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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • SEGUNDA PARTE       HOMEM DA IGREJA E PARA A IGREJA
    • 5.  O LEIGO
      • a) O SACERDÓCIO DOS FIEIS
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a) O SACERDÓCIO DOS FIEIS

 

“O homem intérprete e sacerdote do universo.”

 

             Se não somos o fim último das coisas criadas, certamente na ordem física, somos sua imediata finalidade, porque todas as coisas estão submetidas a nós, todas nos servem: “constituiu-o sobre toda obra de sua mão; tudo subsiste sob seus pés.”

             De fato, por que o sol difunde os raios inexauríveis de sua luz? Quem rouba à eletricidade as suas forças, destinando-a a percorrer determinados caminhos, a transformar-se em instrumento, de fração, de movimento, de vida nova?

           Quem leva um raio solar a transformar-se em mágico pintor das obras da natureza e da arte? Quem submete o ar e o vapor ao carro, para vencer na corrida, o vôo dos pássaros? Quem mede, com cálculo, a distância dos planetas, sua superfície, determina-lhe o peso, analisa sua substância? Que


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criatura perscruta os caminhos reluzentes dos astros? Por que Deus criou, com tanta magnificência os tesouros do firmamento, da terra e do mar?

             Todas estas maravilhas não se explicam, todas estas coisas não têm razão de existir, de se multiplicarem, de continuar a existir sem o homem.

             Na própria natureza e finalidade, elas revelam a necessidade do homem, na criação; sem ele talvez caíssem no primitivo nada. Nós somos o fim imediato, temporal, subordinado, de sua existência e duração.

             Portanto, o universo é para nós um grande livro, onde estão registrados os inumeráveis benefícios do Criador; devemos ler, nas coisas, a palavra do amor, da sabedoria, da Onipotência de Deus, que as tirou do nada, para nós e para nós as preserva, para que não voltem ao nada. Portanto, o homem tem a honra e o dever, por causa da impotência das outras criaturas, de se tornarem para elas, intérprete e sacerdote do universo, entoar na presença da natureza a ele submetida, o hino de glória e de reconhecimento ao Criador! 1

 

Cidadãos dos anos eternos.

 

A religião católica fez o homem conhecer a sua grandeza, revelando-lhe claramente o altíssimo fim para o qual foi criado; impôs-lhe outrossim, deveres proporcionais à sublimidade deste mesmo fim. O cristão não pode mais se restringir ao seu agir, entre os limites da razão e do tempo, sem esquecer a sua origem divina e o seu nobre destino.

          Cidadão dos anos eternos, ele deve abraçar com o pensamento, o imenso horizonte, que a revelação lhe abriu aos olhos, onde a terra é apenas um reflexo do céu, e a eternidade a sanção última das ações humanas. Considerados sob este aspecto (que é o único verdadeiro), os acontecimentos mais estrepitosos perdem toda sua importância, ou melhor, não têm outra importância senão a que lhes advém da Religião, entrelaçada por mil relações, em todas as coisas humanas. A ascensão e a queda dos impérios, as revoluções dos povos, o agitar-se e o perturbar-se das nações, não são senão, pequena nuvem de poeira na imensidão do espaço. Só a religião aparece como a única, verdadeiramente importante, e sua propagação e seu triunfo, como a suprema razão da providência divina, nos acontecimentos humanos.


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             Nada fica isolado neste grandioso desígnio. Um ser se liga ao outro, uma ação à outra; todos os indivíduos, como todas as nações têm a sua responsabilidade e a parte de trabalho, na perfeição do edifício. Cumprir esta tarefa é corresponder às intenções da Providência, entrelaçar, no tempo, a coroa eterna de justiça, que São Pauloentrevia em sua fronte, antes de morrer; deixá-la imperfeita, é abalar a ordem estabelecida por Deus, trair as suas expectativas; é agravar-se a culpabilidade, como aquele servo que enterra o talento, em vez de comerciá-lo. 2

 

Leigos, também vós deveis ser apóstolos.”

 

             Deveis ser apóstolos, também vós, ó irmãos, isto é, homens de ação e sacrifício, zelosos pela honra de Deus e da Igreja, pela salvação das almas. Podeis, vós, embora leigos, exercer, no pequeno mundo que vos circunda, o apostolado da palavra, usando uma linguagem que edifique, nas conversas, nas instruções, no corrigir. O apostolado do exemplo, professando abertamente, sem respeito humano, a vossa ! O apostolado da caridade, socorrendo os pobres, visitando os enfermos, consolando os aflitos, fazendo o bem a todos; o apostolado da civilização, cooperando na destruição do pecado, que torna miseráveis os povos e ao incremento da justiça que faz prosperar as nações! Sim! Nas extremas necessidades da pátria, todo cidadão é um soldado. Nas extremas necessidades da Igreja todo cristão deve ser um apóstolo, ardente e generoso. 3

 

“Também o leigo tem sua missão apostólica.”

 

             Não são também os leigos soldados de Cristo? Portanto, também eles devem pegar as armas, para sustentar e defender seu reino (...). A ação do clero tem limites que não conseguem ultrapassar, ou por deficiência dos meios, ou pela limitação de formas, bem como por razões de conveniência, ou por oposição que lhe é feita. O leigo pode encontrar-se lá onde o padre não pode ir. Freqüentemente, uma exortação sua é melhor acolhida que a que vem da boca do padre (...). Também o laicato tem o seu apostolado, a sua missão apostólica. 4

 

“Cada cristão nasce apóstolo.”

 

             É verdade que nem todos sois chamados como Apóstolos, a pregar o


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evangelho, mas sois todos obrigados, em proporção e conforme o vosso estado, a zelar pela causa da religião, defendê-la, promover-lhe a glória, já que todo cristão, escreve Tertuliano, nasce Apóstolo. Daí seu dever de impedir o crescimento do partido do erro, que se coloque em desolação, o campo do Divino Agricultor, que se façam cismas ou divisões e cresça aquela frieza mortal, pior que a morte, que impede a dedicação aos próprios deveres, à piedade, à palavra de Deus, à correção dos costumes, ao exercício das virtudes cristãs (...).

             Quem não sente necessidade de tomar parte no apostolado, para a defesa da verdade da Igreja, é sinal que não recebeu os dons do Espírito Santo, que não podem permanecer ociosos, quando entram em um coração. Ele é um Espírito ativo, fecundo, repleto de eficácia e de virtude e quem O possui dentro de si, de boa vontade fala de Deus e das coisas divinas, está cheio de zelo para instruir seus irmãos, nas verdades da doutrina cristã; está sempre pronto a morrer pela causa de Jesus Cristo e de sua Igreja. 5

 

“Não sois uma velhice que chega ao ocaso, mas uma juventude que nasce.”

 

             Pode parecer distante o tempo em que a sociedade transviada volte ao caminho reto, especialmente vós, ó bons leigos, a quem a apostasia sacial causa repugnância e horror; para quem o nome de Deus é nome de respeito e de afeto, vós podeis apressar a suspirada hora e dispor os ânimos dos vossos irmãos ao arrependimento, professando diante de todos, a vossa , gloriando-vos do caráter de cristãos, redobrando vossa operosidade e considerando uma honra poder servir ao Senhor, poder glorificá-lo nas vossas conversas, nos escritos, nos vários encontros da vida.

             Podeis muito, já que, como bem vos definiu um insigne publicista, não sois uma velhice que passa, mas uma juventude que nasce. Cabe-vos apropriar-vos da sociedade, refazê-la cristã, trabalhando com amplidão de idéias, com tenacidade de propósitos, a fim de que, o espírito católico penetre em toda parte e revista tudo o que é elemento da vida intelectual, moral e muitas vezes, também física do homem.

             Quantos ensinamentos, que por lamentáveis preconceitos tornam-se suspeitos nos lábios do clero e não fazem, ao contrário, profunda impressão no dos leigos! Quantas portas que permanecem fechadas diante do ministro de Deus, não se abrem, diante do homem do mundo, que poderia, querendo, levar consigo o inestimável tesouro da ! Quantas maneiras de se aproximar


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dos irmãos, esclarecê-los, falar dignamente de Jesus Cristo e de sua Igreja, se tiverdes relacionamentos diários indispensáveis, que raramente são oferecidos ao Padre. Que apostolado não poderia ser o vosso em meio a sociedade, e quão fecundo! 6

 

“Vós sois o sacerdote da casa.”

 

             A obra dos sacerdotes não poderia alcançar inteiramente a sua finalidade, se não fosse ajudada pelos pais. A vós portanto, ó pais, ó mães, a vós que lhes fazeis as vezes, ainda uma palavra. Os lábios dos pais, escreve São Gregório Magno, são os primeiros livros dos filhos. Sim, compete a vós educá-los, como ensina o Apóstolo, na disciplina e na instrução do Senhor, isto é, na sua santa lei e sua doutrina evangélica.

             Como desde o berço, os habituastes a respeitar-vos, a cumprimentar-vos, a acariciar-vos, a balbuciar com seus lábios infantis, o vosso nome; assim desde o berço, habituai-os a unir as mãos, para cumprimentar devotamente o Senhor; a pronunciarem com respeito o Santíssimo Nome, a invocá-lo, a adorá-lo em cada lugar e se unirem a Ele com laços da , da esperança e do amor (...).

              Não deixeis passar nenhuma ocasião, sem instilar em seus corações sentimentos nobres e elevados, para elevar-lhes a mente a pensamentos celestes. Vosso ensinamento se espalhe e quase se dilua em cada ação, o qual, não vestindo o severo aparato da cátedra, não produz aridez e não causa tédio.

              Sabe fazer-se entender e agradar, tanto ao lento como ao fácil espírito e comunicam por uma palavra, um sinal e até por um olhar e um sorriso e traz consigo o preceito unido ao estímulo para praticá-lo.

              A instrução religiosa é objeto de razão e de sentimento: a razão é da idade adulta, o sentimento é da infância: portanto a mãe, em quem predomina o sentimento, é também a educadora mais amável e mais poderosa. As lembranças da mãe, não se esquecem mais (...)

             O Mães, aproveitai-vos desta doce e sublime influência, com que o Criador vos cumula: aproveitai, para criar filhos dignos d’Ele e poder oferecer-lhes, cada dia, hóstias vivas e agradáveis. Vós sois o sacerdote da casa, como o sacerdote é a mãe da Igreja. todas as vossas delícias formar Jesus Cristo, no coração dos vossos filhos. Rafael se imortalizou, pintando sobre a tela, os traços de Nosso Senhor transfigurado. Mais feliz e maior é


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a mãe cristã, que faz de seus filhos imagens vivas do Filho de Deus. Mais que um famoso pintor, ela pode dizer: gota de eternidade, trabalho para a eternidade! 7

 

“Em cada fibra do corpo social fizeram penetrar o espírito de Jesus.”

 

             Esteja-vos diante o exemplo dos avós  (...). Eles deram o exemplo daquilo que devemos fazer também, a respeito da vida pública. Solícitos, como escreve um apologista, mais da justiça e santidade das leis, do que da forma política; persuadidos de que a religião, essencialmente superior aos partidos civis, deve ser servida por todos e não servir a ninguém; alheios à presunçosa arrogância que quer a seu sinal governar a Igreja e à prudência carnal que prodigaliza ao mundo concessões e simulações culpáveis, eles foram verdadeiros seguidores do Redentor, verdadeiros discípulos do evangelho, verdadeiros patriotas, fizeram penetrar, em cada fibra do corpo social, o espírito de Jesus Cristo e criaram as estupendas harmonias do mundo e da civilizacão cristã.

             Se aquele espírito, ó meus queridos, habitar realmente em vós, farão com que deis sinais de vida, que se traduzem em ação. Deve passar da vossa alma a outras almas, à vossa família, aos parentes, aos amigos, aos empregados, aos companheiros, aos condiscípulos, aos alunos, aos vossos concidadãos, a todo aquele grande ou pequeno mundo, que vos circunda. Este sacerdócio, este apostolado leigo, sempre foi um dever e uma glória e hoje é absoluta, suprema, urgente necessidade. 8

 

 




1. Na Inauguração do Templo do Carmelo em Placência, 17-2-1884 (AGS 3018/2). O pensamento de Scalabrini sobre “religiosospode-se colher na V Parte: “A vida religiosa”.



2. I Conferência anual dos Comitês paroquiais, 1882 (AOS 3018/18).



3. Panegírico a S. Colombano, 9-9-1894 (AGS 3017/4).



4. “O Catequista Católico”, 1901, V. 1, pp. 257-258.



5. Homilia de Pentecostes, 1876 (AGS 3016/6).



6. União, ação, oração. Placência, 1890, pp. 8-10.



7. Educação Cristo. Placência, 1889, pp. 31-33.



8. Carta Pastoral (...) pela Santa Quaresma do ano de 1893. Placência, pp. 21-23.






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