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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • SEGUNDA PARTE       HOMEM DA IGREJA E PARA A IGREJA
    • 5.  O LEIGO
      • c) A CONFISSÃO DA FÉ
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c) A CONFISSÃO DA

 

“Eu não me envergonho do evangelho.”

 

             Nas coisas de religião, quer se trate de dogma ou moral, de preceito ou de conselhos, de leis de Deus ou da Igreja, de culto ou de hierarquia, do Papa, dos Bispos ou de sacerdócio, não só a nossa linguagem, mas a nossa vida deve ser como um grito, que diga à terra: eu não me envergonho do Evangelho. (...)

           É hora de professar e praticar abertamente a nossa . É hora de colocar mãos à obra vigorosa da regeneração cristã do povo, iludido e irritado pelas mentirosas promessas de quem, em lugar de bem-estar e de riqueza, não lhe deu senão humilhações e miséria. É hora de circundá-lo com a nossa caridade, em nome de Jesus Cristo, para que não abra os ouvidos a doutrinas enganosas e a promessas ainda mais enganadoras. É hora de alinhar-se compactos, em torno de nosso Chefe Supremo, o Vigário de Jesus Cristo. 15

 

“O martírio não será para nós?”

 

          O martírio talvez não seja para nós? O Espírito Santo diz a cada um, nas divinas Escrituras: agoniza por tua alma e combate pela justiça até a


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morte. Esta justiça é a verdade de Cristo, da qual os que se separam, pensam coisas injustas e tornando-se operadores de iniquidade, incorrem no ódio eterno de Deus (...).

             Por esta verdade é necessário combater incansavelmente até a agonia e morte. E a hora desta agonia, cedo ou tarde, soará para todos nesta vida. Diz um Doutor que a assídua luta do espírito com a carne, a dor de uma alma que é, às vezes, presa à terra como escrava, rejeitada como indigna pelo céu, outra coisa não é que agonia e martírio; é ter a coragem das próprias convicções, levar uma vida cristã diante de um mundo que ridiculariza, porque não tem a coragem de crer; é um aproximar-se do martírio. 16

 

“Temos que tomar abertamente partido de Deus.”

 

             Muitos se conservam católicos, mas por pusilanimidade mantém oculta a sua . Não nos condenemos ao silêncio, quando se blasfema contra o Nome três vezes santo de Deus e se zomba do nosso Pai comum, o Romano Pontífice. Não sejamos daqueles catôlicos, dos quais escrevia o profundo Pascal: indecisos por timidez, indulgentes por cálculo, não saberíamos bem o que pensam.

             É chegado o tempo das grandes afirmações. Não somos nós, os filhos dos heróis e dos mártires? Não somos nós, os herdeiros daquela que resistia aos tiranos e aos velhacos? Não professamos a que venceu o mundo? Se esta ensina que aqui na terra estamos em contínua luta com os inimigos espirituais, não o estaremos com os inimigos da religião? Se o amor à religião deve armar-nos incansáveis em defesa dela, o primeiro e mais fácil ato de defesa é mostrar-nos sem temor e sem ostentação, com palavras e com fatos religiosos. 17

 

“A coragem do bem.”

 

             Soou a hora de mostrar aos filhos do século, que se proclamam livres, em que consiste a verdadeira liberdade. A vida do cristão é sempre um combate. Que será em nossos dias? Podemos iludir-nos quanto quisermos, mas a guerra tanto mais insidiosa e feroz, arde hoje em todas as partes do mundo, contra o catolicismo (...). Cabe a nós, filhos da verdadeira Igreja de Cristo, sustentar intrépidos este combate, preclaro e santo por excelência e


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manifestar aos olhos dos amigos e dos inimigos toda a força e o entusiasmo da coragem católica, a força e a coragem de um povo radiante em todo o esplendor da e da esperança cristã. A coragem para o mal, os maus a têm até ao cinismo e só aos bons a coragem do bem será falha? Terão eles para perder, e nós não para salvar-nos? Eles estão prontos a arruinar a juventude, e nós, para educá-la cristãmente seremos tímidos e medrosos? Eles renunciam a todo cuidado, pisando sobre os respeitáveis costumes, as leis, a consciência, a vontade de todo um povo. Nós, inundados pela luz divina de dezenove séculos, sustentados por tudo quanto de verdadeiro e de bom se recolhe na terra, nós abençoados e encorajados pelos céus, nós certos da coroa imortal, trepidaremos? (...). Sobretudo vós, ó jovens, cara esperança da Igreja e da pátria, não esqueçais nunca, que as lutas e os triunfos devem começar em vossos corações. O vosso coração é o primeiro campo no qual se originam, se preparam as grandes questões, os mais sagrados interesses da Igreja, família e sociedade civil (...). Não vos deixeis seduzir pela futilidade de um mundo que ri, porque não tem coragem para acreditar. Fugi dos apóstolos do erro, como fugireis à vista de uma cobra venenosa. Aprofundai com o estudo, os princípios da nossa santíssima religião, tende a ciência da , sede fiéis por convicção profunda e então nada poderão contra vós todas as seduções do século. Vencedores, vós mesmos erguereis sempre mais alta a bandeira da verdade cristã: Temei somente a Deus e sereis verdadeiramente livres. 18

 

Tende a energia das vossas convicções.”

 

             A energia, eis o que mais falta em nossos dias. A energia não é exatamente a firmeza, porque esta pode ser também uma força inerte: a energia não deve, igualmente confundir-se com a fidelidade e a constância, porque ela é causa, não efeito, destas duas virtudes. A energia não é pois violência, porque a violência se esgota num esforço passageiro e estéril. A energia é a força da alma e da vontade, mas uma força que resiste e progride, que sustenta todos os assaltos e vence todos os obstáculos: é uma virtude conquistadora. Em meio às mais ardentes lutas, ela se mantém nos limites precisos da verdade. Ela domina e dirige, com autoridade calma e soberana,, todas as faculdades da inteligência e todos os impulsos do coração. É a energia que cria os grandes empreendimentos (...).

             Tende também vós esta energia. Antes de tudo a energia das vossas convicções. Quando alguém tem atrás de si, dezenove séculos de luz, de


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de glória, de beneficência; quando alguém tem atrás de si, um exército invencível de apologistas e de doutores, a ciência e o gênio, a castidade e o sacrifício, os apóstolos, os mártires; quando ainda hoje, a Igreja replena a terra com tantas obras maravilhosas, oh, é bem justo falar e agir, com santa independência e com nobre altivez! Tem-se bem o direito de olhar de frente o erro, sem empalidecer!

             Tende energia contra as paixões. Também estas podem se tornar instrumentos eficazes de bem, se nós soubermos freá-las e orientá-las através da energia da vontade. Ë o raio que tudo arranca e destrói à sua passagem, e é o raio que, tornado dócil na mão da ciência, leva através do oceano o pensamento do homem, com a rapidez do relâmpago.

        Tendes energia e ardor? Vinde. O campo a percorrer é muito vasto. Leio o vosso programa, Senhores: organização dos católicos na Emília; ação católica, atos de religião e de culto, imprensa, escolas etc. Domina-vos a ambição? Endereçai-a à conquista de tudo o que é belo, bom e verdadeiro. Sim, existe uma ambição santa: é aquela que grita continuamente: mais alto! mais alto ainda! mais alto na fadiga, mais alto na virtude, mais alto no sacrifício, mais alto na influência regeneradora! mais alto! mais alto! alto! Tende a força do apóstolo, pois todo cristão deve ser apóstolo. Como possuir a verdade, vê-la, senti-la, amá-la, e não sentir a forte necessidade de difundi-la, de comunicá-la aos outros?

             Tende a energia que sabe resistir na hora da prova e do combate, exatamente, porque, todo cristão deve ser soldado (...). Combatei como fortes, mas sempre com caridade. Os adversários, direi como um insigne escritor moderno, embora malignos, pertencem ainda à arquitetura do bem e se Deus vibra golpes vigorosos eles se mudarão. Levai vossa mão ao santuário do coração: perpassai uma a uma, todas as fibras. Encontrareis também a fibra do amor. Tocaia-a com a cortesia, que é irmã da caridade; aquela fibra se moverá, e tereis conquistado uma alma imortal e curvado um novo coração ao cetro da verdade. A verdade cristã, recordai-o sempre, quer a seu serviço, não homens que matam, mas que salvam, não requer algozes, mas vítimas. Pensai que o apóstolo, descrevendo a armadura do soldado cristão, lhe a base, que ele chama de preparação do evangelho da paz. Na escola de Jesus Cristo, combater e vencer, é amar. Amor é triunfo; o ódio derrota. 19


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“O caráter que produz a firmeza e a coragem.”

 

             O maior valor de um homem, na sociedade civil, é o caráter, fruto de convicções profundas. O caráter produz a firmeza e a coragem em evidenciar a própria opinião, de fronte erguida e diante de quem quer que seja, quando necessário. Infelizmente, uma chaga terrível do nosso tempo é a falta deste caráter. Os homens freqüentemente não se entendem entre si, porque, verdadeiros camaleões, mudam de idéias, opiniões, linguagem, conforme as pessoas que se aproximam (...). É hora de acabar com as meias consciências e os medos covardes. Por que não usaremos também aqui, toda nossa liberdade? 20

 

“É tempo de sacudir-nos, é tempo de agir.”

 

             A nós, que por divina misericórdia, somos fiéis, é preciso ocupar-nos em salvar a sociedade e a pátria de maiores ruínas, tanto mais que também nós, digamo-lo francamente, não somos isentos de culpa. Por muito tempo, fomos fracos, incertos, quase medrosos, do olhar fosco e do andar orgulhoso dos audazes demolidores da , que devia ser-nos mais cara que a vida, e se não queimamos incenso a seus ídolos, escondemo-nos e os deixamos senhores para prejudicar e esvaziar as caixas.

             É tempo de sacudir-nos, é tempo de agir (...). Em tamanha atividade febril, quem se coloca à parte é um traidor, um covarde.

             O Evangelho está cheio de alegorias, de preceitos, de censuras, de anátemas contra a indolência dos preguiçosos e a esterilidade das almas ociosas, e nenhum vício é tão freqüente e tão desmedido como este.

             Que aproveita, direi a estes, soltar contínuos lamentos sobre os males que vos afligem, se depois nada fazeis para remediá-los? Favorece a uma só coisa: tornar mais destemidos os nossos inimigos, que nisto reconhecem a nossa pusilanimidade, a nossa fraqueza. Não sabeis que os fatos de uma época têm, quase sempre, suas raízes na época anterior; que a ordem dos fatos tem atrás de si a ordem das idéias, e que, por conseqüência, se quisermos um futuro melhor, devemos desde agora, prepará-lo? (...). Não é bondade, não é , mas presunção condenável esperar tudo dos milagres. O verdadeiro fiel acredita sim, em milagres, mas sabe muito bem que estes não são os meios ordinários, com os quais Deus governa o mundo. Acredita nos milagres, mas está bem persuadido de que estes, Deus não os realiza, nem

 

 

 

 


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Para satisfazer a curiosidade dos tolos, nem para premiar a inércia e a preguiça de ninguém. 21

 

“A sociedade cristã não afasta os Nicodemos,

mas quer o fogo de Pedro.”

 

             Os tímidos e os pusilânimes tornem-se robustos, pois a sociedade cristã não esmaga os fracos, mas tem necessidade de leões, não afasta os Nicodemos, mas quer o fogo de Pedro (...). Enfim, se todos os que são católicos por dentro, se mostrassem como tais, com os fatos, o bem começaria a chocar-se com o mal e os direitos da maior parte dos cidadãos seriam mais valorizados por quem os católicos se deixaram subjugar. Pois bem, seja esta a vossa tarefa: operar o bem, unida, franca e corajosamente. 22

 

 

 


 

 

 

 

 




15.           Encerramento da IV Reunião das Obras dos Congressos, 12-6-1897 (AGS 3018/18).



16.    No solene reconhecimento das relíquias dos Santos Antonino e Vitor. Placência, 1880, pp. 29-30.



17. Pela inauguração dos Comitês Diocesanos e Paroquiais, 18-4-1881 (AGS 3018/18).



18Discurso na festa de S. Antonino, 1893 (AGS 3017/5).



19.   Palavras por ocasião da II reunião dos Comitês Católicos, 24-4-1889 (AGS 3018/18).



20.   Como santificar a festa. Placência, 1904, p. 33.



21.           Abertura da IV Reunião Regional da Obra dos Congressos, 11-6-1897 (AGS 3018/18).



22.           Na inauguração dos Comites Diocesanos e Paroquiais, 18-4-1881 (AGS 3018/18).






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