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b) A AÇÃO DO LEIGO
“A força
leiga na Igreja de Cristo.
A
ação do clero deve caminhar harmoniosamente unida à ação dos leigos (...). Contra a Igreja leiga de satanás, deve
se opor não somente a força sacerdotal, mas também a força leiga da Igreja de
Cristo. Às duas forças juntas, Deus reservou, em cada tempo, a vitória. As
portas do inferno, disse Ele, não prevalecerão jamais contra a minha Igreja.
Ora, a Igreja, no seu pleno significado, a Igreja, querida esposa do Nazareno,
a Igreja reino imortal do Deus vivo, a Igreja corpo místico de Jesus, não é
constituída - 195 -
só pelos
sacerdotes, nem só pelos Bispos, nem pelo Papa sozinho, mas pelos pastores,
juntamente com os fiéis, embora dependam uns dos outros. 9
“Sede
nossos mediadores.”
A Igreja, certamente, não perecerá pelas atuais
batalhas, como não pereceu por aquelas muito mais terríveis, há dezenove
séculos. Seria desconhecer a economia da Providência divina, abster-se de
cooperar, para o seu triunfo; porque isto é confiado ao sacerdócio (...).
Jesus
Cristo (...) poderia sem dúvida
defender e conservar sua Igreja, mas por sua grande condescendência, chama os
homens à honra de ser-lhe os cooperadores; chama não só o sacerdócio, mas
também o laicato; chama homens e mulheres, grandes e pequenos, ricos e pobres,
sábios e analfabetos.
Compreendei, portanto, a
nobreza e grandeza de vossa missão, é leigos, e procurai corresponder-lhe
dignamente (...). Sois nossos mediadores, como nós o somos,
em vosso favor, mediadores de Deus(...). Que aproveita lamentar com
intermináveis jeremiadas a decadência da fé, a corrupção dos costumes, a
desordem universal, se depois não queremos nos incomodar por nada, se nada
queremos fazer, para remediar, se no momento da luta, abandonamos o campo e
corremos, covardemente, a esconder-nos? E daí? não fomos todos assinalados na
fronte com o crisma da fortaleza, todos incorporados à milícia de Cristo? 10
“Todo homem
é apóstolo da verdade.”
Todos os meios lícitos para
influenciar esta sociedade, católica na sua maioria e que é governada por uma
minoria indiferente e anticristã, devem ser usados com coragem, constância e
disciplina por todos. Digo por todos, porque seria um gravíssimo erro acreditar
que a defesa da religião deve ser tarefa exclusiva do clero, enquanto é um
dever geral de todos os que a professam.
A Igreja é o Corpo Místico de
Cristo, é um corpo moral, composto de muitos membros, diversos uns dos outros,
mas todos unidos a formar um só corpo, com tal conformidade e distribuição, que
se beneficiam reciprocamente, e todos contribuem à vida, ao vigor, à santidade,
à conservação do mesmo corpo. A Igreja é formada pelo clero e pelos leigos; - 196 -
o clero não pode viver sem os
leigos, nem estes, sem o clero. Não! A religião não é patrimônio que beneficia
só o clero; ela existe para o bem de todos e portanto todos são responsáveis
pela sua defesa (...).
Não
existe idade, profissão, ou estado isento deste dever e nem excluído de seus
benefícios. Ao contrário, quando a religião se enfraquece, as consciências se
degradam e a liberdade se apaga, será talvez, perda só para o clero? Não é
também o laicato e toda a sociedade que sofrem os gravíssimos danos? Além disto,
uma fé com olhos indiferentes ao alastrar do mal, sem se comover e que no meio
das blasfêmias e dos escândalos, não encontra em seu zelo melhor expediente que
concentrar-se em si mesma, para não perecer, é fé que pode parecer boa aos
outros, mas eu, não sei dizer de que tipo ela seja. E além disso, a religião é
a verdade. O dever de todo homem que possui a verdade é de propagá-la, de
partilhá-la com quem não a conhece e defendê-la com todas as suas forças,
quando atacada. Neste sentido, todo homem é apóstolo da verdade, como todo
homem pode ser o mártir dela. 11
“Laicato e
Igreja, duas coisas indissoluvelmente irmãs.”
Belo
e consolador espetáculo temos diante de nós! Ao lado dos sagrados Pastores e
interpostos a uma elite de sacerdotes, nós vemos aqui uma multidão não menos
escolhida de leigos, todos animados do desejo do bem, todos inflamados de nobre
ardor, pela causa mais santa, que é a causa da Igreja (...).
Infelizmente,
hoje, entre o laicato e a Igreja, entre estas duas coisas indissoluvelmente
irmãs, procurou-se levantar um muro de divisões. Para melhor conseguir isto, o
que fizeram os seguidores do hodierno liberalismo? Descobriram a forma de
suscitar ódio à Igreja, pintando-a aos olhos do povo, com as cores mais
sombrias. Os nomes mais caros e mais santos foram por eles profanados e
reduzidos a significados abomináveis, exatamente para se voltarem contra ela. O
patriotismo, a liberdade, a dignidade humana, a ciência, a fraternidade, a
igualdade, o progresso (nomes que em seus lábios tem ares de ironia e destilam
sangue), foram usados contra as pessoas, as coisas e as instituições da Igreja.
Pois bem: conhecer, amar, obedecer esta Igreja, interessar-se pelas suas lutas
e pelos seus triunfos, propagar-lhe as doutrinas, ajudá-la nos ministérios,
tutelar-lhe os direitos, reparar-lhe os danos, confortá-la nas dores, eis
especialmente, em nossos dias, um dos maiores - 197 -
deveres
dos católicos, eis para onde se devem dirigir os esforços, todos unidos, do
clero e do laicato. 12
“Queremos
ser cristãos de verdade.”
Queremos
ser cristãos de verdade, cristãos de fé e de obras. Sacerdotes ou leigos,
cultos ou ignorantes, ricos ou pobres, queremos unir-nos em uma só família,
cada um, à sombra do nosso templo e todos, como um só coração e uma só alma,
oferecer ao Pai dos fiéis, ao Santo Vigário do Príncipe da Paz e da Justiça,
obedientes e dóceis executores de tudo o que ele quer e deseja, para o bem
inseparável da religião e da pátria.
Queremos estar unidos entre nós, como verdadeiros
irmãos, não só no templo, mas também fora do templo, para ajudar-nos e
confortar-nos reciprocamente, para zelar pela honra de Jesus Cristo e estender
o seu reino nas famílias, nas escolas, na administração pública, para nos
assegurar e gozar, sem arrogância, sem cobiça de dominar, o direito daquela
liberdade cristã, que deve ser igual para todos, e não o absurdo privilégio de
grupos sectários.
Queremos defender a pobre juventude
dos maus exemplos e das doutrinas perversas, dos maus hábitos e de toda ação
corruptora, para o conforto de suas famílias, para o bem e dignidade do país.
Queremos
a liberdade da Igreja, do nosso Chefe, do nosso culto, do trabalho, da
santificação das festas, do exercício dos nossos direitos mais sagrados, enfim a
liberdade dos filhos de Deus. 13
“Vastíssimo
é hoje o campo do laicato.”
Vastíssimo
é o campo do laicato, hoje. Promover, ajudar, difundir a boa imprensa; unir-se
em comitês e sociedades católicas e organizá-las; solicitar, sem tréguas a instrução
religiosa nas escolas e o repouso dominical; concorrer, até onde for lícito, ao
governo da causa pública, através da intervenção, nas eleições administrativas;
combater onde for necessário, com a palavra e com os fatos, a influência nociva
e deletéria da massonaria, que já se infiltrou em tudo: despeçam-se, quando
houver ocasião, os prepotentes, os vilões que nos municípios, ousam ofender os
sentimentos mais delicados de um povo, permitindo que a fé seja ultrajada e se
passe por cima dos - 198 -
direitos
sagrados, das tradições mais caras. Recolham-se os jovens, no desabrochar da
vida, nos Oratórios festivos e nas escolas cristãs, preservando-os assim da
corrupção do mundo. Ir ao encontro das necessidades do Pai comum, com a oferta
de amor filial; com a ajuda aos clérigos pobres, provendo o Santuário de novos
ministros; com instituições de crédito,
estirpe-se a usura indo ao encontro das necessidades, especialmente da classe
operária; reivindique-se, calmos, prudentes, por vias legais, mais fortes, corajosos,
sem titubear, a liberdade e a independência verdadeira e real do Sumo
Pontífice, nosso Chefe e nosso Pai, nos modos queridos por ele que é nosso
único juiz... são todas obras, uma mais necessária e meritória que a outra, que
servem para confundir os inimigos da fé, alimentar em nós a chama da caridade
divina e mostrar-nos verdadeiramente, o que devemos ser: filhos dignos da
Igreja de Jesus Cristo.14
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