado e preservado do mal.
Insisti,
oportuna e inoportunamente, com admoestações particulares, conselhos,
correções, reprovações, para chamar os pecadores ao caminho da salvação, com o
auxílio da graça divina.
Sede participantes de nossos
esforços e da nossa solicitude. mede operários da messe a nós confiada. Trabalhai
e combatei conosco, para que possamos, com o auxilio da misericórdia divina,
recolher como bom trigo, o nosso povo, nos celeiros celestes.
Vós,
sacerdotes jovens, como coadjutores, ajudai os párocos, não presumais de exigir
deles mais do que o justo. Vivei na casa paroquial, como amigos fiéis, sem
revelar aos de fora aquilo que acontece ali. Nutri por vosso pároco reverência,
amor, obediência, acobertai, com piedade filial, seus eventuais defeitos.
Vós clérigos, rebentos de oliveiras, delícia do
pai, primeiro e mais doce pensamento do pastor, comportai-vos como requer o
estado eclesiástico. Sede clérigos, quer dizer, a herança do Senhor Deus mesmo
será a vossa herança: comportai-vos de modo a possuir Deus e de serdes por Ele,
possuídos.
Ponderai
quanto é necessário serdes dedicados aos vossos deres. Deveis brilhar pela
pureza de vida e de costumes. O Senhor os escolheu para que estejais diante
d’Ele e o sirvais. 24
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