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d) A CIÊNCIA DO CLERO
“A Igreja é
fundada sobre a fé, mas a ciência é necessária.”
Sem
dúvida, se nenhuma sociedade humana pode ser constituída e subsistir sem a
ciência, se não é possível exercer nenhuma atividade, na sociedade civil, sem
um conhecimento adequado, quanto mais a Igreja crescerá e aumentará em ciência
e os deveres eclesiásticos serão cumpridos a rigor e serão frutuosos. A Igreja
é fundada sobre a fé, mas a ciência é necessária para desenvolver e guardar a
fé; na ciência é desenvolvida, nutrida, defendida, fortificada aquela fé
salutar, que conduz às bem-aventuranças. A maior parte dos fiéis, segundo
afirma Santo Agostinho, não possui esta ciência, ainda que a possuam a fé
salutar.
A
ciência guarda a fé, como guarda a integridade dos costumes. Mas em nosso
tempo, os homens desprezam ou rechassam a ciência dos costumes e da fé; alguns
por ódio, outros para poderem entregar-se livremente, aos próprios vícios,
outros ainda, porque os sacerdotes não sabem exortá-los à sã doutrina e
enfrentar os contraditores. A necessidade da ciência aumenta para o sacerdote.
De fato, ele deve defender a doutrina da fé não só na cidade mas em todo lugar,
porque o inimigo semeou a cizânia do erro por toda a parte. Este é o dever do
sacerdote: guardar a fé e defender a integridade dos costumes. Mas como poderá
defendê-la e conservá-la se a ignora e não a compreende retamente?
A
ignorância e a negligência do sacerdote, para com a ciência, constituem um mal.
Quem não procura instruir-se, cairá no mal (Pr 17,26); o pastor ignorante será
escarnecido por aqueles que o circundam; e testemunhará a corrupção do povo e
não poderá colocar remédio. Que se pode esperar do ministério do sacerdote que
não possui a devida ciência? Qual será a sua fé nos atos do culto divino, a
direção segura no tribunal da penitência e a vigilância sobre o rebanho a ele
confiado? É o servo inútil, para o qual é reservada a pena merecida: será
jogado fora nas trevas, com mãos e pés atados.
Se
a Igreja, algumas vezes, sofreu dano pela deserção dos povos e pela corrupção
dos costumes, isto se deve atribuir, sobretudo, por causa da ignorância dos
seus ministros. 25
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“ Dois dons
completam o homem de Deus: a santidade e a ciência.”
Dois
dons completam o homem de Deus: a santidade, que o faz agradável a Deus, e a
ciência, com a qual instrui os fiéis (...).
Sem
a ciência, o sacerdote causa gravíssimos e irreparáveis danos à Igreja. Ela
experimenta cada dia e sempre mais, dolorosamente, quantos perigos encontra se o
pastor não encontra pastagens o guia ignora o caminho a percorrer, se o vigário
não conhece a vontade do Senhor (S. Bernard Declam).
Não
é suficiente que o sacerdote resplandeça só por santidade ou só pela doutrina.
Onde estão aqueles que afirmam ser suficiente ao sacerdote a inocência? (Hier
ad Fabiol.)
Não
é suficiente aos prelados comportarem-se bem e que sejam integros nos costumes,
se a isto não se acrescentar o conhecimento da doutrina (Grat. Test. 36, c. 2),
pois o comportamento correto um sacerdote, sem a palavra, pode manter os
santos, na santidade através do exemplo, mas não pode conduzir os errantes e os
ignorantes ao conhecimento da verdade (Chrys. hom. 10 in Math).
A
ciência sozinha é perigosa, se a vida for manchada por más obras. De fato só
resplandecer é vão; só arder é insuficiente: arder e resplandecer constituem a
perfeição. 26
“A
necessidade do estudo.”
Embora
ninguém negue a necessidade da ciência, poucos se aplicam, verdadeiramente, em
adquiri-la.
Existem
alguns que, antes de entrar no pastoreio das almas, dedicam-se com paixão ao
estudo; mas investidos pelo ministério, jogam fora os livros, convencidos de
ter aprendido o suficiente, para a necessidade do povo inculto, para o qual são
destinados. Desculpa vã, veneráveis irmãos. Ainda que na maior parte dos casos,
seja verdade que a ciência comum é suficiente, para questões ordinárias, com
freqüência se encontram dificuldades e complicações, das quais não é fácil
desembaraçar-se. Por isso imitem os médicos e os advogados mais diligentes que,
quando estão livres dos cuidados aos doentes, ou da defesa das causas,
dedicam-se à consulta dos livros de sua arte. Portanto, dediquem-se ao estudo
intenso, para oferecer uma solução conveniente às novas dificuldades que se
apresentam. Como os soldados manejam as armas, mesmo quando não existe o perigo
de uma invasão inimiga, assim os sacerdotes, se não quiserem manchar gravemente
sua - 184 -
consciência, nunca
deixem de usar os livros, que são as suas armas. 27
“A ciência
dos santos.”
A
ciência dos santos resume-se em três pontos:
1)
A ciência, à qual os sacerdotes
devem aplicar-se, é o conhecimento dos meios de perfeição. Para isto, aprendam
o método da oração e da meditação, dominem, perfeitamente, o método de exame de
consciência e dos exercícios de piedade;
2)
Dediquem-se ao estudo do que se
refere ao sacrifício da Missa, aos Sacramentos e à recitação do ofício Divino,
de modo a conhecer, segundo suas possibilidades, o significado dos ritos e das
cerimônias;
3)
A ciência que serve diretamente para
a direção das almas, isto é a Teologia dogmática, moral, ascética e mística.
Cada um deve ter consigo, um texto de autor aprovado, relativo a cada uma
destas matérias, e consultá-lo atentamente cada dia. Estas são as principais obras
que servem para aquisição da ciência para os nossos sacerdotes; recomendamo-las
calorosamente a todos e a cada um.
Porém, enquanto
recomendamos esta ciência, para o nosso clero, não condenamos a cultura
profana; uma vez assegurada a ciência eclesiástica, louvamos as outras. Subida
honra a classe eclesiástica, se algum membro seu luta para arrancar dos leigos
a palma também nas outras ciências. Deus é o Senhor das ciências e é necessário
reconduzir também a ciência profana, à obediência a Cristo. 28
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